Um negócio sem cortes nos lucros
PEQUENOS NEGÓCIOS. Nos musseques e em zonas urbanas de Luanda, cresce o número de barbearias. Formais ou informais, são os jovens quem mais aposta no corte de cabelo. Uns ainda cortam na rua, outros sonham em ter um “espaço de referência” e há quem já tenha uma barbearia a funcionar há anos. Apesar das receitas modestas, o negócio rende.
O negócio do cabeleireiro masculino, tanto no formal, com as barbearias modernas, como no informal, feito por mais ou menos profissionais pelos bairros que praticam preços para todos bolsos, está, no cômpto geral, a correr bem. A técnica que os barbeiros usam para expandir o negócio é mesmo a mensagem boca-a-boca ou a simples troca de números de telefone. E basta, nestes casos, confiar na necessidade e saber. Afinal, quem não precisa de fazer um arranjo ao cabelo?
Paulo Valentim Cassenda, 27 anos, começou miúdo na profissão. É barbeiro há 13 anos. Nunca fez qualquer curso e os primeiros passos foram dados por curiosidade e depois de assistir a diversos vídeos. Apesar de ter residência fixa no bairro Calemba 2, é no bairro malangino, zona dos ‘mandongos’, onde encontra a maior parte dos clientes fiéis. Com os lucros, até já conseguiu concretizar um sonho antigo: obter a carta de condução. Hoje é também motorista de uma empresa petrolífera. Por falta de tempo, tornou-se barbeiro só aos fins-de-semana, mas continua à procura de um investimento que lhe permita construir a sua própria barbearia que ele gostaria fosse de “referência”. Os preços variam entre os 500 e 700 kwanzas com direito a ‘super black’ e ‘soft’, produtos usados para pintar o cabelo. Por cada fim-de-semana, consegue arrecadar entre dez e 13 mil kwanzas. “É uma paixão ser barbeiro”, garante. Enquanto Paulo Valentim Cassenda projecta abrir a sua barbearia e faz biscates, Délcio Martins já sente os benefícios de ter um espaço próprio e legalizado por conta própria. Também com 27 anos, este antigo vendedor de máquinas de café é gestor e sócio da barbearia ‘Ermaf’, no bairro da Madeira, junto à Oficina Geral de Reparações (OGR), em Luanda. Emprega quatro funcionários e por mês consegue facturar entre 334 e 490 mil kwanzas. Diferente das barbearias no segmento informal, a Ermaf paga impostos à Administração Geral Tributária e paga taxas ao govermo de Luanda.
Entre os vários serviços prestados na Ermaf estão incluídos o corte de cabelo, barba, manicure, pedicure e lavagem de pés. Délcio Martins garante primar muito pela higiene. Os materiais, como pentes, tesoura e máquinas de cortar, são todos esterilizados. O serviço mais barato é o corte da barba, que custa 500 kwanzas, e o mais elevado é corte de cabelo, no valor de mil kwanzas para adultos. O salário dos funcionários é feito por percentagem de acordo com a produtividade de cada um.
Entre os 15 e os 16 mil kwanzas é quanto Jony Kiosa consegue obter, por semana, a trabalhar de segunda a domingo. Com apenas 17 anos, e a frequentar 11.ª classe, o morador da rua 53 do Kassequel do Buraco trabalha na rua, mas o objectivo passa por construir uma barbearia formal, mas as dificuldades financeiras têm adiado sonho. Os preços variam entre os 200 e os 600 kwanzas de acordo com a idade de cada cliente. Os cortes mais pedidos são o escovinho, panque, galo, kiaku kiadaff, rabicho, francês e panque. Rogério Manuel, 31 anos, está há 15 anos na profissão e garante que tudo que conseguiu foi como barbeiro. E cita o mês passado como sendo o mais produtivo, apesar da crise. Em Maio, lucrou 300 mil kwanzas.
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