Recado aos activistas do Presidente
O conceito de bipolarização na política nem sempre reúne consensos na sua interpretação. Apesar da sua aparente obviedade, vale para o bem e para o mal. Lula da Silva costuma afirmar várias vezes que a bipolarização não é necessariamente má. O mais importante é que a democracia seja efectivada e as suas instituições respeitadas nos limites constitucionais.
Partindo da observação das suas próprias disputas internas, o Presidente brasileiro olha para realidades bipolarizadas de democracias consolidadas, como é o caso dos Estados Unidos, para defender a sua tese. Nos Estados Unidos, não raras vezes, as eleições repartem o país ao meio e põem democratas e republicanos em pé de guerra. Mas, no fim de contas, em algum momento, os mecanismos de protecção da democracia afirmam-se, as instituições impõem-se e o radicalismo é confinado na sua pequenez. Pelo menos no que à influência à perturbação do funcionamento das instituições diz respeito. Trump e Bolsonaro desfrutaram o tempo que tiveram, mas os Estados Unidos e o Brasil reencontram-se nos seus mecanismos de protecção, ainda que a bipolarização permaneça viva sob todas as suas formas. No meio de tudo isso, com maior ou menor dificuldade, a sociedade civil também conserva sempre a sua esfera de actuação. Entre nós, por alegadas razões exclusivamente históricas, a bipolarização é confundida com uma prática de radicalização política que não deixa espaço para a realização única da cidadania. A bipolarização, por cá, significa a ausência da sociedade civil, porque a contestação e a crítica são interpretadas como exercícios de partidarismo associados necessariamente à Oposição.
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