INDISPONIBILIDADE DE CAMBIAIS E QUEBRA NA CONSTRUÇÃO ENTRE AS CAUSAS

Receitas da Maersk Line recuam mais de 18% no segundo semestre

TRANSPORTES MARÍTIMOS. Gigante mundial da transportação ?de contentores reduziu destinos para o país. Empresa anuncia ano de acentuada quebra nos negócios em Angola.

As receitas conjuntas da Maersk Line, em Angola e América do Sul, recuaram, no segundo semestre deste ano, cerca de 18,1%, para os 900 milhões de dólares, face ao período homólogo em que os resultados atingiram 1,1 mil milhões de dólares, apurou o VALOR de fonte da empresa.

No mesmo sentido, seguiram as taxas médias de frete das mercadorias contentorizadas importadas que, nos últimos seis meses do ano, registaram uma queda de 40%, face ao mesmo período de 2015.

O Conselho Nacional de Carregadores (CNC) já havia antecipado, em relatório, que as importações, por via marítima, mantiveram a tendência decrescente no terceiro trimestre do ano, depois do recuo de 41% registado entre Abril e Junho de 2016, em relação ao mesmo período do ano passado.

O crescimento ténue do comércio angolano em 2016, ano em que a companhia diz ter registado indicadores aquém das expectativas, é justificado pelo CNC com a indisponibilidade cambial por parte dos empresários angolanos. O abrandamento do sector imobiliário e o desinvestimento do Governo no sector da construção estão também na base da queda dos fretes da Maersk Line em Angola, quando a administração previa uma ligeira expansão da sua actividade no país, com o ligeiro crescimento que projectava, sobretudo no comércio e na transportação de contentores com destino para o território angolano.

O comércio com a China continua, mas também houve uma quebra acentuada nas importações, por parte de Angola. Portugal, que, nos últimos anos, foi o grande mercado exportador, perdeu a solidez nas suas vendas para Angola e os atrasados com os expatriados ainda estão a influenciar o desempenho da Maersk Line. No que diz respeito aos destinos, Cabinda é o maior mercado da transportadora, enquanto Lobito e Namibe tiveram uma participação reduzida nas contas deste ano da empresa.

Para 2017, a empresa perspectiva algum crescimento no comércio marítimo, através de contentores, “uma vez que Angola está a passar por uma mudança estrutural e económica decorrente da escassez de cambiais”.

A multinacional, que aponta o mercado sul-americano como a alternativa, tendo em vista as exportações da Europa, Ásia, Médio Oriente e África, admite que foi obrigada a reduzir a mão-de-obra estrangeira.

OS NÚMEROS DO CNC

O Conselho Nacional de Carregadores indica, em dados divulgados recentemente, que, no segundo semestre de 2016, a Maersk Line mostrou uma “relativa queda”, com menos 80 mil toneladas (44%) em relação ao segundo semestre de 2015.

O CNC certificou, no mesmo período, um milhão de toneladas de produtos diversos, desembarcadas nos diferentes portos do país, contra as 1,9 milhão no período homólogo.

O destaque continua a ser o clinker, material mais importado (196.476,33 toneladas) e com os valores mais acentuados, mas registou uma queda de 13,27% em relação ao mesmo período do ano passado.

A liderança das importações pertenceu à Nova Cimangola, com um total de 151.637,48 toneladas, um aumento de 3,24% face ao mesmo período de 2015. Com 85.533,43 toneladas e um aumento na importação de até 109,70%, a Cimenfort Industrial ocupou a posição imediata.

A Angoalissar, que apresenta uma tendência decrescente no volume das importações de 73,17%, com menos 74.783,48 toneladas do que no mesmo período do ano passado, quedou-se na terceira posição.

Entre os operadores marítimos, a Niledutch ocupou o topo do ranking. Durante o período em análise, a companhia transportou 179.745,95 toneladas, menos 108.902,73 que no período similar de 2015.

A CMA CGM sucede na componente peso, com o registo de 169.244,15 toneladas, um aumento de 93.598,55 (123,73%), e de 10.303,25 unidades mais de 81,64% de toneladas transportadas.

Com o final do ano a aproximar-se, os produtos alimentares apresentam uma tendência de estabilidade no volume global das importações. O arroz, segundo produto alimentar mais importado, estabilizou e a farinha de trigo também mantém esta tendência.