INCUBAÇÃO DE UMA EMPRESA CUSTA CERCA DE DEZ MIL DÓLARES/MÊS

70% de empreendedores `morrem´ fora da Incubadora

EMPREENDEDORISMO. Apesar de vários apoios do Estado, apenas 30% dos pequenos empreendedores conseguem sobreviver dos riscos associados ao negócio. A incubação de uma empresa custa, em média, cerca de dez mil dólares por mês.

 

Cerca de 70% das pequenas empresas vão à falência, logo depois de sairem da Incubadora de Empresas (IEMP). Dentro da incubadora, a taxa de mortalidade é de 35%. De acordo com o director da IEMP, Jacinto Domingos, a falta de cultura empreendedora e a escassez de contratação pública estão na origem do elevado índice de desaparecimento das pequenas empresas.

“O Estado também distribui rendimento, por via da contratação pública. As grandes empresas públicas e privadas também deveriam terceirizar determinados serviços. Uma grande empresa vai construir uma estrada, por exemplo, Luanda/Soyo. Assume a infraestrutura principal, mas a pintura dos lancis pode passar para uma pequena empresa”, alertou Jacinto Domingos, acrescentando que “hoje a lógica da terceirização de pequenos serviços diminui os custos e dá oportunidades para outras empresas crescerem”.

Com sede em Luanda, a Incubadora de Empresas é um mecanismo criado em Maio de 2007, pelo Ministério da Administração Pública, Trabalho Emprego e Segurança Social (MAPTESS), com o objectivo de promover o empreendedorismo e facilitar a inserção no mercado formal de indivíduos que desenvolvem negócios no informal. Na Incubadora, os empreendedores recebem formação de contabilidade, fiscalidade, marketing, gestão de recursos e capacitação empresarial.

Jacinto Domingos entende que os pequenos empreendedores, “como não têm princípios e noções básicas de gestão contabilísticas, confundem a entrada de dinheiro com lucros, porque não conseguem calcular a verdadeira estrutura do custo. Por isso, apostamos muitos na formação”, analisou.

Com o lançamento do satélite (AngoSat), em 2017, Jacinto Domingos calcula que haverá melhores condições para o aprendizado e o comércio não presencial, gerando oportunidades de negócios. “Por isso, temos de nos capacitar para que possamos estar à altura desses desafios. Se nós, angolanos, não nos potencializar nessa área, certamente empreendedores de outras latitudes vão aproveitar estas oportunidades”, antecipa.

Além da formação, os beneficiários servem-se ainda do espaço fisco da IEMP para montar os seus escritórios. Todos os custos operacionais e investimentos do escritório são suportados pela Incubadora. O processo ocorre em duas fases, a pré-incubação e a incubação. Na primeira fase, o candidato não tem de necessariamente possuir um negócio. Basta que tenha `ideias empreendedoras´, o que lhe dá acesso a uma formação para um período de seis meses. Depois do curso, é-lhe facilitada a criação da sua empresa.

Estando criada a empresa, o empreendedor desenvolve o seu negócio no espaço da Incubadora, durante três anos. Se se mostrar madura, antes do tempo pré-definido, pode deixar os serviços da Incubadora, permitindo que um outro empreendedor preencha a vaga. Durante esta etapa, os empreendedores beneficiam de todo o tipo de consultoria necessária ao desenvolvimento do negócio.

Na pré-incubação, os candidatos comparticipam com o equivalente a 50 dólares por mês para manter os serviços de limpeza do espaço, enquanto, na fase da incubação, a comparticipação sobe para o equivalente a 100 dólares.

“Incutimos sempre ao empreendedor que, em economia, não há nada de graça e que eles têm sempre de comparticipar nos serviços”, justifica o director da Incubadora.

O custo de incubação de uma empresa ronda os 10 mil dólares por mês, dos quais dois mil dólares são suportados directamente pelo IEMP e o restante por patrocinadores, como a Chevron e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

Actualmente, encontram-se incubadas, na IEMP, 23 micros e pequenas empresas, tendo já passado por aquele `laboratório´ mais de três mil empreendedores. O IEMP intercede também junto dos bancos comerciais para facilitar a concessão de créditos para as suas incubadas. O financiamento vai até aos 20 mil dólares.

Neste momento, a Incubadora ajudou a gerar 147 postos de trabalho. Alguns postos, pela sua natureza são sazonais. “Por exemplo, na construção civil, se não houver obras os trabalhadores ficam em casa”, explicou o director. Em média, a IEMP facilita a criação de cerca de 200 empregos por ano.

A IEMP está expandida, pelo país, através dos Centros Local de Empreendedorismo (CLE), visando, sobretudo, incentivar o empreendedorismo no seio dos estudantes do ensino médio.

“Muitas vezes, o estudante do ensino médio e universitário tem, em mente, que, depois da formação, deverá trabalhar para o Estado, mas isto não deve ser assim”, alerta o interlocutor. A IEMP não tem fins lucrativos.

MEMORIZE

Na pré-incubação, os candidatos comparticipam com o equivalente a 50 dólares por mês para manter os serviços de limpeza do espaço, enquanto, na fase da incubação, a comparticipação sobe para o equivalente a 100 dólares.

 

EMPREENDEDORES NA PRIMEIRA PESSOA

Empreendedores que se encontram em fase de incubação na IEMP contaram a sua experiência. Todos viram o negociar crescer logo após a consultoria.

MARGARETH SOUSA, 34 ANOS

“Aqui é uma escola, aqui é uma experiência”

“Tenho a empresa MS Relações Públicas e Prestação de Serviços. Trata documentos de pessoas singulares ou colectivas. Comecei como relações públicas há seis anos. No princípio, não tinha um escritório, trabalhava no meu carro, fazendo o trabalho ilegalmente sem apoio de nenhuma instituição. Então recorri à Incubadora de Empresas, na esperança de dar estabilidade ao que faço. Cheguei aqui em 2014 e as coisas melhoram muito. Antes trabalhava sozinha, hoje somo cincos pessoas e tenho mais de 20 contratos de prestação de serviço. Aqui é uma escola, aqui é uma experiência e estou a gostar”.

EDSON AMARAL, 31 ANOS

“Já assinei três bons contratos”

“Este bicho do empreendedorismo nasceu há três anos, quando visitámos a Filda. Começámos a trabalhar de forma ilegal, mas, felizmente, em finais de Setembro, começámos a legalizar os nossos negócios de serigrafia. A empresa chama-se GAMARAL, é uma espécie de gráfica completa. Estamos na Incubadora desde Janeiro. Apenas há três meses, mas já com uma experiência boa. Aqui também temos mais facilidade de assinar contratos com clientes. No bairro Palanca, era mesmo complicado. A localização de um escritório é importante para qualquer negócio. Deste que estamos aqui, já assinámos três bons contratos. Eramos apenas duas pessoas, agora somos quatro”.

GERTRUDES VERÓNICA, 38 ANOS

“Este é o nosso último ano de incubação”

“Criamos a empresa APV Tradução, Interpretação e Ensino de Língua, depois de percebermos que muitos angolanos precisavam de tradução dos seus documentos para poderem estudar no exterior. Depois vimos a necessidade de alargar o negócio e entramos na área de interpretação e ensino. Começámos em 1996, éramos três pessoas. Um entrou com a ideia e outros com o capital. Na incubadora, estamos desde 2013. Temos escritório, mas está fora da cidade. A má localização do escritório não facilita o desenvolvimento do nosso negócio, por isso recorremos à Incubadora de Empresas para nos facilitar em termos de espaço. Este é o último ano de incubação, mas já estamos a criar condições, alugar um outro escritório, na zona dos Coqueiros. Mas aqui temos tido uma grande experiência e a localização ajudou a dar credibilidade à empresa”.