TATUADORES: OS ARTISTAS DA PELE

“Tatuar não é barato e é um bom negócio”

ARTES. Fazedores de tatuagem são dos poucos profissionais que admitem ter lucros. Negócio é tão rentável, que até a subida de preços e falta de divisas não constituem problemas. Apesar dos lucros, não descartam apoios e parcerias.

A tatuagem é uma arte antiga que, em Angola, começou a ser praticada como fonte de rendimento há pouco menos de 30 anos. Quem trabalha na área garante que é um trabalho “muito rentável”, tão rentável que “muita gente não imagina”.

Cerca de 90% do material usado para a tatuagem é importado de países como Portugal, EUA, Inglaterra, Espanha entre outros, como tintas, agulhas, máquinas de esterilizar, ‘piercings’. No mercado interno, procuram-se luvas, lenços de papel, álcool, gases e outros produtos mais disponíveis.

A maior parte dos tatuadores são artistas plásticos inscritos na União Nacional dos Artistas Plásticos (UNAP). Em Angola, não há formação direccionada, mas há grupos de tatuadores que realizam ‘workshops’ de um dia, dirigidos a principiantes que podem custar entre os 50 e os 70 mil kwanzas. Saber desenhar é uma condição primária.

As tatuagens não têm preços tabelados. O valor depende muito do tipo e estilo de letra quando se trata de nomes e de tamanho quando são desenhos. No salão ‘Star Hood Art-Tatuagem’, gerido por Mooizer, de 23 anos, no bairro da Sapu, em Luanda, a tatuagem mais barata, e logo a mais pequena, custa cerca de 12 mil kwanzas e o desenho mais simples pode custar a partir de 45 mil kwanzas.

Mooizer tinha um salão no condomínio Cajueiro, em Luanda, onde pagava pelo espaço 70 mil kwanzas mensais, mas teve de deixar o local. O jovem trabalha actualmente em casa. Todo o seu rendimento provêm das tatuagens, que o ajudam também a pagar a universidade no curso de consultoria de artes plásticas. Para expansão do negócio também usa as redes sociais com o nome ‘Mooizer Tatuador Simão’. Mas não descarta a possibilidade de ter patrocínios ou parcerias para estar num local fixo e para a aquisição do material. Mooizer tem licença para trabalhar nesta arte que foi dada pela UNAP.

Anteriormente, recebia semanalmente perto dos 10 a 30 clientes, mas o número baixou para os 10 clientes. Fora do salão, o número de clientes diminuiu e viu-se obrigado a reduzir alguns preços, mas ainda assim, reconhece que o “negócio não deixou de ser rentável”. Mooizer trabalha com um manual de saúde para os primeiros socorros e tem acompanhado ‘workshops’ via internet.

FORMAÇÃO COMPENSA

Já Osvaldo Ferreira, de 35 anos, estudante de artes plásticas e mais conhecido por Cruell Tattu, está há mais de 15 anos nesta área e garante que a profissão de tatuador “é muito lucrativa” e que tudo o que ele tem é graças à tatuagem. A formação tem contribuído muito para a evolução e especialização. No estúdio ‘Cruell Tattu’, na Vila Alice, Osvaldo Ferreira trabalha com mais dois funcionários, e tem um rendimento mensal acima dos 200 mil kwanzas e paga perto de 100 mil de salários. Para ele, este é dos negócios “mais rentáveis”, mas recomenda sempre que se faça formação, principalmente em artes plásticas. “O mercado da tatuagem é bom e muito rentável a nível mundial, de tal modo que mesmo com a crise não se sente tanto.”

No atelier, em média, atende sete clientes por dia. Para desenhar um rosto simples, em três horas, pode custar 60 mil kwanzas. “Fazer tatuagem é muito caro, porque não temos material no nosso mercado e tudo o que utilizamos é importado, deste jeito não tem como reduzir os preços”. “Temos debatido com os ministérios a ideia de criar uma associação dos tatuadores e podermos beneficiar de descontos nos impostos.”

Fazer tatuagem é uma arte que é dominada por quem é amante de desenhos como é caso de Deolindo Manuel, de 29 anos. Com um atelier no bairro Prenda, o jovem partilha o espaço com um outro tatuador. Os dois trabalham de segunda a domingo das 8 às 20 horas. E em média podem receber mais de 20 clientes.

Para desenhar uma borboleta, por exemplo, um cliente pode pagar no mínimo cinco mil kwanzas. Paga o mesmo para um nome com letra normal e o custo de uma imagem ronda os 45 mil para cima. Os preços têm que ver muitas vezes com o tamanho e o tipo de desenho.