Receita petrolífera representa apenas 40% do total importado pela China
PETRÓLEO. Exportação do crude angolano para o ‘gigante asiático’ valeu, em 2017, mais de 19 mil milhões de dólares, mais do que o dobro das receitas anunciadas pelas autoridades nacionais, com a exportação de petróleo em todo o ano passado.
A receita angolana com a exportação de petróleo para a China aumentou 41,6% em 2017, para 19,4 mil milhões de dólares face aos 13,7 mil milhões de dólares alcançados no ano anterior, indicam dados estatísticos da Administração Geral de Alfândega da China, divulgados no final de Janeiro, a que o VE teve acesso.
Os números divulgados pela China representam, entretanto, mais do que o dobro do total das receitas fiscais do petróleo declaradas pelo Ministério das Finanças para todo o ano de 2017.
Como publicado no site oficial das Finanças, as receitas petrolíferas consolidadas, em 2017, fixaram-se na ordem dos 1,6 biliões de kwanzas, o equivalente a pouco mais de 7,6 mil milhões de dólares, ou seja, cerca de 40% dos 19,4 mil milhões de dólares divulgados pelas autoridades chinesas.
Esse diferencial, segundo diversos especialistas, poderá dever-se sobretudo a duas situações distintas, uma das quais relacionada com os contratos de partilha de produção “em que nem toda a receita gerada é contabilizada pelas autoridades nacionais, sendo que uma parte desse valor é revertida a favor dos grupos empreiteiros que operam os campos petrolíferos”.
Um outro cenário, segundo ainda os analistas, poderá ter que ver também com o serviço da dívida pública que Angola tem para com a China, que é pago via carregamento de petróleo.
O VE contactou o Ministério das Finanças, através da sua direcção de comunicação institucional, mas não obteve qualquer resposta até ao fecho desta edição.
Os dados oficiais disponíveis indicam ainda que, entre Janeiro e Dezembro, Angola exportou 595.604.870 barris de crude, cerca de 70 milhões de barris abaixo do estimado no Orçamento Geral do Estado (OGE) de 2017.
Do total de crude importado, no ano passado, pelo ‘gigante asiático’, estimado em 160,7 mil milhões de dólares, Angola ocupa uma posição de pouco mais de 12%, abaixo das cifras atingidas pelas exportações de crude da Rússia e da Arábia Saudita, para o mesmo destino.
Em 2017, só as exportações da Rússia ficaram avaliadas em 23,5 mil milhões de dólares (14,6% do total), enquanto as da Arábia Saudita em cerca de 20,4 mil milhões de dólares, correspondente a cerca de 12,6% do total.
A venda de petróleo de Angola à China aumentou 22%, ainda no primeiro semestre do ano passado, para 27,1 mil toneladas métricas, tornando-se, na altura, o segundo maior fornecedor chinês, a seguir à Rússia, com 29,2 mil.
De acordo com dados oficiais, a China manteve a liderança no destino das exportações petrolíferas angolanas em 2016, tendo comprado directamente à Sonangol mais de 127,8 milhões de barris de petróleo bruto, seguida da Índia, que comprou 9,8% de todo o crude da concessionária estatal.
Na altura, segundo ainda os dados da Sonangol, Portugal importou 2,9% do petróleo bruto angolano e a França 1,3%, seguindo-se países como Espanha e Itália, ambos com 0,5% do total. EXPORTAÇÕES
AFRICANAS AUMENTAM
No total, as exportações africanas para a China – onde se inclui também o sector petrolífero - ficaram avaliadas em cerca de 75,2 mil milhões de dólares, traduzindo-se num aumento de 32,4% em relação ao ano anterior, em que estes registos se fixaram em pouco mais de 56,8 mil milhões de dólares.
Além do petróleo, os dados da Administração Geral de Alfândega da China não especificam as mercadorias africanas exportadas, mas destacam que Angola conseguiu arrecadar, por via desse processo, mais de 20,3 mil milhões de dólares, sendo superada apenas pela África do Sul que atingiu o montante de 24,3 mil milhões de dólares.
A Nigéria, que, segundo a OPEP, está na liderança entre os produtores africanos, melhorou a sua cifra de exportações para a China, mas com a ajuda sobretudo de outras mercadorias, no entanto não especificadas, que não o petróleo, tendo aumentado as suas receitas, por via desse processo, para 1,6 mil milhões de dólares, contra os 906 milhões do ano anterior.
Do lado oposto, a importação de produtos chineses por países africanos valeram ao ‘gigante asiático’ em 2017 cerca de 94,7 mil milhões de dólares, no total. Neste particular, a África do Sul destacou-se mais uma vez ao garantir receitas na ordem dos 14,8 mil milhões de dólares à economia chinesa, seguida da Nigéria, com 12 mil milhões de dólares.
Desta lista, Angola surge apenas em décimo lugar, tendo garantido à China, em 2017, receitas calculadas em 2,2 mil milhões de dólares.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...