Contas sem movimentos e clientes ‘presos’ ao banco

Clientes do BPC à beira de um ataque de nervos

BANCA. Problemas do banco deixam clientes nervosos. Há quem não consiga movimentar contas sobretudo no final do mês quando ‘cai’ o salário. Há ameaças de queixas ao Inadec. Banco justifica-se com problemas tecnológicos antigos.

 

Clientes do BPC à beira de um ataque de nervos
D.R

Clientes do Banco de Poupança e Crédito (BPC) têm enfrentado, nas últimas semanas, inúmeras dificuldades para levantar dinheiro nos balcões e para usar os cartões de débito, vulgos multicaixas, nos Terminais de Pagamento Automático (TPA).

A situação melhorou ligeiramente durante o último fim de semana, mas ainda permanecem a “sorte” e o “jogo das tentativas”, como descrevem alguns clientes, em especial funcionários públicos que se dizem ‘amarrados’ ao banco.

Por exemplo, há dois meses que Teresa André, professora, enfrenta problemas, precisamente na altura em que ‘cai’ o salário, tendo já experimentado dificuldades para pagar contas. “Infelizmente, ainda existem pessoas que não conseguem fazer operações. Consegui fazer levantamentos, mas as duas pessoas que me antecederam não”, contou ao VALOR, enquanto saía de um multicaixa.

O técnico informático Mateus Simão também sentiu “inúmeros constrangimentos” nos últimos dias. Foi obrigado a recorrer a empréstimos para cobrir algumas despesas e agora vai ter de pagar com juros. “Agora que já consigo movimentar a conta só me resta pagar as dívidas contraídas por esta falha que acontece todos os meses”, lamenta.

Mateus Simão pretende fazer uma reclamação formal contra o banco, apesar de afirmar que o Instituto Nacional de Defesa do Consumidor (Inadec) “quase nada faz”. Além disso, planeia deixar de ser cliente do BPC, mas sente-se “refém”, porque o banco exige o pagamento de uma taxa de 10 mil kwanzas para passar uma declaração de idoneidade.

Uma outra cliente, que não quis ser identificada, também disse ao VALOR que, por causa da dificuldade que teve em usar o cartão, teve de endividar-se para comprar medicamentos e comida. “Não é justo. Vamos ser indemnizados? Como vão compensar os clientes? Fui às compras e fiquei armada em Lussaty, fiz já tantas compras e tive de devolver. Não se faz”, lamenta. Também ela tentou mudar de domicílio salarial, ou seja, deixar o BPC, mas desistiu depois de o banco ter exigido o pagamento de uma taxa.

Vários clientes também recorreram às redes sociais a contestar o banco. Uns ameaçaram com processos e outros espelharam os problemas que a dificuldade de usar os multicaixas estava a causar. Há quem tenha deixado de fazer medicação, outros de realizar compras e alguns de fazer pagamentos de rendas e de bens básicos.  

BPC justifica-se

O BPC reconheceu as dificuldades, justificando-as com as “limitações de processamento e do funcionamento do ‘core bancário’, por causa da pressão que é exercida sobre a infra-estrutura tecnológica do banco”. O director de marketing, José Matoso, em entrevista à TV Zimbo, no final de semana, pediu desculpas aos clientes, prometendo que os constrangimentos seriam ultrapassados na sexta-feira.

Os trabalhos para a solução dos problemas foram concluídos na quinta-feira passada. José Matoso declarou que a situação tem sido “infelizmente recorrente nos últimos anos no BPC” e que isso “deriva de um problema antigo”. Matoso explicou que o banco herdou uma infra-estrutura tecnológica antiga, em que, nos períodos de maior pressão como ocorre no final do mês com pagamentos de salários, provoquem alguns problemas técnicos. “O que aconteceu é que estávamos a fazer o fecho de contas do mês no dia 31, que coincidiu com o período de maior pressão, e houve um erro no processamento de dados que fez colapsar o todo o sistema”, precisou.

José Matoso garante que a infra-estrutura vai ser substituída totalmente. Até ao final do mês, parte dela será substituída e a restante será até ao início de 2022.  “É um processo que leva tempo e estamos a fazer esta migração de forma faseada”, explicou.

Em relação aos clientes que solicitaram a mudança de domicílio salarial, José Matoso lembra que o banco “não tem competências nem poder para travar os clientes de mudarem de banco”. E declarou ter sido a primeira vez que ouvia falar de clientes impedidos de mudar de domicílio salarial.