Exterminação de abelhas e queimadas escasseiam mel
APICULTURA. Produtores afirmam que o ano passado foi improdutivo e admitem um 2021 pior, se não houver medidas contra o “genocídio das abelhas”. E apontam o dedo à falta de fiscalização das autoridades.
A produção do mel reduziu “drasticamente” no Moxico, o maior produtor do país, e no Huambo, em consequência de “práticas prejudiciais” ao ambiente, levadas a cabo por exploradores de madeira, camponeses e caçadores.
No Moxico, o consultor da marca ‘Mel do Moxico’, Marco António, denuncia a utilização de insecticidas pelos chineses para matar as abelhas antes do abate das árvores. Prática que classifica de “genocídio das abelhas.” As poucas que resistem ao ataque químico “tornam-se improdutivas”.
Em consequência disso, a marca detida pela Cooperativa de Agro-pecuária, Pesca e Apicultura (Coapa), com uma capacidade de processamento de cinco toneladas por dia, no ano passado não teve qualquer produção. Em Fevereiro deste ano, retomou mas contabiliza pouca produção, “fruto de muito esforço”.
Marco António lamenta a falta de “fiscalização rigorosa”, além da inoperância das colmeias modernas, cuja produção é seis vezes acima da tradicional, entregues às cooperativas em 2017. Até ao momento, não produziram qualquer quantidade de mel, pelo que recomenda um estudo no sentido de se apurar o local certo para as colocar. Por este motivo, os produtores ainda dependem em grande parte das árvores, optando pelos métodos mais tradicionais.
A situação é mais dramática no Huambo. Nesta província, o dono da marca Maxmel, Max Vicente, está há dois anos sem qualquer produção em resultado da estiagem, agravada pelas queimadas provocadas por camponeses e caçadores que “destruíram boa parte das colmeias.” Isso depois de registar colheita de quase três toneladas, em 2018, e duas toneladas, em 2019.
Há dois anos, a empresa não abastece o hipermercado Kero do Huambo e outros, enfrentando o “espinhoso desafio” de não fechar as portas. Já foi obrigada a reduzir de 12 para dois o número de funcionários e luta, desde Outubro do ano passado, para receber financiamento por via Prodesi. “Estamos há dois anos praticamente mortos, tirando de fundos próprios para pagar os funcionários. Os sócios vão continuar a investir para ver se a empresa não morre”, garante Max Vicente, considerando não haver na província fiscais do Instituto de Desenvolvimento Florestal (IDF) suficientes para controlar as florestas.
“Lastimável” é como descreve o presidente da Associação de Produtores de Mel do Huambo, Tiago Luísa, a situação que ocorre no planalto central. “Nos últimos tempos, estamos a enfrentar escassez de mel, o abate de árvores na região centro e leste é uma realidade. Os chineses não se importam com o ambiente, como se vê no Huambo e Moxico, importante para eles é explorar sem se importar com a consequência. Nem se preocupam em plantar”, lamenta.
O líder associativo alerta que as práticas nocivas estão a extinguir várias espécies de abelhas, comprometendo o desempenho dos 20 produtores associados na província. Conjuntamente produziram o ano passado seis toneladas de mel, contra as quase quatro do ano anterior. Ainda assim, considera uma quantidade bastante reduzida de um produto com bastante procura.
Por sua vez, um produtor artesanal no Huambo, que se identifica apenas como António, culpabiliza os camponeses e caçadores pela redução produção de mel. Neste ano, conseguiu colher pouco menos de 40 litros, contra os 60 litros do ano passado.
MEL ANGOLANO EXPORTADO COMO SE FOSSE ZAMBIANO
Compradores zambianos têm adquirido maioritariamente o pouco mel produzido no Moxico e oferecem o dobro do valor pago pelos compradores angolanos. Marco António afirma que certos produtores “fogem” dos nacionais para ganhar mais, esquecendo-se do “patriotismo”.“O escoamento ilegal para a Zâmbia faz com que nós, Coapa, tenhamos dificuldades de ter o produto como tínhamos antes”, queixa-se.
Os zambianos processam e vendem noutros países sem o rótulo de ter sido produzido em Angola. Marco António assegura que o Ministério da Agricultura sabe do “esquema” que tira o mel de forma ilegal do país.
O director do Instituto de Desenvolvimento Florestal, Simão Zau, nega as denúncias de produtores de que os exploradores de madeira de nacionalidade chinesa estejam a usar insecticidas para exterminar abelhas, antes do abate das árvores. E afasta a possibilidade de a exploração da madeira estar na base da falta de mel no Moxico, referindo que o abate feito por agricultores é maior. Simão Zau recomenda, no entanto, um estudo para se apurar as causas do desaparecimento de abelhas na região leste.
Contrariando as estimativas dos produtores, segundo as quais a produção está a reduzir, Zau cita dasdos do IDF que estimam que a produção de mel está a crescer. No ano passado, foi de 90 toneladas, correspondente a um crescimento de mais de 50 toneladas, face a 2019. E, com vista a aumentar a produção, Simão Zau explica que está a ser entregue a apicultores colmeias modernas. “Já distribuímos cerca de quatro mil colmeias e formámos mais de 10 mil apicultores tradicionais em novos métodos de produção de mel”, argumenta.
Estimativas da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), divulgadas em 2020, projectavam um crescimento de 110 toneladas na produção anual de mel.
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