Travão na diversificação da economia

Falta de infra-estruturas na ZEE e PDIV 'apavora' empresários

28 Jul. 2021 Economia / Política

PRODUÇÃO NACIONAL. Falta energia, água, iluminação pública e vias de acesso na Zona Económica Especial e Pólo Industrial de Viana, tidos como motores para a diversificação da economia. Entre velhas promessas, MEP remete-se ao silêncio, enquanto IDIA diz estar dependente do aval do Presidente da República, para dar vida aos Pólos. Por sua vez, economista antevê desinvestimento privado pela falta de condições.

Falta de infra-estruturas na ZEE e PDIV
D.R

As lamentações vêm de há muito tempo, acompanhadas de promessas de melhoria das condições nunca concretizadas, na Zona Económica Especial (ZEE), agora Zona Franca, e no Pólo de Desenvolvimento Industrial de Viana (PDIV). As dificuldades nos dois pontos considerados estratégicos no que toca à produção nacional são as mesmas. Falta de tudo: água da rede pública, iluminação, energia eléctrica, segurança e vias de acesso.

Na ZEE, a região infra-estruturada é aquela em que a petrolífera Sonangol implantou unidades e onde se encontram maioritariamente as fábricas incluídas no programa de privatizações. “O resto é uma maré de dificuldades”, conta uma empresária, sob anonimato por conta das “represálias sofridas em resultado de querer falar sempre das dificuldades a que estão expostos os empresários”. Na zona em que está implantada a fábrica desta empresária não existe asfalto, reina poeira, não há acesso à água potável, fundamental no processo produtivo, o que a leva a depender da solidariedade de uma outra indústria que conseguiu por conta própria ter água através de uma conduta próxima. 

A empresária explica, lamentando, que produz essencialmente à base de energia alternativa, através de geradores. Como resultado, os custos são elevados. Só de combustível, são necessários acima de 200 litros por semana, sem contar com os cerca de 400 kwanzas que gasta pela energia da rede, apesar de não utilizá-la plenamente.

À semelhança da ZEE, os empresários instalados no PDIV lamentam e enumeram as mesmas dificuldades. Recentemente, a Fabrimetal foi obrigada a investir numa subestação de energia própria para aumentar o seu nível de produção. Luís Diogo, director-geral, ao Valor Económico, disse que os problemas estruturais acabam por afectar na qualidade dos bens e serviços.

“Quando se tem instalada uma indústria numa zona onde não há infra-estruturas, água, as coisas básicas para que isso aconteça, não se pode exigir ao empresário que faça investimentos adicionais na qualidade“, entendeu.

Já o director da Topack, Diogo Ferraz, explica que a fábrica, com capacidade instalada de produzir 800 mil toneladas de plástico e 850 mil toneladas de pet (garrafas de plástico) por mês, recorre a meios próprios para garantir a produção. “Ainda compramos água em camiões-cisterna, temos ainda, por alguns momentos, dificuldade eléctrica e uma variedade na tensão acaba por danificar máquinas e equipamentos”, explica, inquieto também com a questão de segurança pública.

O cenário torna-se mais caótico em tempos de chuva, porque existem áreas em que até camiões têm imensas dificuldades de circular, comprometendo o reabastecimento das matérias-primas e a entrega dos produtos aos clientes. Enquanto os ligeiros não conseguem ter acesso.

DIVERSIFICAÇÃO COMPREMETIDA

No entender do economista Eduardo Manuel, a falta de infra-estruturação dos Pólos Industriais e da ZEE, agora Zona Franca, constitui entrave para o crescimento da economia angolana e retrai a atracção de empresas industriais, o que, consequentemente, mancha a política de diversificação da economia. “Não deixa de ser um factor problemático para a diversificação da economia, visto que, para que se possa desenvolver o sector industrial, as empresas que actuam ou que pretendam actuar neste sector deverão ter condições para a sua operacionalidade. Ou seja, estas empresas deverão ter acesso às infra-estruturas básicas (água, energia, telecomunicações) porque caso contrário será muito arriscado investirem”, observa.

Para Eduardo Manuel, os constrangimentos representam um “factor problemático” para a integração na zona de comércio livre. E antevê que o país poderá viver uma situação de eventual deslocalização do seu investimento directo estrangeiro (IDE) já realizado e das eventuais intenções de IDE para outros países-membros da Zona de Comércio Livre, incluindo os países-membros vizinhos. “Isso compromete não só o processo de diversificação económica, mas também a geração de emprego e de receitas. O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) ficará mais dependente das receitas petrolíferas e diamantíferas”, alerta.

O economista recomenda investimento “urgente” na infra-estruturação dos Pólos e, sobretudo, das Zonas Francas. E recorda que a materialização desta necessidade pode ocorrer através de parcerias público-privadas ou mesmo pela via da privatização parcial ou total, desde que seja efectivado diante de antecipado estudo e baseado nos objectivos que se pretende alcançar a nível do crescimento e desenvolvimento económico local.

PR APRECIA PLANO DO IDIA

O director-geral do Instituto de Desenvolvimento Industrial de Angola (IDIA), Dário Camati, reconhece a falta de condições nos pólos industriais. E explica que está à espera da aprovação do Plano de Desenvolvimento Industrial, a merecer apreciação do Presidente da República, depois da consulta pública, para que se possa dar “outra vida” aos pólos.

O plano, a depender de verbas do OGE, está avaliado em 120 milhões de dólares e mais de 62,5% do valor (mais de 74,4 milhões) será destinado à infra-estruturação dos pólos de desenvolvimento industrial. O gestor acredita na aprovação do plano este ano e na sua execução em 2022. “Tivemos um período em que o investimento público foi reduzido, por esta razão, não estamos alheios a esta realidade, apesar de haver uma componente privada no próprio plano, o grosso do investimento a ser feito é público”, salienta.

Particularizando o PDIV, sublinha que a questão da energia eléctrica terá melhorias em breve trecho. Foi construída uma nova subestação de energia para ‘alimentar’, em pleno, todas as fábricas do perímetro, com capacidade de 100 megawatts contra os cinco actuais.