NAS LIVRARIAS, BANCADAS E NA ZUNGA

Venda de livros feita “por gosto”

LIVREIROS. A comercalização de livros, apesar de “não ser rentável”, agrada a quem se dedica ao negócio que garante fazê-lo “por gosto”. Em tempos de crise, as vendas têm registado grandes quedas. E há quem opte por ir ao encontro dos clientes.

O negócio exige paciência, calma e vontade. É arriscado, sobretudo para quem o faz na estrada, no meio de trânsito, mas “vale a pena”. É desta forma que as pessoas que se dedicam à comercialização de livros definem o negócio. Os livros de Medicina, Direito e Gestão são os mais procurados. Os dias de ‘pico’ são nas vésperas da abertura do ano lectivo, como revela Jorge Domingos. Há mais de cinco anos na venda, nos dias em que a sorte lhe sorri chega a levar para casa 30 mil kwanzas. Mas em dias maus, não consegue sequer ‘despachar’ um único livro.

De 32 anos, Jorge Domingos começou a vender, investindo 20 mil kwanzas. No início, comercializava apenas manuais escolares da 7.ª à 12.ª classe. Mas, com o lucro, decidiu alargar a bancada com livros científicos, dicionários, obras literárias e outros materiais escolares. Os livros não têm um preço fixo e são vendidos em função da procura. Quanto maior a procura, mais caro se torna. Hoje já tem uma bancada maior. Adquire os livros em lojas e em revendedores. Vende manuais e materiais escolares e literatura.

Adão Pedro vende livros antigos e usados desde 1992. Era funcionário da antiga Empresa Distribuidora Livreira (EDIL), que pertenceu ao departamento de informação e propaganda do MPLA. Tal como Jorge Domingos, vende os livros na praça. Mas, no caso de Adão Pedro, por falta de bancada, recorre ao chão para colocar os livros. Tem disponíveis mais de dois mil. Confessa que, este ano, tem sido “mais difícil e que as vendas baixaram muito”. “Antes, podia fazer quase 100 mil kwanzas por dia”, lembra com tristeza os bons tempos. E agora, há dias em que fica sem vender um livro.

Com tanta mercadoria à venda, tem dois ajudantes, que são ‘remunerados’ diariamente em dois mil kwanzas, em função do dinheiro vendido. Pensa em ter uma livraria, mas precisa de um local com boa localização. Os livros que revende são adquiridos por jovens e outros que negociem livros deixados pelos familiares. Os livros raros são os mais caros.

Paralelo às bancadas das praças, existem as prateleiras das livrarias, que também estão a sentir as vendas em queda devido à crise e que também sofrem com os ‘períodos mortos’ do ano. Segundo Jorge Bezerra, gerente da Livraria Escolar Editora, na Mutamba, em Luanda, este ano as vendas baixaram quase 40 por cento, chegando a vender, em média, 30 livros. Mas apesar da crise, acredita que vale a pena investir porque “o retorno é bom”.

António Komba esclarece que “o negócio dos livros é pouco atractivo por causa da rentabilidade e recuperabilidade do investimento que é muito demorado”. O sócio-gerente da livraria Cheikh Anta Deiop, na Via Expressa, admite que não entrou no negócio “por investimento”, mas pelo gosto pelos livros e pela “percepção do impacto e da contribuição para a sociedade”. Por isso, defende ser “necessário juntar alguns esforços de tal modo que consega manter envolvidos e satisfeitos os trabalhadores. Mas tem sido uma ginástica interessante”.

A Cheikh Anta Deiop existe há menos de um ano e o número de clientes não tem sido a desejado. Para superar esses constrangimentos, vende os livros nas universidades e institutos superiores. Tem cinco colaboradores. Os supervisores têm um salário-base de 60 mil kwanzas. As responsáveis de venda recebem 45 mil e a senhora da limpeza 20 mil kwanzas. Mensalmente, desembolsa 230 mil em salários. “O negócio não é atractivo para os bancos darem crédito, então o recurso é mesmo de capital próprio”, desabafa.

 

DA BANCADA À LIVRARIA

Houve quem começasse com a venda de livros e hoje tem uma livraria. É o exemplo da AMS Comercial, um projecto familiar criado há 10 anos, que começou com a venda de pequenos livros do ensino primário nos mercados do Kikolo, São Paulo, entre outros. “Fomos ganhando nome e as editoras passaram a dar-nos livros por consignação”, lembra o responsável Jonês Mazumbua. Já perdeu a conta de quantos livros tem as estantes, por isso, começou a criar uma base de dados para melhorar o controlo.

Jonês Mazumbua reconhece que, em Angola, já se “começa a despertar o gosto pela leitura”. E, por isso, defende a aposta no negócio. Para não depender apenas da livraria, a AMS Comercial optou por uma estratégia de ‘zunga’ dos livros. Ou seja, tem uma livraria móvel e que vai ao encontro do cliente onde quer que o mesmo se encontre. A estratégia tem dado resultados positivos e facilitado as vendas.

O responsável admite que o lucro “não é muito”, mas serve para pagar a colaboradores e cobrir outros custos. Na recente feira do livro, conta que conseguiu vender mais de 400 livros. Durante um mês, vende apenas cerca de 100 livros, na livraria. Além da venda, fornecem livros a outros revendedores. A intenção é expandir-se para outros pontos do país. Tem oito colaboradores, mas que são pagos em função das vendas mensais. Nas fases boas, chegam a ganhar entre os 55 e os 60 mil kwanzas.

De Junho a Novembro, são apontados como os períodos mais críticos. “Se não houver feira é muito difícil vender.”