PRODUTO ESTÁ EM FASE DE REESTRUTURAÇÃO

Seguro exclusivo para as centralidades contestado

SEGUROS. Moradores das centralidades consideram que a implementação do seguro multirrisco habitação, tornado obrigatório há dois anos, só beneficiará as seguradoras. Companhias defendem-se, destacando as valências do produto.

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Enquanto aguardam pela revisão do diploma que torna obrigatório para as centralidades o seguro multirrisco habitação, vários moradores dessas unidades, em Luanda, avisam que não vão subscrever o produto, por entenderem que o mesmo beneficiará somente as operadoras.

Aprovado pela Comissão para a Economia Real do Conselho de Ministros, em 2016, o regulamento é dirigido exclusivamente às centralidades, mas nunca chegou a ser aplicado, estando agora “em fase de reestruturação”, conforme antecipou ao VALOR a secretária de Estado do Ordenamento do Território, Ângela Mingas, durante a 34.ª edição da Feira Internacional de Luanda. Além de verem vantagens apenas para as operadoras, os moradores justificam o protesto contra o seguro, por considerarem que já acarretam vários custos, como a água e a energia eléctrica, além do arrendamento, que os deixam sem “capacidade financeira”.

Residente no Kilamba, Afonso José diz não ter dinheiro “para nada mais”, avisa que não vai subscrever a apólice e considera uma medida “irracional” a exclusividade do seguro às centralidades. O raciocínio é partilhado por Miguel da Silva, morador da Vida Pacífica, que, ao contabilizar as despesas mensais, não encontra trocos para as seguradoras. “Querem que tire mais dinheiro para dar às seguradoras?”, questiona, no que é contrariado pelo coordenador da Sol Seguros.

Para Bernardo Paulo, os habitantes das centralidades “estão a perceber de forma errada” o objectivo do seguro multirrisco habitação, considerando “certa” a decisão do Governo, tomada há dois anos. O gestor explica que o produto está isento de período de carência, dado que é válido logo após às zero horas do dia seguinte da subscrição, o que significa que “os clientes não estarão a oferecer dinheiro às seguradoras, mas a transferir os seus riscos às companhias”, que terão a obrigação de assumir os danos decorrentes dos sinistros, inclusive os causados a residências vizinhas.

“O seguro multirrisco é muito importante na protecção do património das famílias e das empresas. E é bom que tenhamos a envolvência do risco de perder um bem ou património e não termos a capacidade financeira para poder recuperar”, alerta Bernardo Paulo, que dá exemplo de “podermos sofrer sinistros avaliados em 30 mil dólares e reaver o que perdemos por um prémio insignificante”, pago semestral ou anualmente a uma operadora.

COMO FUNCIONA

Até ao momento, não existe uma taxa fixa para a assinatura da apólice multirrisco por qualquer interessado. Na análise de risco, as companhias observam diferentes factores, como o agregado familiar, o tipo de construção, a cobertura e a localização. A Sol Seguros, por exemplo, inclui a proximidade do imóvel ao mar, factor que eleva o nível de risco, face às probabilidades de inundação, e não deixa de parte o ano da construção. “Se uma residência foi feita em 2000 custa muito menos do que o construído em 1983, por exemplo”, esclarece Bernardo Paulo.

Fátima Monteiro, presidente do conselho executivo do BIC Seguros, partilha da visão de Bernardo Paulo, e incentiva as pessoas a subscreverem o segmento. “Muita gente comprou a casa com recurso ao crédito e outras com as suas poupanças, mas poderão não ter dinheiro para recuperá-la caso seja consumida por um incêndio. Porém, com um valor irrisório por ano, podem prevenir determinados tipos de situações que podem custar muito dinheiro e pelo qual não teriam capacidade”, observou. Para Ana Fortunato, presidente do conselho de administração (PCA) da Confiança Seguros, a sociedade “tem hoje muitos factores de risco, se comparada a períodos anteriores”. A gestora aponta o curto circuito, decorrente da energia eléctrica e a canalização do gás butano nalguns condomínios como alguns factores de risco, apelando para a cultura da subscrição ao ramo. “O seguro acaba por desempenhar um papel muito importante, pois, pela sua contratação, nos salvaguardamos de situações de sinistros. E quem tem a ganhar é o cidadão que, depois de um sinistro de grandes proporções, não perde nada, porque a seguradora vai ressarcir os danos”, reiterou.

A Confiança oferece seguro multirrisco habitação, empresa e indústria. Segundo a sua responsável, os prémios são “baratos”, embora resultem da análise realizada ao imóvel. Sem clarificar quanto o multirrisco representa na carteira de negócios da empresa, Ana Fortunato, que prevê arrecadar 1,5 mil milhões de kwanzas, garante que a perspectiva da companhia é diversificar os produtos.

Segundo observadores, diferente de outras realidades, o segmento é ainda pouco procurado no país, sendo que representa apenas 1% do prémio emitido pela Sol Seguros, por exemplo.