Quem fica com os 25% da Oi na Unitel?
TELECOMUNICAÇÕES. Agostinho Kapaia nega interesse na empresa de telefonia móvel, mas informações na posse do VALOR garantem que o empresário será o rosto principal de um grupo empresarial que tem como estratega quadro sénior da Sonangol. Previsível incumprimento do acordo parassocial pode levar processo ao tribunal internacional.
Na semana passada, no acto de apresentação dos resultados do 3.º trimestre, a Oi reforçou a garantia de concretizar a venda, ainda antes do final do ano, dos 25% que detém na Unitel, motivando interrogações sobre o futuro dono da referida participação.
“Deveremos concluir o processo até ao fim do ano. Não divulgámos detalhes porque existem questões de confidencialidade. Só anunciaremos quando todo o processo estiver concluído”, afirmou Rodrigo Abreu, director de operações e negócios da Oi.
Inicialmente, a Sonangol e Isabel dos Santos, dois accionistas da empresa, eram apresentados como os principais interessados na compra do referido activo. Mas, nas últimas semanas, surgiu o nome de Agostinho Kapaia que, entretanto, nega quaisquer negociações neste sentido. “A notícia que está a ser veiculada em órgãos não oficiais não corresponde à realidade. Neste momento, o Grupo Opaia está focado no acordo com a empresa russa de fertilizantes Uralchem e no desenvolvimento da primeira fábrica de fertilizantes no nosso país. Todas as informações oficiais sobre a actividade do nosso grupo são sempre divulgadas juntos dos órgãos de comunicação social por via do nosso Gabinete de Comunicação e assim continuará a ser, pelo que oportunamente divulgaremos informações oficiais sobre a nossa actividade”, respondeu ao VALOR.
No entanto, informações na posse do VALOR asseguram que o empresário é o rosto visível de um grupo composto por pessoas do ciclo presidencial e governamental, entre os quais um quadro sénior da diplomacia, bem como um administrador executivo da Sonangol, este último citado como o principal estratega do negócio.
“Há um tempo, no início de 2019, enviaram uma proposta à Oi para a compra da participação. A ideia surgiu de um administrador da Sonangol, que criou uma amizade com dois directores da Oi, o Carlos Brandão e o Eurico Teles. Esses, por sua vez, abriram a porta para ser uma empresa próxima deste administrador da Sonangol”, explicou fonte dominadora do dossier.
Segundo o plano dominado pelo VALOR, há uma forte possibilidade de a Sonangol surgir como avalista para o financiamento que o grupo privado vai buscar a um banco russo, no caso o Sbersbank, por intermédio de um fundo de investimento sediado em Londres, este que foi contactado também pelo já mencionado administrador da petrolífera.
O VALOR apurou que as reuniões e negociações têm ocorrido por via de escritório de advogados em Lisboa e, considerando o estágio avançado do processo, o banco russo Gazprom já terá aberto, há cerca de duas semanas, uma conta em um dos bancos de referência em Angola para acautelar os pagamentos.
DEPOIS DA UNITEL SEGUIR-SEÁ A MERCURY
Com base nos planos revelados ao VALOR, depois de concluir o processo de aquisição dos 25% que pertencem à Oi na Unitel, os promotores focar-se-ão em um outro objectivo: a aquisição da Mercury, subsidiária da Sonangol e detentora directa da participação que a petrolífera tem na Unitel. Assim, a empresa que teria Agostinho Kapaia como rosto principal tornar-se-ia no maior accionista da Unitel. Este é um figurino que alegadamente agrada ao executivo que pretende evitar que Isabel dos Santos e Leopoldino do Nascimento venham a tornar-se nos accionistas maioritários da empresa.
E COMO FICA O ACORDO PARASSOCIAL?
Segundo apurou o VALOR, os outros accionistas, sobretudo Vidatel (Isabel dos Santos) e Geny (Leopoldino do Nascimento) acompanham o dossier com muita atenção e estão dispostos a levar o caso ao tribunal internacional caso não se permita que usufruam do direito de preferência reservado no acordo parassocial.
“Dos outros três accionistas o único que não estaria interessado em usar do direito seria a Sonangol, os outros, ou seja, tanto Isabel dos Santos como o Dino de certeza que quererão”, argumentou a fonte, acrescentando que estes estão mobilizados para levar o caso ao tribunal internacional.
A acontecer, será o segundo desentendimento entre os accionistas pela suposta violação do acordo parassocial. O primeiro conflito ainda não está terminado e iniciou em 2013 com a fusão entre a brasileira Oi e a PT Venturs que foi accionista fundador da companhia. Os outros três accionistas entendem que a participação da PT Venturs na Unitel não deveria fazer parte dos activos incluídos na fusão. E, em Agosto deste ano, o Tribunal Provincial de Luanda (Sala do Civil Administrativo Tribunal Supremo, Fiscal e Aduaneiro) deu razão aos três accionistas angolanos.
Com a venda da participação na Unitel, a Oi perspectiva render cerca de 1.000 milhões de dólares. Além deste valor, a companhia, que teve prejuízo de pouco mais de 1.000 milhões de dólares, no terceiro trimestre de 2019, também está a contar com os dividendos acumulados há vários anos para fazer face à sua situação deficitária.
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