ANGOLA GROWING
CHINESES SÃO MAIS PROCURADOS, MAS HÁ MUITOS ANGOLANOS A VIVER DO NEGÓCIO

Tendas e pequenos espaços tratam das unhas

ESTÉTICA. Fazer unhas nas ruas da capital é uma alternativa para muitos jovens ‘fintarem’ as dificuldades e agarrarem a arte e viver de maneira digna. Uns na ‘zunga’, outros em salões improvisados em tendas com cortinas e outros ainda em estruturas de blocos. Mas o mercado é dominado pelos chineses e vietnamitas que cobram, pelo tratamento, entre mil e 5.000 kwanzas.

De bancos e mochilas às costas, os jovens zungam pelas ruas de Luanda à procura de quem, de forma rápida e barata, queira tratar das unhas dos pés ou das mãos. Uns com tendas improvisadas e outros com salões fixos vêem, nesta arte, a maneira mais digna de sustentar a família. O maior fornecedor deste produto é o mercado do Kikolo, em Luanda, e, para os produtos de ‘gel e gelinho’ são as lojas dos chineses ou as ‘moambeiras’.

Os preços das aplicações, tanto na baixa da cidade como nos bairros periféricos, não diferenciam muito. As aplicações custam entre os 2.500 e os 5.000 kwanzas. E variam de acordo com o tipo de aplicação. Há aplicações normais, as chamadas ‘brasileiras’, que custam 2.000, as de ‘gelinho’, 4.000, e as de gel, 5.000 kwanzas. As manicures e pedicures custam 2.500 kwanzas, com direito a pôr pés e mãos em água quente e limar. Pintar na rua custa 500 kwanzas, nos salões, mil kwanzas.

Fazer um desenho na unha é uma arte que facilmente se aprende, basta seguir, à risca, os modelos das chinesas e vietnamitas, que são os mais comuns. Os salões dos asiáticos são os que dominam o mercado por causa do material usado e dos desenhos.

Boa parte dos jovens que fazem este negócio vem do interior do país a tentar a sorte em Luanda.

Um deles é Artur Viegas, de 29 anos, que saiu do Uíge e trabalha na área há mais de cinco anos. Já criou dois empregos e é a partir do dinheiro das unhas que sustenta a família. A trabalhar na rua da Missão, no Kinaxixi, alugou um espaço em que paga aos seus funcionários 10 mil kwanzas mensais. Não tem um valor exacto de quanto factura, mas o que faz dá para pagar as despesas domésticas.

Todo o dinheiro feito no salão é dividido em partes iguais pelos três, no fim de cada jornada semanal, pois segundo conta “não dá para esperar até ao fim do mês para repartir os lucros”. Boa parte do material que usa no salão, como vernizes, limas, algodão entre outros, adquire em Luanda. Em média, o salão recebe 15 a 20 clientes por semana, mas há dias atípicos em que os clientes não aparecem. Os fins-de-semana são os de maior procura, tanto por mulheres como por homens.

Aqui, uma aplicação normal de unhas fica por 2.500 kwanzas. Já as de ‘gel e gelinho’ custam perto dos 4.500 kwanzas, limar e pintar, 500, e pedicure e manicure, 2.500 kwanzas. Samuel Adriano, de 30 anos, saiu de Benguela em 2002 exclusivamente para tratar das unhas, nas ruas de Luanda. A sua maior ambição é acabar de construir o seu salão, que já se encontra em fase final, no Benfica, porque, além de tratar das unhas, também é cabeleireiro.

Actualmente a trabalhar no mercado do São Paulo, não sente preconceitos por ser albino, acreditando que, quando a pessoa entende bem o que faz, os outros respeitam “principalmente as senhoras”. Samuel Adriano trata tanto mulheres como homens. A maior parte dos clientes vem às segundas, quartas e sextas-feiras. Considera que o trabalho tem sido “rentável”. Já ensinou a esposa a tratar das unhas e ela agora trabalha no Benfica. Os dois vivem em Luanda, mas têm projectos para se estabelecerem em Benguela. A crise nunca o impediu de realizar os seus objectivos e aconselha os jovens a “serem mais dinâmicos” e a “não se focarem num único trabalho”. Apesar de trabalhar num local fixo, Samuel Adriano descola-se até aonde o cliente quiser, desde que o cliente pague mil kwanzas pela deslocação.

Osvaldo Cassua, de 25 anos, também de Benguela, vive no Balumuca numa casa de renda em que paga 5.000 kwanzas mensais, em Luanda. Prefere trabalhar no São Paulo, onde tem uma tenda improvisada de cortinas, mas o seu trabalho não se fica pelas unhas. Nos tempos ‘livres’, também faz cortes de cabelo, por ser um local onde há maior número de clientes a circular. Desde 2014, que está no negócio, garante que dá para viver e tão depressa consiga juntar o dinheiro desejado regressa a Benguela para ficar ao lado da família. Na sua tenda, faz-se aplicação normal, que custa 2.500, pedicure e manicure 1.500 e limar e pintar 500 kwanzas.

TAMBÉM SEM IMPOSTOS

Os salões de chineses e vietnamitas são um pouco mais organizados e é possível encontrar um aparato de vernizes, modelos de unhas, máquinas de remoção de unhas entre outros materiais. Quem aqui trabalha considera que, em Angola, as mulheres gostam de ter as unhas bem tratadas e seguem as tendências de moda e, por isso, não se importam em gastar muito.De poucas palavras, normalmente não trabalham com angolanos, “por terem algum receio”. Apesar da facturação diária ou semanal, não pagam impostos. Alguns salões destes imigrantes só estão disponíveis com hora marcada, mas quem aqui trabalha não tem problemas com as horas. “Quanto mais clientes melhor”, é o lema que respeitam.