Sem medo das decisões difíceis
CARREIRA. Entrou na Fiat, em 2003, tendo um ano depois sido indicado como CEO da empresa. Após dois anos no cargo, conseguiu transformar o prejuízo de seis mil milhões de euros em lucro. Este feito foi suficiente para que Sergio Marchionne se mantivesse no cargo nos últimos 14 anos, percurso interrompido pela morte, ocorrida na passada quarta-feira.
O dia 25 de Julho deste ano fica marcado na história do mundo automóvel. Morreu, aos 66 anos, o ítalo-canadiano Sergio Marchionne, que dirigiu, durante anos, o grupo Fiat Chrysler. Marchionne, que tinha cedido dias antes a liderança da Fiat Chrysler e da Ferrari a três sucessores, foi homenageado pela Câmara dos Deputados de Roma com um minuto de silêncio.
Nas últimas semanas, a Fiat Chrysler já vinha anunciando que o estado de saúde de Sergio Marchionne era preocupante, tendo piorado no antepassado sábado na sequência de “complicações inesperadas após uma operação”.
A morte do gestor, na passada quarta-feira, atrapalhou todo um plano do grupo, sendo que estava previsto que Marchionne deixasse o cargo ao longo de 2019 e na Ferrari em 2021.
Conhecido como o executivo que não tinha medo de tomar decisões difíceis, a era Marchionne começou em 2004, quando o executivo foi indicado como CEO da Fiat, que estava à beira da falência, poucos dias depois da morte de Umberto Agnelli, o filho mais novo da família proprietária da marca.“A Fiat irá conseguir, o conceito de equipa é a base sobre a qual criarei a nova organização. Prometo que irei trabalhar duro, sem polémicas e interesses políticos”, declarava Marchionne logo depois de ter tomado posse como CEO.
As capacidades de negociação do gestor ítalo-canadiano deram nas vistas aquando da ruptura da aliança com a General Motors (GM). O que aconteceu, a seguir, é classificado pela imprensa especializada “como uma obra de arte”.
Terá sido nessa altura que Sergio Marchionne convenceu os Agnelli a abrir mão da opção de venda à GM, que chegou a desembolsar 1,55 mil milhões de euros, montante de que a Fiat precisava muito, na altura, pela prioridade de compra.
“Quando se levanta, a conduta é muito importante. É preciso levantar da mesa fazendo valer um ponto de vista. Mas também é preciso deixar a entender que, no fim, acabará por abrir mão de algumas coisas”, explicou o gestor durante a apresentação da sua estratégia de negócios. Pouco tempo depois, as ideias de Sergio Marchionne começaram a dar resultados.
Em 2005, conseguiu lançar o Grande Punto, modelo que marcou a terceira geração da série. Neste mesmo ano, o grupo registou, pela primeira vez após cinco anos, lucro. Mas, para Marchionne, isso não era suficiente: “Não podemos nunca dizer: ‘As coisas vão bem’. Apenas: ‘As coisas não vão mal’. Devemos ser paranóicos. O percurso é dificílimo. Somos sobreviventes e a honra dos sobreviventes é sobreviver”.
Com a crise de 2008, e com o mercado automóvel em baixa, Marchionne aproveitou para aumentar a posição do grupo. Em 2009, adquiriu 20% do capital da Chrysler (falida um ano antes), quota que subiu para 53,5% em 2011 e 100% em 2014.
Tudo isso, devido a uma série de acordos rubricados directamente com os sindicatos dos trabalhadores e com o governo norte-americano.
“Com toda a sinceridade, não consigo ver meu futuro depois da Fiat. Não é a primeira empresa que reestruturei, mas é, sem dúvida, a que acredito que me permite exercitar todas as minhas capacidades. Temo não ter dentro de mim a energia para um outro ciclo dessa intensidade”, afirmava o gestor, citado pela imprensa italiana.
Nascido na Itália, Sergio Marchionne emigrou com a família para o Canadá aos 13 anos, onde estudou filosofia, economia e direito. Fez carreira como auditor e executivo de finanças. Substituí-lo no comando da Fiat não deverá ser tarefa fácil.
Aliás, terá sido por isso que, para exercer a tarefa que desempenhava, foram nomeados quatro gestores. Mike Manley, que coordenava a Jeep, uma das mais promissoras marcas da empresa, vai ser o novo CEO da Fiat Chrysler. Louis Camilleri, presidente do conselho de administração da Philip Morris, será o novo presidente da Ferrari. Suzanne Haywood, então directora da holding EXOR, da família Agnelli, assumirá a CNH. Enquanto isso, John Elkann, herdeiro da família, vai substituir Marchionne noutros cargos, como presidente do conselho de administração da Ferrari.
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