Um negócio para uma vida
INDÚSTRIA. Fabrico de máquinas de moagem e de ralar jinguba tornou-se num negócio que tem tudo para se tornar formal. Gera lucros e empregos e tem futuro, atendendo à tradição gastronómica angolana.
Um milhão e 800 mil kwanzas é a média de lucros que José Manuel Simão obtém por mês, no fabrico de moagens e nas máquinas de ralar jinguba. O ‘pequeno’ empresário, que já presta serviços um pouco por toda Luanda, garante emprego a mais de 40 trabalhadores nas áreas de mecânica, torneiro mecânico, serralharia e electricidade, entre outras.
Com 42 funcionários em três fábricas de moinhos, aos 34 anos, este empreendedor procura, de forma formal e legal, estabilizar-se no mercado. Com todos os documentos tratados, garante estar a trabalhar legalmente e a pagar todos os impostos. A moagem é daquelas apostas que “compensam” fazer investimentos, dado o número de consumidores do famoso funje nacional ou também conhecido como ‘bilada’.
Em 2002, José Manuel Simão foi convidado pelo tio a trabalhar numa moagem. Em 2004, resolveu criar o seu próprio negócio no mesmo ramo. Baseado num desenho, montou a sua primeira máquina para começar a fazer a moagem. O negócio foi crescendo e permitiu-lhe sonhar mais alto: decidiu fabricar as suas próprias máquinas e comercializá-las.
Em 2013, procurou obter um crédito através do programa Kixicrédito, mas não teve uma resposta positiva. “O responsável, depois de fazer a avaliação, não achou conveniente ceder o empréstimo. A partir daí, fui andando por meios próprios”, conta
De “tão bom” que o negócio é, José Manuel Simão garante estar a vê-lo a crescer a “boa velocidade”. Não tem dúvidas que se trata de “uma actividade de solução imediata”, porque “90% do povo angolano se alimenta de funje de milho e bombó.”
José Simão gere três espaços, que se encontram localizados nos mercados do 30 (Viana), Simione Campo (depois do Nova Vida) e no Catintom (Maianga).
Neste último, paga pelo espaço 45 mil kwanzas mensais de renda. Os funcionários auferem salários entre 25 mil e 50 mil kwanzas, de acordo com a especificidade de trabalho de cada um, nas mais variadas áreas.
Domingos Ngola, de 33 anos, é parceiro numa das moagens de José Simão há três anos. Entrou no negócio também pela mão de um tio que tinha uma moagem. No mercado do Catintom, trabalha como mecânico, mas sem remuneração, porque ainda está numa fase de aprendizagem.
Já Bernardo Kapote, de 19 anos, ainda estudante, encontrou o primeiro emprego na fábrica de moagem, no mercado de Catintom. O gosto pela serralharia e a influência dos amigos empurraram-no para agarrar na oportunidade de autossustentar-se e ajudar nas despesas de casa. Por enquanto, recebe uma remuneração semanal, enquanto não termina o estágio.
Um dos funcionários com mais de três anos de trabalho, Nelson de Jesus, de 19 anos, também teve o primeiro emprego na moagem e na fábrica de moinhos. Soldadura, pintura e electricidade é uma das suas ocupações diárias. Com o que ganha, paga os estudos em Ciências Económicas e Jurídicas e ajuda a sustentar a família entre outros gastos. Já com a experiência adquirida, anseia também criar a sua própria fábrica, por ser “um bom negócio”.
As suas máquinas não são só vendidas em Luanda. Outras províncias, como Huambo, Kwanza-Sul, Bié e Bengo, também já compram o material de José Simão, que, em média, por mês, consegue fabricar cerca de quatro a cinco máquinas, dependendo do volume de encomendas. Fabricante dá garantia de um ano aos clientes e neste prazo as manutenções são gratuitas. Normalmente, as peças para o moinho são fabricadas internamente, excepto os rolamentos.
Os preços das máquinas variam de acordo com o tamanho. As moagens mais pequenas custam a partir dos 380 mil kwanzas, já as grandes podem chegar até aos dois milhões. Para as máquinas de moer jinguba, o preço é mais “acessível”, ronda entre os 150 mil e 250 mil kwanzas cada uma. Quatro a sete dias é o tempo limite para o fabrico de uma máquina grande.
JLo do lado errado da história