PRIMEIRO ANO DE ACTIVIDADE

Excesso de colaboradores é um dos desafios da ANPG

PETRÓLEO. Agência de Petróleo e Gás herdou mais de 600 colaboradores da Sonangol, número considerado excessivo, mas “indispensável” para a fase de arranque.

Excesso de colaboradores   é um dos desafios da ANPG

O excesso de colaboradores, estimados em mais de 600 pessoas, é um dos aspectos negativos do primeiro ano de exercício da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis, segundo as várias opiniões ouvidas pelo VALOR que usam como exemplo as congéneres internacionais da entidade nacional.

“Conheço várias agências internacionais e nenhuma tem tantos quadros quanto à nossa. Há até casos de agências com menos de 10 funcionários e é verdade que, para o trabalho de concessionária, não se precisa de tantos técnicos”, argumentou um técnico sénior do sector dos petróleos que, entretanto, não quis ser identificado. 

Vários quadros dos petróleos, sobretudo da ANPG, justificam, no entanto, que a função de concessionária, quando exercida pela Sonangol, contava com cerca de 650 colaboradores e o que se fez foi apenas a transferência em bloco dos mesmos para a agência. “A única maneira viável de fazer o modelo funcionar foi a transferência do pessoal da concessionária em bloco da Sonangol para a agência e mais um pequeno grupo para as áreas de suporte tal como jurídico, RH, contratos e outros, daí o número que, no entanto, com o tempo será optimizado”, explicou um quadro sénior da agência.

Outros aspectos analisados, neste primeiro ano de actividade da agência, têm que ver com o resultado pouco esperado do primeiro concurso para a licitação de blocos realizado pela entidade. Tratou-se do concurso para licitar os blocos de Benguela e Namibe em que apenas apareceram alguns blocos, situação que, para muitos, também pode ser incluída entre os resultados negativos. Cenário, entretanto, negado por quadros da ANPG. “O facto de não se ter licitado 100% não pode ser considerado como ponto negativo. Dos 12 blocos do Namibe, seis já têm operadores e estão em negociação mais três blocos”, argumentou um dos quadros seniores, para depois justificar a pouca adesão dos investidores. “É uma nova área pouco estudada. Acreditamos que, à medida que forem adquiridos dados, o interesse aumentará.”

A agência, por intermédio da fonte citada, também contraria o entendimento, muitas vezes apresentando publicamente, segundo o qual seria mais inteligente a entidade começar o programa de licitações pelos blocos situados nas bacias terrestres do Congo (CON1, COM5, COM6) e do Kwanza (KON5, KON6, KON8, KON9, KON17 e KON20), que tinham sido atribuídos em 2015, mas cujo concurso foi, posteriormente, anulado. 

A corrente que defende essa opção tem-se justificado com a necessidade urgente de inverter a tendência decrescente da produção nacional, acreditando que, por se tratar de blocos conhecidos pelos potenciais investidores, mais rapidamente atrairiam interessados. No entanto, o argumento da agência é que a exploração de novos blocos não é a prioridade para contornar a tendência de queda da produção. E a escolha dos blocos do Namibe e Benguela, em detrimento dos do Congo, deve-se ao facto de os primeiros serem ‘offshore’ e a expectativa em relação aos volumes a encontrar no ‘onshore’ não ser grande.  “A nossa produção vem maioritariamente do ‘offshore’. 

Nesta altura que o grande desafio é a redução do declínio de produção, a prioridade tem de passar pela redução das paragens não programadas com a melhoria da manutenção preventiva, o desenvolvimento de campos marginais e a exploração dentro das áreas de desenvolvimento. A exploração em caso de sucesso terá impacto somente em cinco a seis anos”, explica a fonte da agência.   

Resultante do processo de reestruturação do sector dos petróleos, a Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis foi criada por decreto de 6 de Fevereiro de 2019, herdando a função de concessionária da Sonangol. 

 
Fitch com alerta vermelho

A consultora Fitch Solutions estima que a produção de Angola deverá cair 41%, equivalente a 550 mil barris, para 762 mil barris por dia até 2028, quando comparada aos níveis de 2019 que foi de cerca de 1,3 milhões de barris/dia.  “A produção desapontante em Angola, o segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana, deve explicar o declínio de 550 mil barris por dia em 2028 face aos níveis de produção de 2019”, precisa a consultora no relatório enviado a clientes.

Entretanto, a ANPG salienta que “tudo depende do resultado da actividade de exploração”, salientando que “o relançamento da exploração em grande escala poderá, em caso de sucesso, contrariar esse prognóstico”.

“Estamos nesta fase a realizar exploração em quase todas as concessões petrolíferas, vamos iniciar também a avaliação do potencial petrolífero nas bacias do interior e acreditamos que, em algum sítio, teremos sucessos”, sublinhou a fonte da ANPG.