“Trabalhamos com muito rigor”
CULTURA. A 3.ª trienal de Luanda, que começou em Novembro do ano passado, está em balanço estte mês. O interregno serve também para preparar um festival. O produtor Fernando Alvim faz a avaliação do evento, o lançamento do festival e confirma que a trienal vai para lá de Novembro, com concertos gratuitos.
Qual é o balanço que faz da trienal?
Ao fim de nove meses, não estávamos à espera de criar mais de 800 eventos. A expectativa era 600. Foram feitos 70 concertos com bandas, 60 entrevistas a músicos. Em 40 dias, levámos seis bandas angolanas ao Porto (Portugal). Estamos a criar um espólio de um arquivo que ficará à disposição de estudiosos e historiadores.
O que é necessário para se fazer um evento destes?
Primeiro, fazer um estudo profundo da nossa realidade e adaptar à situação que vivemos, em termos de espaços e bandas. É necessário muito rigor e criar também hábitos de produção. É também preciso convencer patrocinadores, já que estão acostumados a apoiar projectos a curto e médio prazos. Projectámos eventos adaptáveis e flexíveis em função da realidade.
De onde vem o financiamento?
Temos parceiros (ao invés de financiadores) que são a Fundação Sindika Dokolo, a Unitel, Banco Atlântico e a Endiama que reestruturou o Palácio de Ferro, que é um espaço do Ministério da Cultura, outro parceiro.
E tem receitas?
Não produzimos receitas porque o nosso engajamento é fazer com que o acesso à cultura seja um direito, já que é fundamental para qualquer sociedade.
Não receia que o projecto possa vir a ser banalizado?
Não. Parto do princípio de que se nós, da trienal, ou eu, em particular, podemos fazer, não quer dizer que não haja outras pessoas capacitadas. Somos mais uns que tivemos capacidade. Se exigisse que a trienal seria ao meu gosto, seria uma trienal muito reduzida e ao mesmo tempo não tenho a certeza se o que gosto é o que está certo.
Os custos da trienal eram de 22 mil dólares por mês. Mantém o orçamento?
Os nossos preços, felizmente, sempre foram estipulados em kwanzas. E como não temos necessidade de importar recursos porque os trabalhadores da trienal são nacionais, já tínhamos muitos assuntos resolvidos antes da crise.
Continua a pagar a cada banda entre 500 a 600 mil kwanzas por actuação?
Há músicos (famosos) convidados para actuar na trienal, que provavelmente noutras salas cobrariam o dobro, mas estipulamos um ‘cachet’ que vai de 50 a 100 mil kwanzas por músico. E 200 mil aos líderes. Portanto, se formos a um concerto de 600 mil kwanzas já é bom.
O que vai ser o Festival ‘Zwa’?
O Zwa já estava pensado há uns anos. Pensamos em criar festivais cuja sustentação financeira não seja muito elevada e torná-lo perene, ou seja, todos os anos. Desenhámos o projecto para três momentos: 2016, 17 e 18, sendo que, para 2017, já há parceiros interessados em que o projecto não se confine ao Palácio de Ferro). Levá-lo ao museu da moeda, à praça ‘17 de Setembro’ até à Fortaleza. Esta edição, sendo experimental, é para fazermos um apanhado das bandas. Trabalhamos com uma curadoria ‘afectiva’ que ajudou a seleccionar as 40 bandas. A maior parte delas foi escolhida porque houve uma reacção elevada e positiva do público. A ideia é passarmos para a próxima edição, em 2017, de 40 para 60 bandas e, em 2018,. 80 bandas, que será o ano da Bienal Internacional do Som do Atlântico (BISA).
E o que é a BISA?
É um festival concebido para acontecer simultaneamente em 20 cidades, de 20 países, banhadas pelo Oceano Atlântico. Cada cidade participa com um fundo solidário equivalente, imaginemos, a 10 mil dólares, para cobrir despesas de outra cidade que não tiver fundos suficientes.
Porquê de 24 a 28? É para homenagear o PR?
O contrário é que seria esquisito, se quiséssemos escapar da data do Presidente. Nos EUA quando há campanha eleitoral, os candidatos vão buscar os músicos todos. Dia 28 calha num domingo e é o ultimo dia do festival, obviamente que não vamos deixar de homenagear não só o chefe de Estado, mas o cidadão José Eduardo dos Santos porque, além de ser um homem de desporto, é da música.
A trienal vai ser prolomgada?
Pelo número incrível de propostas, seria impossível apresentar a trienal na totalidade até Novembro. Vamos, provavelmente, de três ou seis meses mais, para desenvolver as artes cénicas e visuais. Queremos corresponder aos anseios da maior parte das bandas e artistas que querem fazer exposições.
Artistas garantidos
O festival musical denominado ‘Zwa’, previsto para o Palácio de Ferro, conta com actuações de mais de 40 bandas durante cinco dias (de 24 a 28) com oito actuações por dia.
Estão confirmadas as participações de Walter Ananás, Kiaku Kyadaff e Afra Sound Star, a 24. Kizua Gourgel, Gabriel Tchiema e Patrícia Faria para 25, enquanto Ndaka yo Wini, Totó e Banda Movimento a 26. Mito Gaspar, Derito, Kiezos e Sandra Cordeiro a 27. E no domingo, para fechar, reservado a homenagem do compositor Xabanu, vão estar Zé Kafala, Filipe Mukenga e Father Mac.
PERFIL
Fernando Alvim é um artista plástico nascido a 8 de Agosto de 1963, em Luanda, tendo emigrado em 1987, ano em que recebeu uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Viveu em Bruxelas e Joanesburgo, onde desenvolveu projectos artísticos. Criou, na Bélgica, o Camouflage, o primeiro Centro de Arte Contemporânea Africana na Europa. Voltou a Angola em 2005, a convite do Ministério da Cultura para conceber o projecto da Trienal de Arte e Cultura de Luanda, em 2005. É actualmente o vice-presidente da Fundação Sindika Dokolo.
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