Reforçada vigilância aos empréstimos bancários
REGULAÇÃO. Modernização da Central de Informação e de Risco de Crédito vai permitir que as instituições de crédito avaliem, na hora e com maior rapidez, o perfil de cada cliente que solicita empréstimos. Objectivo é prevenir o crédito mal parado.
Os bancos e demais instituições de crédito passaram a contar, desde o início do mês, com uma versão “mais moderna” da Central de Informação e de Risco de Credito (CIRC). A nova plataforma vai permitir que as instituições financeiras tenham acesso ainformação mais detalhada sobre os perfis de cada cliente no acto de solicitação de crédito, soube o VALOR de várias fontes da banca.
Ao que este jornal apurou, a consulta dos bancos sobre o cadastro de clientes deixa de depender exclusivamente do Banco Nacional de Angola (BNA), passando a estar disponível na internet.
Para o administrador do Banco Angolano de Investimento (BAI), João Fonseca, a renovação da CIRC vai conferir, com facilidade, o acesso à informação e maior interacção entre os bancos. “A CIRC era de acesso difícil por isso é que foi renovada. A nova vai permitir consultar via web e tem outras melhorias”, disse ao VALOR, ao apontar as causas da modernização do sistema.
A Central de Risco de Crédito é uma base de dados criada e gerida pelo BNA, desde 2010, com informação prestada pelas instituições financeiras relativas a operações de crédito, responsabilidades potenciais e os seus riscos, sob qualquer modalidade, de que sejam beneficiárias particulares ou empresas. Um dos objectivos da CIRC é garantir a estabilidade financeira e prevenir riscos [de incumprimento] na concessão de crédito.
Um propósito que, para já, caminha em sentido inverso, se tidos em conta os últimos dados disponíveis sobre a evolução do crédito vencido no sistema bancário.
Até Dezembro de 2014, o crédito vencido – em situação de incumprimento – aumentou 41,6%, ao evoluir de 328,9 mil milhões Kwanzas para 465,7 mil milhões Kwanzas. A contribuir esteve o aumento considerável do nível de incumprimento de créditos concedidos pelo ex-Banco Espírito Santo (BESA).
Segundo outra fonte bancária, terá sido o crescimento acelerado do crédito malparado que forçou a renovação da CIRC, apontando o ‘dedo’ aos bancos como potenciais “culpados” pela situação.
“Se existe uma Central de Risco, com a função de apurar a idoneidade dos agentes económicos que solicitam empréstimos à banca, por que razão os rácios do malparado não param de crescer? É uma pergunta que o BNA tem de colocar aos bancos comerciais”, salienta a fonte, que pediu para não ser identificada.
MAIS CRÉDITO DE ‘RISCO’ A CLIENTES
Apesar do volume do mal parado, o número de solicitações de créditos nos bancos não pára de crescer. Há casos de uma única pessoa com vários compromissos em bancos diferentes, o que, na visão de alguns analistas, “pode sair caro” para as instituições de crédito. Mas há quem prefira distinguir os perfis dos clientes. O banqueiro Filipe Lemos entende que os limites de concessão de empréstimos estão associados às capacidades financeiras do cliente. “O cliente pode ter cinco a seis créditos, desde que a sua condição financeira e a respectiva taxa de esforço lhe permitam cumprir com as obrigações do banco”, defende o gestor. Filipe Lemos considera ainda que, com a [modernização da] CIRL, os bancos vão poder “minimizar os riscos com a sua carteira depósitos e melhor distribuir” o financiamento à economia, apesar de questionar o seu funcionamento, a olhar pelo elevado índice de crédito malparado. “A plataforma existe, mas, se estivesse a funcionar adequadamente, talvez não estaríamos a falar nestes termos, porque os níveis de crédito malparado têm aumentado nos últimos dias”, rematou o administrador do Banco Pungo Adongo.
Venâncio Mondlene acusa João Lourenço de temer reabertura do processo ‘dívidas ocultas’