“Um líder tem de ser inspirador”
MÚSICA. No mundo empresarial, é sobejamente conhecido como Manuel Gonçalves, o gestor e presidente da maior empresa de seguros de Angola, ENSA. Mas o empresário tem uma outra faceta: é músico. E autor de grandes sucessos como ‘Meninos de Rua’ e ‘Luanda, meu semba’. Pela primeira vez, Né Gonçalves aceitou abrir as portas aos jornais Valor e Nova Gazeta para esse lado artístico que lhe dá “equílibrio”.
Esconde essa faceta de músico?
Sinto-me advogado de formação, gestor de profissão, mas músico de coração. Mas é preciso assumir que a música é uma coisa importante. A cultura é importante e os países têm de ter identidade própria e a cultura ajuda a defini-la. E é parte da sua identidade e por isso hoje já vejo as coisas de forma diferente de tal forma que neste meu último disco, ‘Sembamar’, já é diferente. Não está lá uma imagem qualquer. Já identifica o autor ainda que timidamente...
Que tipo de músicas começou a cantar?
Curiosamente, éramos miúdos e tocávamos músicas de mais velhos. Tínhamos diversas influências. Lembro-me que os ‘Mini Craques’ integravam pessoas muito conhecidas e que hoje evoluíram nas artes, como no grupo de dança que temos, o Ballet Kilandukilo, um dos líderes é o Maneco (Manuel Vieira Dias) que também fez parte dos ‘Mini Craques’ Cantávamos músicas como a ‘Mulher Governanta’ cantávamos o que já existia de várias partes do mundo.
Que incentivos musicais recebeu dos ‘Jovens do Prenda’ e dos ‘Os Dikanzas do Prenda’ para começar a cantar.
Diria que eles estiveram na génese de um processo de aprendizagem e dedicação. E depois quem aprende a tocar viola é como quem aprende a andar de bicicleta ainda que só o faça de tempos a tempos consegue de alguma maneira equilibrar-se. Ao longo da juventude, fui tocando e tive vários agrupamentos musicais, nunca a título profissional, porque fui prosseguindo os estudos e estive posteriormente a desenvolver outras profissões. Aos 21 anos, num desses agrupamentos musicais, o baterista da banda era o actual ministro da Saúde. Era uma coisa muito limitada não era um grupo musical para fazer festas e tocar em espectáculos. Mas chegámos a fazer um espectáculo em Cabinda num campo de futebol com a participação de um conjunto cubano e outros músicos o público vibrou.
É uma pessoa de muitas funções. Daqui a mais alguns anos pretende viver de quê?
Tenho algum perfil para resolução de conflitos. Nós hoje temos uma sociedade que, por diversos factores, principalmente os resultantes da guerra e dos défices que dá aí resultam, temos uma sociedade que ainda é bastante conflituosa e é preciso promover mecanismos de resolução de conflitos e como meio de promover a harmonia e a paz social que são fundamentais. É preciso que haja paz política, que não haja guerra, que existam equilíbrios do ponto de vista macroeconómico para permitir investimentos e melhores condições de vida e nem sempre as instâncias formais de controlo (os tribunais e outras instituições) são suficientes. É preciso que existam mecanismos extra-judicias de resolução de conflitos, na arbitragem de acção e reconciliação e na resolução de conflitos. Contribuir para a paz social é um grande desafio que encaro para o futuro.
Como é que uma sociedade angolana, conservadora, vê um líder empresarial a cantar?
Não tenho preocupações com as perspectivas erradas que algumas pessoas possam ter sobre a cultura. Perspectivas que podem até revelar alguma incultura. Devo fazer aquilo que é certo e parece-me certo promover a cultura até porque todo desenvolvimento económico tem uma dimensão cultural. Há uma relação muito forte entre artistas. Pessoas que procuram das mais diversas formas através das artes plásticas, música, escultura fazer arte captando a realidade social, interpretando ansiedades, preocupações e aspirações. Os líderes podem perfeitamente inspirar-se nessas preocupações do público através do espaço de intervenção. Um líder é um transformador de esperanças em dinâmicas capazes de gerar novas formas de vida. Os artistas são pessoas que procuram captar as esperanças das pessoas e transportar essas esperanças através das artes. Os lideres sempre que podem devem apoiar a produção cultural.
Como concilia a vida de PCA da ENSA com a música?
A música para mim não é trabalho. É fundamentalmente diversão. Não encaro e não a faço como profissão. Sou autor e não construo música como trabalho, mas aproveitando momentos de inspiração. Normalmente, quando não estou focado no trabalho, há uma conciliação perfeita, quando estou totalmente aliviado, de cabeça vazia das preocupações que tenho, que são muitas, agarro qualquer sinal de inspiração e que é rapidamente transformado em letra, poema e melodia. Há ganhos de tempo porque esse momento musical é sempre aquela quebra que consegue reequilibrar do ponto de vista psicológico.
PERFIL
Nome: Manuel Gonçalves
Idade: 58 anos
Profissão: Advogado e gestor
Ocupação: presidente da ENSA-Seguros
Clube: 1º. D’Agosto
Naturalidade: Luanda
Filhos: 6 Discos
publicados: 3
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