Trabalhadores e administração em troca de acusações
CONFLITO LABORAL. ‘Braço-de-ferro’ entre trabalhadores do CFL e actual conselho de administração da empresa sem fim à vista. Há troca de acusações e funcionários a dizerem-se “perseguidos”.
Depois de terem levantado uma greve, em 2019, que durou mais de um mês, causando prejuízos avaliados em 32 milhões de kwanzas, os trabalhadores do Caminho-de-Ferro de Luanda (CFL) queixam-se de “perseguições” e “retaliações” por parte da administração liderada por Júlio Bango Joaquim, que resultou na expulsão dos responsáveis do Sindicato Independentes dos Ferroviários de Angola (Sifa).
O Valor Económico apurou que, depois da última greve, a 14 de Abril de 2019, vários elementos afectos ao extinto sindicato dos trabalhadores foram expulsos e os que permaneceram estão proibidos de falar aos órgãos de comunicação social, sob pena de serem “duramente sancionados”.
No entanto, mesmo antes da marcação da greve, o conselho de administração tinha considerado o sindicato ilegal. “Temos medo”, clama um dos trabalhadores, sentenciado que, após a greve, o CFL se “tornou um local de ‘caça’ onde quem expõe a sua inquietação é visto como alvo a ser abatido”. Outro funcionário endossa que, depois da extinção do sindicato, “até então o único refúgio para a resolução de problemas”, os trabalhadores começaram a “viver momentos de muito sufoco”. “Os nossos direitos são violados”, queixa-se .
O porta-voz do CFL, Augusto Osório, nega categoricamente as acusações dos trabalhadores e garante que “não há perseguições por parte de ninguém”. “Não há aqui retaliação a ninguém por prestar alguma declaração à imprensa e por reivindicar aquilo que pensa que é o seu direito”, refere. Osório acusa ainda membros do ex-sindicato do Sifa, pertencente à Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CG-Sila), de desviarem bens da empresa, motivo que terá provocado a expulsão de três trabalhadores. O porta-voz lembra que a greve “foi considerada ilegal pelo tribunal” e o “grupo que se auto denominava sindicato foi proibido de exercer actividade por estar ilegal”. “As pessoas que participaram na greve não foram penalizadas em decorrência da própria greve, há três pessoas que foram expulsas, porque estiveram envolvidas em desvios de bens da empresa”, reforça.
No entanto, Augusto Osório reconhece existirem trabalhadores a ganhar 40 mil kwanzas, mas avisa que não haverá reajuste salarial em função da situação pandémica. “O nível salarial é baixo e nos acordos não ficou o compromisso de se aumentarem os salários por incapacidade financeira, e com a questão da pandemia ainda pior”, afirmou.
Outra fonte, ligada ao sindicato extinto, garante serem “falsas” as acusações e que “servem de pretexto para explicar a falta de transparência e de liberdade de expressão” no CFL. No entanto, admite que o sindicato não tinha uma certidão de legalização, apesar de ter autorização do Ministério da Justiça, o que levaria à greve.
Por sua vez, o secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (Unta-CS), Manuel Viage, garante que a empresa dispõe de um sindicato que zela pelos direitos dos trabalhadores.
A empresa teve dois sindicatos, um afecto à Unta e outro ligado à CG-Sila. Uma fonte da empresa garante que grande parte dos trabalhadores do CFL fazia parte da organização ligada à CG-Sila e critica a Unta por se revelar, desde o início, “um sindicato que defende os interesses da entidade patronal”. “Os seus responsáveis estão em conluio com o actual conselho administrativo”, acusa.
JLo do lado errado da história