Sapateiro: uma profissão com mercado
OFÍCIOS.Ser sapateiro é um modo de vida lucrativo, que chega a render 300 mil kwanzas mensais. Quem abraçou a profissão garante não temer a concorrência, porque há clientes para todos. O couro vem de Benguela e da Huíla, onde a pele de boi ou de vaca pode custar entre os 12 e os 15 mil kwanzas.
O sapateiro já não é apenas o profissional que conserta, fabrica e faz diversos trabalhos em calçado. Fazem outros acessórios como bolsas, carteiras, cintos. Na grande maioria, usa como matéria-prima o couro.
É comum os clientes levarem os calçados aos mestres para consertar. Com e sem formação na área, muitos sapateiros colam, remendam ou confeccionam calçados, sobretudo sandálias. Estão espalhados pelas ruas, becos, mercados e avenidas de Luanda. No passado, a profissão era dominada pelos mais velhos, acima dos 60 anos. Hoje a realidade é diferente. É a juventude que se destaca. A maior parte herdou a profissão de um parente mais próximo ou amigo. Semanalmente, estas pequenas sapatarias podem atender sete a dez clientes.
Um exemplo é o de Ângelo Fucula, 32 anos, na profissão há sete. Começou como jardineiro numa empresa estatal, mas aproveitou uma oportunidade e terminou um curso de formação de sapateiro. É portador de deficiência e não tem problemas em revelar os lucros. Por semana, consegue entre cinco e sete mil kwanzas e durante o mês arrecada, só com os consertos, de 20 a 45 mil kwanzas. Desde que aprendeu a profissão, Ângelo Fucula, com a 8.ª classe feita, garante viver apenas desta actividade e consegue sustentar a mulher e dois filhos. Além de consertar sapatos, também engraxa. Acorda às quatro horas e tem como local de trabalho o passeio do Instituto Médio Industrial, em frente ao Chamavo.
Não consegue identificar quem são os melhores clientes, mas tem, em maior número, as mulheres. Adquire o material de que precisa no mercado dos Kwanzas, no Cazenga. O jovem sapateiro faz poupanças para constituir uma sapataria com equipamentos modernos.
Com apenas 31 anos e oito de profissão, José Sebastião é um exemplo de como se cresce profissionalmente. Começou num cantinho na Avenida de Portugal e transferiu a oficina para o bairro da Kinanga, na Samba, há dois anos. Ainda hoje fica surpreendido com o número de clientes que procuram os seus serviços e, sem medo de errar, revela que, por mês, consegue arrecadar, com a venda de sandálias e consertos, cerca de 300 mil kwanzas.
Mestre José fica incomodado por não surgirem jovens interessados em aprender a profissão que aprendeu aos 12 anos. Entende que muitos “sentem vergonha” e consideram ser “uma profissão para velhos”.
Em companhia de quatro colegas, usando técnica associada à sabedoria, consegue fabricar sandálias, reduzir ou aumentar um sapato. Chega a ficar até altas horas da noite para acabar as encomendas. O material usado, como a sola seca e o couro, compra em Benguela, sobretudo nos criadores de gado a 15 mil kwanzas, enquanto os produtos para acabamentos vêm da África do Sul, Dubai e Namíbia. Garante não ter uma hora de descanso e, quando resolve parar, aparece sempre um cliente. Uma sandália pode custar entre quatro e cinco mil kwanzas.
Já Angelino Domingos, com alguma ironia, confessa não gostar de pôr as mãos dentro dos calçados e “sentir o chulé”, mas sublinha que “tudo requer sacrifício”. Com três anos de profissão, senta-se na cadeira e vai consertando sapatos, sandálias e sapatilhas. Com apenas 20 anos, aprendeu o ofício com os irmãos e com passar do tempo foi aperfeiçoando e hoje considera ser um bom profissional. Sustenta a esposa e um filho. Por mês consegue obter de 40 a 50 mil kwanzas.
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