Tranças: do informal para o salão
CABELEIREIROS. As tranças africanas têm dominado a moda. A crise obriga a trocar os cabelos brasileiros pelos postiços. Quem trança faz de uma forma informal, de casa em casa, e até usa as redes sociais para divulgar os serviços. Mas o negócio também cresce para salões rentáveis, como aconteceu a muitas jovens que, por causa do excesso de trabalho, até travaram o rumo da faculdade.
As tranças rastas e cordeletes passaram a ser opções de moda de muitas senhoras e meninas. Actualmente, a ‘febre’ até atinge os homens. Entre as mais solicitadas estão as rastas, cordeletes, de mão, finas, linhas forradas, entre outras. É por causa desta arte e da procura elevada que muitas jovens abraçaram esta forma de ganhar o pão de cada dia. Umas fazem prestação de serviço ao domicílio, outras já têm o seu espaço legalizado. As mais ‘modernas’ já usam outros instrumentos para divulgar os serviços como Facebook, Instagram, Whatsapp e outras redes sociais. São os meios “mais mediáticos, simples, fáceis e económicos, onde encontramos o público-alvo”, considera Graciana Romão.
Aos 23 anos, Graciana Romão, estudante de comunicação social, faz das tranças o principal negócio. Trabalha em casa, mas, sempre que é solicitada, não hesita em ir ao encontro dos clientes. Começou a dar os primeiros passos com apenas 12 anos, simplesmente por “gosto e por poder tratar do seu cabelo, sem precisar de terceiros”. Sem nenhuma formação, aprendeu a fazer quase todos os tipos de tranças da moda, como as cordoletes ou enroladas, aplicação de cabelo brasileiro, puchinhos trabalhados, apanhados, bigodinhos e anéis entre outras.
Tem um espaço próprio (ao qual atribuiu o nome ‘KiamiHair’) onde trabalha com mais duas jovens. O valor mínimo das tranças é de cinco mil kwanzas e a mais cara pode chegar até aos 25 mil.
A média semanal de clientes, no seu espaço, varia muito. Há semanas em que não tem clientes e há outras em que há muitos clientes, pois depende da altura do ano, cacimbo ou calor, e das tendências da moda. O pagamento às funcionárias depende de um acordo, feito no momento da contratação em função das competências e do tipo de tranças que cada uma sabe fazer. “Analisa-se o ‘know-how’ que ela poderá ter e estabelecemos um acordo de lucro por cliente.” Além de fazer as tranças, a jovem também vende postiços, mas só para os clientes que pretendam trançar naquele espaço.
DE CASA PARA O NEGÓCIO
A pagar uma renda de 50 mil kwanzas mensais encontra-se o salão ‘Gissol Tranças Afrikanas’, de Gisela Domingos, de 24 anos. Foi aos 14 anos que começou a dar os primeiros passos, apenas por pura curiosidade, mas, depois de algum tempo, decidiu levar a coisa mais a sério até ganhar a confiança dos clientes. Fazia tranças ao domicílio, de um modo informal, sem espaço próprio. Cresceu, fez dos pequenos trabalhos um negócio e hoje já tem um estabelecimento que emprega mais oito funcionárias. Cada uma tem um salário mínimo de 35 mil kwanzas, mas esse rendimento pode depender da qualidade do trabalho.
Amélia Tavares, de 22 anos, é uma das funcionárias do salão, há mais de oito meses. Quando entrou, não sabia muito, mas, com ajuda da ‘boss’, foi aperfeiçoando e hoje já se considera também uma “boa profissional”. Diferente dos outros salões, a ‘Gissol Tranças Afrikanas’, localizada na Maianga, é especializada só em postiços. Em média, tem 25 clientes diários, com marcação prévia. O preço das tranças varia entre os cinco mil e os 20 mil kwanzas, dependendo se o postiço pertence ao cliente ou ao salão.
Gisela Domingos teve de ‘trancar’ a faculdade no segundo ano, por causa da afluência de clientes, mas pretende, já no próximo ano, dar continuidade aos estudos e agarrar outros projectos que também teve de deixar de parte, como uma agência de moda que chegou a gerir.
SALÃO RENTÁVEL
Aos 34 anos, Natália dos Santos é proprietária de um salão de cabeleireiro desde 2006, no Mártires de Kifangondo. A sua especialidade não é apenas tranças, mas teve de “acompanhar” a moda para não ficar de fora das tendências. No salão ‘Naty Kid’, todo legalizado e a pagar impostos, trabalham mais três profissionais que tratam das unhas, fazem tranças, desfriso, aplicações de cabelo, penteiam noivas, entre outros trabalhos.
Para abrir o salão, Natália dos Santos fez uma formação na área de corte de cabelos no Brasil pela Loreal, e outros cursos de maquilhagem em Luanda. Como profissional, garante que os salões de cabeleireiro “são rentáveis” e que o salário mínimo de uma funcionária nunca é inferior a 30 mil kwanzas. Com o rendimento do salão, sozinha, consegue pagar a sua faculdade, onde estuda ‘Relações Internacionais’, o colégio do filho e enfrenta outras despesas.
Além de atender no salão, está sempre disponível para responder às solicitações das clientes que preferem tratar do cabelo em casa.
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