ANGOLA GROWING
CASO JÁ CHEGOU À BARRA DO TRIBUNAL

Quenia Airways ‘afunda’ parceria com representante angolano

AVIAÇÃO. Quenianos cobram factura de seis milhões de dólares ao parceiro angolano que, no entanto, nega liquidar os valores por suspeitar que a empresa-mãe participa de um esquema de contrafacção de bilhetes de passagem.

A Quenia Airways e o grupo angolano Belchix, representante legal da companhia em Angola, estão em rota de colisão, na sequência de desentendimentos que terão sido originados por actos fraudulentos, registados no processo de emissão de bilhetes de passagem para serem comercializados em solo nacional.

Segundo fonte do VALOR, ligada ao grupo angolano, a relação entre os dois parceiros, que iniciou em 2010, terá começado a ‘azedar’ há sensivelmente um ano, quando a direcção da Belchix “notou que havia incongruências nas facturas emitidas pela Quenia Airways para efectuar as cobranças, sendo que, na maior parte dos casos, o valor cobrado superava, de longe, o grosso dos bilhetes comercializados”.

Nessa altura, a direcção da Belchix, após instaurar um processo de auditoria interna, teria descoberto que, a nível da empresa, havia uma rede de ‘falsificadores’ que adulteravam os preços dos bilhetes, comercializando-os a um preço abaixo do valor real da tarifa.

A ‘tramoia’, segundo a nossa fonte, teria sido levado ao conhecimento das mais altas instâncias da Quenia Airways que, apesar de terem prometido tomar medidas ‘drásticas’, nunca chegaram a mover qualquer acção para alterar o quadro.

O posicionamento da direcção da companhia deixou os angolanos “perplexos”, tendo-os levado a desconfiar que os actos praticados pela “rede de falsificadores de bilhetes”, teria a conivência de quadros de topo da companhia aérea queniana, suspeita que se agravou depois de surgirem, no mercado nacional, agências de viagens a comercializar os bilhetes da Quenia Airways, sem o conhecimento do representante legal em Angola, e igualmente a preços abaixo da tarifa normal.

A ‘falcatrua’ terá acarretado enormes prejuízos à empresa angolana, sendo que, segundo a fonte que vimos citando, há mais de um ano que tem as suas portas encerradas, como resultado de desentendimentos com a direcção da Quenia Airways que, no entanto, cobra uma dívida de seis milhões de dólares aos angolanos, pelos bilhetes comercializados em 2015. Em face da situação, a Belchix decidiu levar o caso a tribunal, estando os trâmites do processo a decorrer, segundo a fonte.

INVESTIGAÇÃO TAMBÉM NO QUÉNIA

Os casos de contrafacção de bilhetes de passagem, a nível da transportadora Kenya Airways, não são novos. O mais recente episódio foi noticiado pelo jornal queniano ‘The Standard’, na sua edição de 2 de Outubro, dando conta que a companhia em causa “pode ter perdido mais de 60 mil milhões de xelins (cerca de 592,6 milhões de dólares) num período de quatro anos devido a bilhetes subfacturados”.

O jornal, que cita um relatório de auditoria elaborado pela Deloitte Consulting Limited, refere que o prejuízo terá decorrido da venda de cerca de sete milhões de bilhetes comercializados a baixo da tarifa normal, entre 2012 e 2015, e que as 10 principais rotas da companhia (em que não se inclui Angola) representaram perdas na ordem dos 12 mil milhões de xelins (118,5 milhões de dólares).

A auditoria terá ainda identificado enormes prejuízos a nível dos serviços de carga. O Jornal ‘The Standard’ fala em cerca de 2,2 mil milhões de xelins (19,7 milhões de dólares) que se terão perdido, num prazo de seis meses, devido ao que denominou “um esquema bem orquestrado de facturação incorrecta e subsídios de excessos de bagagem”.

As discrepâncias nas contas da companhia aérea queniana, segundo a imprensa local, terão levado as autoridades daquele país, nomeadamente o Parlamento, a abrir um processo judicial contra o actual conselho de administração da empresa.