Falta de cenoura abre ‘guerra’ entre supermercados e Ministério do Comércio
PRODUÇÃO. Preço da cenoura subiu, em dois meses, quase 10 vezes. Com as chuvas, não há produção. Supermercados solicitam importação, mas estão a ser travados pelo Ministério do Comércio, por causa das restrições.
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Muitos supermercados, em Luanda, registam nos últimos tempos escassez de cenoura. A culpa, acusam os distribuidores, é do decreto que aprova o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (Prodesi), que privilegia a produção nacional em detrimento dos produtos importados.
Alguns consumidores culpam os supermercados pela falta de um dos legumes mais consumidos pelos angolanos. O preço do produto disparou. Há lojas em que um quilo, que ainda há dois meses custava 300 kwanzas, passou a custar 5.500.
Alguns importadores, ouvidos pelo VALOR, dão conta que, nesta fase do ano, os produtores nacionais não conseguem produzir cenoura por causa da época chuvosa. “A cenoura planta-se em campo aberto e por isso não resiste às águas das chuvas. A batata rena também, ao contrário do tomate que pode ser produzido em estufas”, esclarece um importador.
Os distribuidores apontam a importação como um dos caminhos para “contrabalançar” a escassez nesta época do ano, mas culpam o Ministério do Comércio e Indústria por criar entraves. “As licenças de importação de cenoura foram limitadas ou totalmente inibidas. Não há uma proibição declarada. Não é proibido importar, mas não nos dão licença para importar”, queixa-se um responsável de um dos maiores supermercados de Luanda. De acordo com o mesmo, o Ministério desculpa-se com a produção nacional. “E, de facto, havia, mas quando acontece isso… é uma chatice”, lamenta.
Outra responsável de um outro supermercado confirma que o problema da falta de cenoura tem que ver com as restrições à importação. Também aponta o dedo ao Ministério do Comércio e Indústria que tem recusado aprovar o pedido de licenciamento para a importação de cenoura. “O Ministério da Agricultura até já aprovou a importação de cenoura, ao aprovar o pedido de licença de importação, mas o Minco recusa-se a aprovar o pedido”, conta
No caso, o supermercado tem um pedido há mais de um mês que não é aprovado.
COMÉRCIO ADMITE ESCASSEZ, MAS NEGA PROIBIÇÃO
O Ministério do Comércio e Indústria admite que há escassez de cenoura no mercado interno, por causa da época chuvosa, mas nega que haja um veto à importação.
Segundo a pasta, com base no decreto 23/19, que fundamenta o Prodesi, os distribuidores devem acautelar esta situação com “contratos futuros”, com os produtores locais. “O decreto não proíbe nada. Não é bem verdade que o Ministério não está a licenciar. O decreto visa apenas incentivar e proteger a produção nacional”, defende fonte do Comércio.
No momento, garante, não há qualquer pedido de licenciamento de importação de cenoura e coloca “as mãos no fogo se algum distribuidor conseguir provar o contrário". “Estamos a admitir tudo desde que obedeçam ao estabelecido na lei”, remata.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...