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CASA DA CULTURA NJINGA A MBANDE APRESENTA ‘CANTARES DA RAINHA’

Resistir oferecendo cultura

CULTURA. A caminho do 3.º ano, a ‘Casa da Cultura Njinga a Mbande’ é uma instituição privada que visa proporcionar eventos culturais e artísticos. Lecciona fotografia, canto, informática e outros cursos que custam até seis mil kwanzas, destinados a todos os luandenses.

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Sob direcção de Patrícia Faria, a Casa da Cultura Njinga a Mbande (CCNM) é uma organização sem fins lucrativos, que funciona há dois anos, leccionando canto coral, violino, guitarra, percussão e piano, além de artes plásticas, fotografia e informática. Cada curso custa entre cinco e 6.500 kwanzas. Realiza também ‘workshops’ infantis de artes plásticas, dança, teatro, música e exposições. Os projectos da CCNM, embora sita no Rangel, expandem-se para todo o país.

A casa é gerida pela Fundação Obra Bela que também é mentora do projecto em parceria com o Centro Integrado de Formação Tecnológica (Cinfotec), que tem a patente dos cursos. De acordo com a directora “o orçamento é apertado”, e não “permite grandes voos”, mas a vontade de fazer acontecer e mudar o estado das coisas “é maior”. Por isso, não esconde a necessidade de ter mais parceiros, para que possam “fazer mais e melhor”, justificando que “a fundação não tem fôlego suficiente para que possa dar mais do que gostaria pelo projecto. O nosso estado amímico é muito grande.”

Todas as pessoas têm acesso aos eventos e formações, contrubuindo com uma comparticipação mínima. “Em nenhuma parte de Luanda, se pode assistir a um ‘show’ de Filipe Mukenga, Anabela Aya a menos de dois mil kwanzas e nós fazemos muito motivados pelo sentimento patriótico que, de facto, a cultura deve estar acessível a tudo e a todos e que a juventude e sociedade cresçam de forma saudável e harmoniosa, a cultura tem este papel”, reforça.

Sem condições de pagar ‘cachets’ altos, a casa mantém uma “sintonia” com os artistas, pois Patrícia Faria entende que o objecto social não permite ter fundos muito altos. No entanto, faz questão de pagar, porque defende que ao artista “não se deve negar a sua dignidade”.

Planos a meio gás

Alguns projectos não são concretizados por falta de apoio financeiro, o que, de alguma forma, condiciona, muitas vezes, as iniciativas culturais, lamenta Patrícia Faria.

Por exemplo, o projecto ‘Cantares da Rainha’, que pretendia fazer concertos intimistas, estava planeado para ser quinzenal, mas “não existe fôlego financeiro”. Um outro, que deveria organizar concursos de artes plásticas e poesia nas escolas, falhou. “Limita-nos bastante o facto de não termos quem possa ajudar nessa empreitada, porque é difícil convencer quem não tem sensibilidade para as artes”, lamenta Patrícia Faria, que, apesar disso, é optimista: “Tenho consciência de que poderemos convencer os principais actores sociais, os que podem financiar projectos deste género que vale a pena reflectir e apoiar.”

Projectos funcionais

A CCNM realiza, todos os domingos, sessões teatrais com entradas gratuitas. Este mês, deu início ao clube do livro infanto-juvenil, em que se propõe levar escritores a abordar a literatura e as artes, “propomo-nos trazer os espectáculos mensais o ‘Cantares da Rainha’, continuar a fazer o ‘workshop’ infantil de artes plásticas que é grátis”.

Ainda para este mês, Maya Cool será uma das atracções de ‘Cantares da Rainha’. Em Setembro, prevê realizar uma homenagem a Agostinho Neto. E, em Novembro, exposições sobre a Independência Nacional.

Patrícia Faria defende a necessidade de se terem “políticas de maior aproximação, para que mais pessoas adiram aos cursos”. “Ainda temos de ampliar o leque de actividades e beneficiar outras artes, como a dança. Existem outras modalidades que precisam de ser exploradas”. Patrícia Faria, que também é advogada e cantora, considera que há “um total desconhecimento daquilo que culturalmente nos identifica” e que “é preciso sairmos desse marasmo e tirarmos a sociedade dessa apatia cultural”.

A Casa da Cultura Njinga Mbande é uma instituição da Fundação Obra Bela, de carácter privado, com objectivo de utilidade social e comunitária e organiza eventos de culturais e artísticos. A radialista Patrícia Faria é a actual directora, que exerce o cargo há dez meses. Teve como primeira directora a escritora Kanguimbo Ananás. Fisicamente, é composta por uma oficina de artes, biblioteca, sala de convívio, anfiteatro, ginásio, salas de aulas, escritórios, casas de banho e cozinha.