Taxistas encurtam rotas para contrariar queda na facturação
TRANSPORTES. Condutores de táxis acreditam ser os mais prejudicados com o estado de emergência e justificam as rotas curtas com as exigências dos patrões. Alto quadro do GPL avisa que prática é ilegal.
Muitos taxistas estão a encurtar as vias e a aumentar os preços das corridas para contrariar a queda na procura, face às restrições impostas no quadro do estado de emergência que vigora desde 27 de Março.
Ao VALOR, vários condutores de táxis defendem ser os “mais prejudicados” com as medidas adoptadas pelo Governo, justificando o encurtamento das vias e a especulação com alegadas exigências dos patrões, que insistem em receber um mínimo de 15 mil kwanzas por dia.
A tarifa oficial dos transportes de aluguer colectivo de passageiros, vulgarmente conhecidos como ‘candongueiros’, é de 150 kwanzas, no máximo. O valor foi fixado pelo Instituto de Preços e Concorrência (Iprec) do Ministério das Finança (Minfin), tendo em conta a realidade do mercado.
Mas, contrários à determinação legal, os taxistas têm aumentado o preço da corrida sempre que entendam haver razões para isso. Em alguns casos, decidem em consenso com as autoridades ou unilateralmente subir a tarifa quando há aumento do preço dos combustíveis, mas há dias em que a tarifa dispara apenas por causa da chuva.
Por exemplo, em Luanda, no período anterior ao estado de emergência, para se deslocar do Cazenga para a zona do Quilómetro 30 e vice-versa, os utentes gastavam 300 kwanzas. Nos dias de hoje, essa corrida está a custar entre 500 e 600 kwanzas. Da mesma forma, do São Paulo ao Benfica, trajecto que custava 350 kwanzas subiu para 600 kwanzas.
Bruno Samoco, taxista há mais de 10 anos, a operar na via Cuca-Viana, responsabiliza os patrões, sublinhando que os proprietários das viaturas não “querem entender” que o Governo não só reduziu o número de passageiros, como também limitou o horário da actividade. “Antes do estado de emergência, eu dava ao patrão 19 mil kwanzas/dia, e hoje, mesmo com a actual situação, ele quer que lhe consiga dar pelo menos 15 mil kwanzas. Mas isso não é possível, já que houve a redução na lotação (número de passageiros)”, observa Bruno Samoco, que não encontra alternativa senão a de encurtar a rota e especular o preço, ante a ameaça do patrão em estacionar a viatura, caso o valor pretendido não seja alcançado.
Valdano Matias, também taxista, apresenta o mesmo argumento e diz compreender os patrões que queiram estacionar as viaturas nos casos em que os motoristas “não consigam apresentar mais de 14 mil kwanzas” por dia.
Para Matias, as medidas do estado de emergência forçaram os taxistas a facturar apenas 10 mil kwanzas/dia, o que “é impraticável”, dados os custos sobretudo com os combustíveis.
Também ao VALOR, um alto quadro do Governo Provincial de Luanda (GPL), que preferiu o anonimato, avisa que as alternativas encontradas pelos taxistas “são ilegais” e enquadram-se na prática de “enriquecimento sem causa”. E acrescenta que a luta contra essas práticas não pode ser apenas do GPL, apelando às associações de defesa dos consumidores para apoiarem o Estado contra “esses e outros males”.
Novas regras aumentam lotação
Diferente da primeira e da segunda fases do estado de emergência, a terceira etapa, iniciada desde domingo, 26, aumenta de cinco para sete o número de passageiros nos táxis, o que eleva para 50% a capacidade de lotação. Entre outras, os novos ajustes permitem aos taxistas trabalhar até às 18 horas, ao contrário das medidas anteriores que limitavam a actividade até às 15 horas.
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