O nosso prémio que veio num envelope
Na terceira semana de Março de 2020, o chefe de redacção do VALOR decidiu criar um espaço dedicado exclusivamente à covid-19. Os argumentos do César Silveira não tiveram sequer de ser discutidos. O mundo tinha começado a ser agitado por um fenómeno estranho de proporções até então inalcançáveis. A ignorância era mundialmente generalizada, a especulação era a palavra de ordem e a ansiedade e angústia tomavam conta de todos. Não era para menos. Para os curiosos e conhecedores de História, quando a covid-19 passou a ter como paralelo mais imediato a gripe espanhola, que arrasou a humanidade na primeira metade do século passado, a soma de todos os medos passou a fazer todo o sentido. Nada, portanto, poderia ser mais importante do que a disseminação de toda e qualquer informação útil sobre a pandemia. Os temas puramente económicos e políticos, por largos meses, teriam de estar forçosamente subalternizados às preocupações sanitárias. Mais do que convincentes, os argumentos do Silveira eram, por isso, óbvios e a direcção do jornal simplesmente aprovou-lhe a ideia de forma imediata. E assim o espaço ‘Covid’ apareceria, pela primeira vez, em página dupla, na edição número 201, de 23 de Março de 2020.
Sete meses depois, surgiria então uma distinção completamente inesperada. A Fundação Merck, braço filantrópico da Merck KGaA Alemanha, revelou os vencedores dos Prémios de Jornalismo ‘Fique em Casa’ para África. E, na categoria imprensa em Língua Portuguesa, o vencedor acabou por ser o César Silveira, do VALOR, ao lado de Evelina Mavie do moçambicano ‘Sociedade do Notícias’. O nosso jornalista distinguido e o jornal ficaram, naturalmente, regozijados, mas a história não acabaria por aí.
No caso de África, a organização havia assegurado que os prémios estavam a ser anunciados em parceria com as primeiras-damas de pelo menos 17 países, incluindo naturalmente a angolana Ana Dias Lourenço. E assim foi. Na oitava edição da MerckFoundation AfricaAsia Luminary, realizada de forma virtual, Ana Dias Lourenço felicitou o jornalista angolano e, desde então, o jornal ficou à espera da chamada ao Palácio para a recepção do certificado. É isso pelo menos o que se tem assistido nas diferentes geografias em que, à semelhança de Angola, foram premiados jornalistas pela Fundação Merck. Nada disso ocorreu. O nosso certificado chegou-nos num envelope, no sábado, 19 de Junho. Era apenas isso. Não há mais história.
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