Empresa de reciclagem sem matéria-prima para produzir
RESÍDUOS. Dificuldades no acesso à água e custos com a energia eléctrica juntam-se às dificuldades em que se destacam a falta de incentivo à criação de cooperativas de recolha de lixo.
Com capacidade para transformar até 1,2 toneladas de plástico por hora, a fábrica Ango-Reciclagem, em Luanda, está a produzir apenas num único período e com muitas limitações por escassez de matéria-prima.
Apesar de abundante nas ruas do país, o plástico usado não chega à fábrica nas quantidades necessárias, situação explicada, em parte, pelo insucesso de uma proposta dirigida ao então Ministério do Ambiente e à Agência de Resíduos, há quatro anos, em que a Ango-Reciclagem apelava ao incentivo aos catadores de lixo. A empresa nunca chegou a receber qualquer reacção dessas entidades.
Patrícia Carvalho, gestora e proprietária da fábrica pertencente ao grupo GMST, explica que a intenção era ter, como principais fornecedores, pessoas agrupadas em cooperativas ou microempresas “com vista a ajudar a minimizar a pobreza e outros males sociais”, mas a ideia não se concretizou como esperado. “Criámos a fábrica com cariz social, não criámos uma unidade de recolha justamente para dar oportunidade à criação de cooperativas de recolha, retirando alguns resíduos das ruas e das lixeiras, mas não houve incentivo para a criação destas microempresas familiares e cooperativas”, lamenta.
A fábrica tem recebido pedidos de empresas de países europeus, depois de, em 2018, ter exportado sete contentores de 40 pés para a Turquia e Espanha e enviado amostras para Portugal e Vietname, mas não consegue responder à procura externa por falta de matéria-prima para produzir em grandes quantidades. Nesta fase, a operação só está garantida para o mercado interno graças à aquisição de quatro toneladas de plástico inviabilizada pela pandemia ficou, desde já, a venda de 18 toneladas que estavam previstas para Espanha no princípio do ano.
Os custos com a energia eléctrica, calculados em 35 mil kwanzas por média diária, juntam-se dificuldades como os problemas com o acesso à água. “Temos aqui um problema grave. Para a reciclagem, precisamos de ter água e dependemos de uma conduta pequena. Fazer reciclagem é um processo caro, envolve não só consumo de água, mas também o tratamento de águas residuais. A Zona Económica tem sido proactiva, mas a realidade é que nós aqui não temos uma conduta, pertencemos à ZEE, mas não estamos na zona infra-estruturada”, explica.
Em consequência disso, a empresa enfrenta “grandes prejuízos”, agravados pela paralisação total em 2019, em resultado de uma avaria. Tão logo retomou em Fevereiro deste ano, foi surpreendida pela covid-19, com a facturação de 6 milhões de kwanzas mensais a cair para a metade.
“Ainda não somos auto-suficientes, houve grande investimento por parte dos sócios, o retorno seria feito em quatro anos, mas não correu conforme previmos, tivemos vários percalços. Se olhasse para os números, não teria a fábrica aberta”, assegura Patrícia Carvalho, que atribui à “falta de atenção do Estado e da banca” às indústrias recicladoras e transformadoras o fraco crescimento destas.
Ainda assim, nos próximos tempos, a empresária pretende começar a transformar papel, numa parceria com uma empresa de recolha de resíduos.
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