Mais de 600 funcionários da DP World à beira do desemprego
EMPREGO. DP World rejeita ficar com os 1.200 funcionários do Terminal Multiusos do Porto de Luanda por constituir grande “excedente”. No entanto, em Janeiro, garantia manter todos os postos de trabalho. No concurso público, também assegura conservar os trabalhadores e reforçar a formação profissional. Despedimentos podem começar no fim de Maio.
Por Guilherme Francisco
O clima é de receio e tensão entre os funcionários do terminal multiusos do Porto de Luanda, agora sob gestão da DP Word, perante a iminência de despedimentos em massa nos próximos dias.
Em Fevereiro, 475 funcionários foram transferidos para o Porto Seco (Mulemba), com a garantia de não serem despedidos, ao abrigo da redução de número de funcionários imposta ao Porto de Luanda pela empresa saudita que identificou um elevado excedente de trabalhadores. O que contraria o que foi afirmado ao longo do processo e no dia em que assinou o contrato de concessão com o Ministério dos Transportes.
Sob gestão do Porto de Luanda, sem qualquer vínculo contratual, os funcionários explicam “não ver bem o processo” e desconfiam de um eventual despedimento em massa.
A mesma insegurança sentem os actuais 725 funcionários que se encontram no terminal multiusos. Informações dão conta de que, a partir do fim de Maio, ou princípio de Junho, 200 funcionários poderão ir para o desemprego. “Depois de ter ganho o concurso público de exploração do terminal multiusos do Porto de Luanda, a empresa tirou quase 500 trabalhadores da gestão antiga e entregou ao Porto de Luanda para os gerir. Agora fala-se em mais de 200 trabalhadores que vão ser mandados para casa. Esta empresa será que veio para gerar empregos ou veio mais para aumentar o já elevado número de desemprego?”, questiona, em tom de lamentação, um funcionário cuja identidade é salvaguardada.
Um outro funcionário refere não acreditar na promessa feita pelo Porto, de salvaguardar os postos de trabalho, “uma vez que também está a desfazer-se de trabalhadores.” Por isso, não vislumbra qualquer futuro diante do "rebentar da corda no lado mais fraco" e já pensa na realização de manifestação.
Por sua vez, o sindicato de trabalhadores do terminal multiusos considera não existir qualquer indício de despedimentos. O clima de receio é motivado pela ‘amarga’ experiência na transição de gestão dos anos anteriores e “falta de compreensão” da maioria dos funcionários. “Muitos pensam que vão sair porque não falam inglês, visto que a empresa é estrangeira.” Uma posição contrariada pelos funcionários que alegam que o sindicato está a “agir em cumplicidade com a direcção da DP World”.
PORTO DE LUANDA E DP WORLD À MESA
Ao VALOR, uma fonte do Porto de Luanda confirma a pretensão da DP World em reduzir o número de funcionários. E afasta a possibilidade de passarem à empresa pública porque se encontram em situação de pré-reforma.
No entanto, garante que nenhum dos trabalhadores ficará “abandonado”, embora alguns sejam prestadores de serviço. Está à mesa, em negociações, com a empresa sediada no Dubai, no sentido de enquadrar os excedentes no “seu escopo de negócios”.
A empresa de logística multinacional dos Emirados Árabes Unidos começou a operar a 1 de Março, após ter ganho o concurso público internacional aberto a 16 de Dezembro de 2019, que sofreu várias alterações durante o processo, e que mereceu forte contestação de uma das empresas concorrentes.
Na altura da assinatura do contrato com o Ministério dos Transportes, em Janeiro, a DP World garantia "manter todos os postos de trabalho" e assegurava ter planos para a formação profissional dos seus trabalhadores. Aliás, durante o concurso público, o projecto da DP World recebeu uma nota elevada no item "recursos humanos", em que também está incluído o valor previsto para a formação profissional: 2,3 milhões de dólares.
Na análise à proposta da empresa do Dubai, no concurso público, o júri sublinha que "a DP World garante a incorporação da totalidade dos recursos humanos afectos à concessão, apresentando um plano de desenvolvimento específico e detalhado de formação e capacitação de quadros a vários níveis" e acrescenta que "considera o plano de formação muito adequado".
“Quem no fundo acaba por ter poder sobre o judicial...