“Temos uma grande debilidade relacionada com o acondicionamento”
ENTREVISTA. Assegurando que a questão das análises melhorou consideravelmente, nos últimos cinco anos, o técnico afecto ao laboratório do Ministério da Agricultura aponta como maiores fraquezas a questão do transporte, armazenamento e manuseio dos produtos.
A questão do controlo dos produtos é determinante para a segurança alimentar. Que percepção tem sobre o nível de controlo dos produtos que entram no país?
Hoje em dia, existe um maior controlo a nível dos fornecedores, os importadores têm maiores precauções em termos de solucionar os seus fornecedores. Nos últimos cinco e ou sete anos, a situação melhorou muito, mas agora é necessário percebermos que a questão da segurança alimentar é transversal, ou seja, envolve uma série de sectores. Nós temos laboratórios, apenas a componente analítica, depois temos relação com as entidades que vão tomar decisões no sentido de darem o destino aos produtos que são tidos como impróprios. Em função do maior controlo, temos vindo a registar uma redução drástica dos produtos impróprios. Temos, no entanto, uma grande debilidade interna que tem que ver com a questão do acomodar estas mercadorias. Temos muitos problemas ligados à questão do armazenamento, sobretudo para os produtos frescos. Temos problemas dos choques térmicos, os produtos requerem que sejam conservados a uma determinada temperatura mas depois há alterações.
E qual é a avaliação que faz do desempenho das demais entidades da cadeia?
O facto de os laboratórios darem como próprio à entrada não significa que depois ele não possa estar sujeito a outras contaminações. É preciso que outros intervenham, como é o caso do comércio, para fazer as inspecções sanitárias. É preciso elevar também a cultura do próprio consumidor, não estamos preocupados em adquirir os produtos por itens de qualidade. O desafio do país passa, agora, por implementar aquelas que são as boas práticas tanto para conservar como para manusear conforme acontece noutros países, estaríamos a falar da implantação dos HCCP onde se fazem os controlos dos riscos em todas as etapas a que o elemento está sujeito, desde a produção até à mesa do consumidor.
A produção nacional também tem estado a acompanhar esta evolução a que se referiu?
Esta é uma questão muito importante. Temos estado a ouvir, desde o mais alto nível, a falar-se sobre a necessidade de diversificar a economia o que passa muito pelo investimento a nível da agricultura. Temos estado a assistir a grandes incentivos que vão desde o acompanhamento dos produtores agrícolas, com o melhoramento dos solos, o fornecimento de sementes controladas e fertilizantes. Verificamos que a produção nacional tem estado a crescer. No entanto, é preciso crescer, mas acompanhado com a qualidade. Esta qualidade passa pela implementação das boas práticas de laboração em todas as etapas, como eu dizia, desde as sementes, melhoramento dos solos, água da rega e conservação dos produtos. Nós fazemos análises de legumes, frutas, farinha de milho que já têm sido exportadas. Estamos a caminhar, são alguns passos significativos, mas é um processo. Os desafios ainda são muitos, mas os passos estão a ser dados e já estamos a recolher alguns frutos porque alguns produtos já têm estado a ser exportados para países onde o controlo é maior. Se continuam a ser feitas estas exportações é porque estão dentro dos padrões e é também o nosso trabalho, enquanto parceiros destes produtores a ser reconhecido porque estes produtos, antes de exportados, são analisados cá.
E já têm registos de produtos nacionais impróprios para o consumo?
Prendem-se sobretudo com a questão do acondicionamento porque, em princípio, temos solos favoráveis. Se tivermos sementes seleccionadas e qualitativas, acrescidas ao solo que temos, não temos como os produtos não serem bons. A questão é a logística. É aqui onde temos de nos focalizar. Nesta perspectiva, ainda temos estado a pecar. Ou seja, o nosso problema está na questão das infra-estruturas, do escoamento, por exemplo. Sabemos que, muitas vezes, se produz muito mas há, depois, o problema de como fazer chegar aos consumidores por falta destas infra-estruturas.
Outra preocupação com a produção nacional tem que ver com o uso das sementes geneticamente melhoradas?
O acompanhamento que tem sido feito passa também por controlar as sementes e o tipo de fertilizante. Temos um instituto que trata desta questão das sementes, inclusive as geneticamente modificadas, o Instituto Fitogenético, que está agregado à Universidade Agostinho Neto. Mas as sementes geneticamente melhoradas são um processo normal porque também têm o seu valor nutricional. Mas é necessário olhar-se para os alimentos transgénicos com maior atenção porque estão mais associados aos problemas de saúde, sobretudo a doenças cancerígenas porque, muitas vezes, os produtores estão mais preocupados com o lucro.
Em termos gerais, o que se ouve de técnicos de laboratórios sugere a ideia de que está quase tudo bem. No entanto, volta e meia surgem notícias de produtos impróprios para o consumo no país.
Como disse, é uma questão transversal. Os laboratórios tratam do controlo por via das fronteiras, nem tudo passa via alfandegária. É preciso que se faça também alguma melhoria a nível das fronteiras. Outra questão é do contrabando. É preciso que os outros sectores afins também melhorem, mas não se pode descartar esta possibilidade de entrada de produtos. Todo o cuidado é pouco. O mínimo relaxamento, o produto entra. Importa frisarmos também que, quando o laboratório diz que este produto é próprio ou improprio é em função do lote analisado. Devemos olhar para a dimensão de uma indústria, a produção de lote pode variar. Somos obrigados a fazer análise destes lotes, a princípio, mas, no contrabando, há a questão do adulterado. Pode fazer a mesma embalagem, mas lote diferente, então pode chegar-se a conclusão de ser contrabando devido a esta.
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