A FIBRA ESTÁ ‘FORA’ DOS PLANOS DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA

Sisal pode desaparecer de Angola

AGROINDÚSTRIA.O sisal é a fibra vegetal mais dura produzida no mundo, equivalendo a aproximadamente 70% da produção comercial de todas as fibras do género. Mas, em Angola, a produção corre sérios riscos.

O sisal, uma fibra conhecida por ser biodegradável ou seja ambientalmente saudável e que Angola já produziu e exportou em larga escala na era colonial, corre sérios riscos de desaparecer do ´mapa agrícola nacional´, face aos baixos níveis de produção que hoje apresenta.

Os dados oficiais não quantificam os actuais níveis de produção, mas indicam que decaíram significativamente depois dos anos 1970. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), actualmente apenas 3% da terra arável está cultivada, no país.

No entanto, o Ministério da Agricultura “não tenciona e nem tem projectos para relançar a produção de sisal”, como declarou, ao VALOR ECONÓMICO, o director nacional da agricultura e desenvolvimento rural, Adelino Rodrigues.

O responsável explicou que, por causa da introdução da fibra sintética, que é “muito mais barata e existe no mercado à disposição”, o sisal actualmente não tem muita saída. “A produção desta fibra natural não tem viabilidade económica neste momento, por ser um investimento de benefícios a médio e longo prazo e que exige muita mão-de-obra”, justificou.

O coordenador da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), na Ganda, em Benguela, Justino Figueiredo, pensa, no entanto, que o sisal é uma “cultura viável “e pode ser revitalizada na Ganda, assim como está a ser feita com o café, pelas condições “favoráveis” de produção do município. “É possível que se faça esse relançamento. Mas, para isso, deve-se realizar um estudo preliminar de viabilidade. E só depois a questão da transformação e da sustentabilidade, porque a cultura não é produto final. E, por outro lado, fazer com que os camponeses pratiquem a cultura com uma perspectiva virada para o mercado, identificando potenciais compradores”.

SÓ SERVE PARA VEDAÇÃO

Actualmente, na Ganda, o sisal só é produzido para vedação e delimitação dos espaços.

No final de Julho do ano passado, o governador de Benguela, Isaac dos Anjos, manifestou o desejo de relançar a produção na província, que já foi a maior produtora desta cultura em Angola, chegando a exportar cerca de 40 mil toneladas.

Angola é considerada, pela ONU, como o 16º país com maior potencial agrícola no mundo e com condições para a produção de sisal. O país era considerado um dos maiores produtores do mundo antes da independência. Nesta altura, Benguela comandava as exportações, seguindo-se o Huambo, Kwanza- Sul e Lunda-Norte.

Os principais compradores do sisal de angolano eram Portugal, Espanha, Estados Unidos, França, Holanda e Itália.

A fibra de sisal é conhecida por ser biodegradável ou seja ambientalmente saudável. Uma fibra sintética demora 150 anos para se decompor no solo, enquanto a fibra do sisal, em meses, torna-se um fertilizante natural.

USO DO SISAL

A fibra de sisal tem aplicação na indústria automóvel. É também usada como matéria-prima para a produção de remédios, biofertilizantes, ração animal, tapetes decorativos, produção de estofos, pasta para indústria de celulose, produção de tequila, fios, adubo orgânico, sacarias e cordas usadas para vários fins. O Brasil é o maior produtor do sisal do mundo, em que a Baía é responsável por 90% da produção. Seguindo-se o México, Tanzânia, Quénia, Uganda e Moçambique.