Bajulação e Dívida
1. Quando as ruas do país são tomadas de assalto para a “exaltação” do nome e da agenda de João Lourenço, abrem-se dúvidas legítimas acerca do verdadeiro compromisso com a eliminação das práticas que levaram ao endeusamento de José Eduardo dos Santos no passado. É preciso deixar-se claro, desde logo, que os receios não se colocam na esfera da legitimidade dessas acções. Os dirigentes, militantes, amigos e simpatizantes do partido no poder, sendo formalmente iguais a todos perante a Constituição, gozam dos direitos de reunião e manifestação, nos marcos balizados pela Lei.
As inquietações fixam-se, pelo contrário, no plano político, face ao contexto histórico que precede as novas campanhas de glorificação do líder. Para todos os efeitos, o actual comando do MPLA colocou o combate à bajulação e ao endeusamento no pacote das prioridades dessa legislatura. E, ao fazê-lo, virou as baterias precisamente para dentro, porque nenhuma outra instituição em Angola é responsabilizável pela institucionalização da bajulação, senão o próprio partido dos ‘camaradas’. E quais eram as práticas que se destacavam na elevação da adulação ao ex-líder? Ora, justamente as manifestações, as passeatas e a obrigatoriedade bíblica da referência à clarividência do chefe em qualquer discurso. Fosse escrito, fosse de improviso.
É simples: recuperar as manifestações de exaltação do líder, por muito dissimulado que seja o conteúdo da campanha, no contexto do que se diz combater em Angola, é qualquer coisa no mínimo contraditória.
2. O Ministério das Finanças recordou que o país vai reduzir drasticamente os recursos que canaliza anualmente do Orçamento Geral do Estado para o serviço da dívida, a partir de 2021.
Nas contas apresentadas ao ‘Jornal de Angola’ pelo director da Unidade de Gestão da Dívida Pública, Walter da Cruz Pacheco, os custos com o reembolso aos credores caem dos 20 mil milhões de dólares (montantes que são pagos desde 2017), para nove mil milhões de dólares no próximo ano.
As previsões merecem destaque, sobretudo, pelo significado que representam para o investimento público que vem sendo severamente penalizado desde 2014. No fundo, concretizadas as previsões, ainda que pela metade, o Governo começa a ter argumentos mais sólidos para insistir que 2021 poderá marcar a retoma do crescimento, mesmo que frágil, depois de meia década de recessão continuada.
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