DHL, um exemplo de empreendedorismo norte-americano

Uma ideia que faz mover o mundo

14 Apr. 2021 Emídio Fernando Gestão

LOGÍSTICA. Uma simples ideia criou o maior gigante mundial de distribuição de encomendas. DHL foi criada há 52 anos e começou num ‘stand’ de automóveis. Hoje, está instalada em mais de 220 países e territórios e distribui 1,5 mil milhões de encomendas por ano.

Uma ideia que faz mover o mundo

 

A criação da DHL partiu de uma ideia aparentemente simples, mas que ninguém ainda a tinha aplicado: transportar pequenas encomendas – no caso, cartas – por avião. O mais curioso é que a ideia nasce em plena década de 1960, quando o homem já estava a conquistar o espaço, com viagens até à lua. Mas o transporte, por exemplo, de São Francisco até Honululu de pequenas encomendas ainda era feito por navios. Daí que três homens, que se entretinham a ganhar dinheiro com a venda de carros em segunda mão, tiveram a ideia de fazer esse transporte de uma forma muito mais rápida: através de pequenos aviões.

Assim, Adrian Dalsey, aos 55 anos de idade, Larry Hillblom, de 29 anos, e Robert Lynn, de 56 anos, fundaram a empresa DHL, em 1969, aproveitando as letras dos sobrenomes para criar a sigla. O sucesso foi quase instantâneo, graças a um contrato que fizeram com o Banco da América que encontrou na DHL um parceiro ideal para transportar rapidamente cartas de crédito. Em apenas dois anos, já a empresa apostava na internacionalização, conquistando o riquíssimo e apetecível mercado asiático. Contratou um dos empresários mais bem-sucedidos de Hong-Kong, em 1972, e, de seguida, abriu escritórios no Japão, Singapura e Austrália. Dois anos depois, partiu à conquista da Europa, com a abertura do primeiro escritório, em Londres. Chegou a América do Sul, em 1977, e a África em 1978. 

À CONQUISTA DO MUNDO

Com a internacionalização galopante deixava para trás a sua concorrente directa, a Federal Express, que se limitava a distribuir encomendas apenas no mercado norte-americano. Na competição entre as duas empresas, a DHL tinha um volume de negócios muito inferior à da concorrente, nos EUA, mas estava a tornar-se um gigante mundial.

Em pouco tempo, estendeu-se a mais países, conseguindo atingir até a chamada ‘cortina de ferro’: o mundo comunista. Na década de 1980, já tinha chegado à China e conseguiu instalar-se na União Soviética e nos países socialistas europeus, em 1986. Em 1994, deixou de ser apenas DHL, passando a ser denominada DHL Worlwide Express, passando a deter metade do mercado mundial. No entanto, nos EUA, país que viu a empresa a nascer, detém apenas 10% do mercado.

Hoje, a DHL tem mais de 6.500 escritórios em 220 países e territórios, chega a mais de 360 mil destinos, em todo o mundo, e emprega mais de 280 mil pessoas. Deixou de ser apenas a distribuidora de encomendas e divide-se em três grandes áreas: os transportes aéreos e terrestres e a logística. O lema mantém-se actual: “Nós movemos o mundo”. E, de facto, têm clientes até em zonas mais inusitadas, desde locais em guerra até aldeias quase desérticas em África ou na Ásia.

Curiosamente, os três fundadores morreram fora já da DHL e os três ficaram cativados por paraísos asiáticos. A última vez que estiveram juntos foi em 1994 para celebrar mais um aniversário da empresa.

Adrian Dalsey morreu em Outubro de 1994, na Califórnia, depois de ter passado um longo período em viagem pela Ásia. Larry Hillblom, o mais jovem dos três empreendedores, vendeu as suas acções ainda na década de 1980, e mudou-se para as ilhas Mariana, no Pacífico, um paraíso fiscal, desenvolvendo projectos empresariais no Vietname, Filipinas e Havai. Em 1995, desapareceu num acidente aéreo quando pilotava um hidroavião. Dos dois tripulantes, o corpo do co-piloto foi encontrado junto aos destroços, mas Larry Hillblom nunca mais foi visto.

Nascido na Bulgária, Robert Lynn cresceu na Áustria e mudou-se para os EUA já adulto. Especialista em vendas e marketing, co-fundou a DHL, mas deixou a empresa cinco anos depois para se dedicar a outros negócios, alguns dos quais na Ásia. Morreu em Nova Iorque, aos 76 anos.

De acordo com dados de 2020, a DHL faz mais de 1,5 mil milhões de envios por ano. Hoje divide-se em cinco grandes empresas e mantém uma fortíssima presença no mercado asiático. No entanto, pertence à Deutch Post, a empresa nacional de correios da Alemanha, que comprou a DHL em 2002, depois de uma polémica política. Os EUA não suportaram a ideia de uma das suas maiores empresas ter ido parar às mãos da Europa. A sede da DHL é em Bona. Já vai longe o tempo em que era apenas a distribuidora de encomendas. Hoje, além dos mais de 6.500 escritórios, possui 450 hubs, armazéns e terminais em aeroportos e tem uma frota de 420 aviões e mais de 76 mil veículos terrestres.