JOSÉ CUNHA, DIRECTOR CLÍNICO DA AVA CLINIC, EM LISBOA

“40% dos nossos clientes são angolanos”

SAÚDE. Mais de um terço dos pacientes da AVA Clinic, especialista em fertilização, são angolanos. Os seus responsáveis ponderam abrir os serviços em Angola. O director clínico garante usar “recursos eficazes” para combater a infertilidade e a desmistificar métodos.

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as dificuldades para ter filhos atinge milhões de casais no mundo. Associamos a este dado o facto de existirem muitas mulheres/casais a adiarem a maternidade. Porém, o relógio biológico é daqueles mecanismos incontroláveis. Será que são reversíveis?

Estima-se que 15% a 20% de todos casais irão ter dificuldade em concretizar o desejo de virem a ser pais. Esta situação é particularmente relevante nos casais que vão adiando o seu projecto de ter um bebé porque decidem que a altura, por razões sócio-económicas, não é a melhor, ou porque a prioridade é o investimento na sua carreira profissional em determinada fase da vida. O problema é mais grave para as mulheres que a partir dos 34-35 anos começam a ver a sua fertilidade a baixar. Com o objectivo de ajudar estes casais, foi fundada, em 2000, a AVA Clinic, uma clínica de tratamentos para a infertilidade, cuja maioria dos pacientes são casais inférteis, em que a causa está na mulher (35 %), ou no homem (35%), ou dos dois, com idades entre os 30 e os 42 anos, muitos deles que dedicaram grande parte da sua vida fértil à carreira profissional e que depois, pelos 35-37 anos, querem formar família e têm dificuldade. A idade é, sem dúvida, um elemento muito importante, quanto mais nova for a mulher na altura de tentar engravidar, mais probabilidade terá de o alcançar. Infelizmente, o relógio biológico não pára e o processo de envelhecimento celular até à data não é reversível, contudo, é provável que a ciência médica possa interferir nesta área.

Muitos são os casais que buscam soluções fora de Angola. A AVA tem recebido muitos pacientes angolanos?

Sim, quase todos os dias temos um casal a fazer tratamentos de infertilidade na AVA Clinic em Lisboa, sendo que, actualmente, do total de pacientes, 30% a 40% são angolanos. Em poucos dias, conseguimos fazer todos os exames necessários ao casal para optimizar a sua vinda a Lisboa. Depois é preciso programar o tratamento e para este ser efectuado terão de ficar mais tempo (cerca de um mês). Contudo, a clínica procura sempre reduzir o número de viagens ao mínimo e indispensável.

Há mais portugueses ou angolanos e recorrer aos serviços da AVA Clinic?

Há mais portugueses, mas a percentagem de pacientes angolanos tem vindo a aumentar progressivamente ao longo dos anos, situando-se actualmente entre os 30% e os 40% de todos os nossos utentes.

E os casos de sucesso? Em 10 casais, quantos saem com o resultado esperado?

A taxa de sucesso depende da idade da mulher. Abaixo dos 35 anos e numa primeira tentativa cerca de 40% a 45% das mulheres ficarão grávidas. Mas, se considerarmos a taxa de gravidez cumulativa, isto é, se o casal realizar na clínica em média três tratamentos com intervalos de alguns meses, podemos dizer que, ao final de um a dois anos, em 10 mulheres, oito conseguirão engravidar.

Que soluções a AVA oferece?

As boas taxas de sucesso da clínica são alicerçadas na optimização e individualização dos tratamentos. A AVA Clinic de Lisboa harmoniza os valores e a experiência escandinavos com a simplificação dos tratamentos e a investigação na área da Reprodução Medicamente Assistida, apostando numa abordagem humanizada aos casais que a ela recorrem. Na AVA Clinic, são realizados todos os tipos de tratamentos de infertilidade: Inseminação intrauterina (IUI); Fertilização in vitro (FIV); Microinjecção (ICSI); Transferência de embriões criopreservados; Doação de gâmetas (óvulos e/ou espermatozóides) ou de embriões; mas também exames e técnicas auxiliares ( ex: espermograma, Criopreservação de esperma, óvulos e embriões, entre outras). Prestamos ainda apoio na área da Ginecologia e Obstetrícia e respectivos exames complementares (ecografia, histeroscopia).

A infertilidade, em Angola, ainda está associada a vários factores tradicionais (culturais). Como pode a medicina contrapor isso?

A infertilidade é na sociedade angolana um assunto, de certo modo, tabu e difícil de ser assumido pela sociedade e está relacionada com uma alta incidência de infecções do aparelho urogenital, de doenças sexualmente transmissíveis e de algumas patologias do foro ginecológico como os fibromiomas uterinos e a endometriose. Assim, o papel duma clínica como a nossa seria, por um lado, promover a prevenção destas patologias e de as tratar o mais precocemente possível de modo a diminuir o seu impacto na fertilidade e, por outro, constituir um eficaz recurso terapêutico nos casos de infertilidade já estabelecidos, ajudando a desmistificar os métodos de tratamento tradicionais (ex: recurso a ‘curandeiros’) que ainda continuam a ser utilizados por uma faixa significativa da população.

Quem realmente pode recorrer às vossas soluções?

Todos os casais de sexo diferente e actualmente face às recentes alterações da lei portuguesa, todos os casais de mulheres, todas as mulheres independentemente do estado civil e da respectiva orientação sexual, todos os casais em que a mulher não tem útero ou este tem uma lesão ou doença que impeça de forma absoluta e definitiva a gravidez, podendo ter assim acesso à denominada Gestação de Substituição (vulgarmente chamada ‘barriga de aluguer’). É importante salientar que a infertilidade não tem sexo e consequentemente não é um problema apenas da mulher e que num número significativo de casos (cada vez maior nas últimas décadas) tem origem no homem. Assim este pode e deve recorrer a clínicas de infertilidade para avaliação e tratamento da sua situação, bem como para outras opções, como, por exemplo, a preservação da fertilidade.

Para quando uma presença física em Angola?

É uma possibilidade que temos vindo a ponderar já há algum tempo, até porque um número significativo de pacientes angolanos tem feito esse pedido. No sentido de ir ao encontro do pedido dos nossos pacientes residentes em Angola temos realizado alguns estudos, que, por enquanto, estão a decorrer.

PERFIL

Dr. José Cunha, Director Clínico e Médico Especialista em Ginecologia e Obstetrícia e Medicina da Reprodução.