ANGOLA GROWING
MATADOURO PRONTO MAS NÃO FUNCIONA

2,4 mil milhões de kwanzas atirados ao abandono

AGRICULTURA. O matadouro industrial de Camabatela, no Kwanza-Norte, considerado o maior de Angola, continua sem funcionar, dois anos após a conclusão da obras. E não é o único. O Ministério da Agricultura, dono dos projectos, evita prestar esclarecimentos.

Totalmente apetrechado com equipamentos modernos, a inauguração do Matadouro estava prevista para o primeiro trimestre de 2014. No entanto, e sem justificação por parte do tutor da iniciativa, o Ministério da Agricultura, até ao momento encontra-se em estado de abandono.

O projecto orçado em 2,4 mil milhões de kwanzas visava relançar a actividade agropecuária da região do Planalto de Camabatela que, abarca parte das províncias do Kwanza-Norte, Uíge e Malanje e tem uma capacidade de abate diário, calculada em 300 cabeças de gado bovino e caprino. No entanto, na altura do início da construção do matadouro, em 2011, a população animal total de Camabatela era estimada em apenas sete mil cabeças, segundo o administrador municipal, José Rank Frank. A conclusão do projecto prometia a criação de 100 postos de trabalho, entretanto, destes, apenas meia dúzia foi ocupado por agentes de segurança e de limpeza.

A inoperância do Matadouro de Camabatela reedita a situação da unidade fabril de processamento da banana em Caxito, também da responsabilidade do Ministério da Agricultura.

A empreitada esteve a cargo da empresa espanhola Ecatema. Tem duas linhas de produção, sendo uma para desidratação de banana e outra para a transformação do tomate em massa. Foi concluída há dois anos, mas também não funciona. O director da Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), Belarmino Jelembi, entende que as coisas repetem-se aos olhos dos inspectores do Estado porque “ninguém é responsabilizado”. Salienta que qualquer pessoa que estuda com rigor a agropecuária angolana sabe que não será tão cedo que haverá naquela zona gado suficiente para alimentar de forma constante o matadouro e tornar o investimento economicamente viável.

Para a fábrica de processamento da banana, oito técnicos angolanos receberam formação em Espanha para assegurar o seu funcionamento, mas por enquanto aguardam. Poucos dias depois da inauguração, a fábrica apresentou uma avaria técnica, tornando-se inoperante, antes mesmo de colocar produtos no mercado.

A cerca dos dois investimentos com fundos públicos, o Ministério da Agricultura evitou esclarecer ao VALOR as razões da paralisação. Entretanto, fonte conhecedora do dossier revelou que, no caso da fábrica de processamento de banana, em Caxito, em 2014, se verificaram deficiências numa peça fundamental. “A mesma já foi encomendada ao fornecedor, mas, devido às dificuldades nos pagamentos ao exterior, há atraso na reposição.”

Belarmino Jelembi não tem dúvida de que o material adquirido com fundos públicos vai continuar empoeirado. Este especialista em matéria agropecuária lembra que, no Kuando-Kubango, há um projecto idêntico que só se mantém porque o Estado ainda injecta dinheiro.