NELO, LÍDER NA CONSTRUÇÃO DE BARCOS DE COMPETIÇÃO

Campeã olímpica com origem angolana

10 Aug. 2021 Emídio Fernando Gestão

Indústria. Arrecadou 25 medalhas nos Jogos Olímpicos, oito das quais de ouro. Regista um crescimento entre os 10 e os 15% anuais. 98 por cento do que produz é para a exportação. É uma empresa portuguesa, com origem em Angola, e é líder mundial no fabrico de caiaques e canoas desportivas.

Campeã olímpica  com origem angolana

Manuel Barros ‘ganhou’ o diminutivo ‘Nelo’ em Angola, onde nasceu e viveu até à adolescência. O nome dado por familiares quando ainda era miúdo serviu para ‘baptizar’ a empresa que lidera a construção de canoas desportivas.

O pai do empresário trabalhou no departamento de florestas, no Zaire, e hoje o empresário recorda-se de o ver “carregar eucaliptos para abastecer as máquinas dos comboios, pois, na altura, era essa a fonte energética”. Foi aí que bebeu o gosto e o respeito pela natureza, quando passou parte da infância no “meio do mato”. Em entrevista ao jornal português ‘Expresso’, revela ter tido “uma infância espectacular, da qual guardo óptimas memórias de viver no meio de todo o género de animais, como leões, hienas, macacos, búfalos, recordações da floresta, dos rios e cascatas e, claro, dos meus amigos que viviam lá. Foi fantástico”.

Esse gosto pela natureza levou-o a dedicar-se aos desportos náuticos, em especial, ao remo. Mas foi em Portugal que conseguiu concretizar um sonho de adulto. Em 1978, Manuel Ramos inaugurou a fábrica de canoas e caiaques, em Vila do Conde, uma pequena cidade no Norte do país, conhecida no desporto, por ser a sede do clube Rio Ave.

Começou com um espaço pequeno e hoje a fábrica tem uma área de 20 mil metros quadrados onde trabalham 150 funcionários. Grande parte pratica, ou já praticou, canoagem. Nos últimos anos, o crescimento da empresa tem mantido um ritmo entre os 10 e os 15%. As exportações representam 98% da produção, com caiaques a chegar a 100 países, da Europa, ao Canadá, Japão, China ou Hong-Kong. Uma das regras de gestão da empresa é nunca depender de um país em mais de 6% a 7% da facturação.

A primeira medalha olímpica conquistada por uma embarcação, Nelo foi aos Jogos de Atlanta, nos EUA, em 1996. Desde essa altura, foi somando conquistas, cinco, em Sidney, na Austrália, 14 em Atenas, na Grécia, 20 em Beijing, na China, e 25 em Londres, em Inglaterra. Nestas Olimpíadas, repetiu o número de medalhas, 25, menos duas do que nos Jogos do Rio de Janeiro.

Fora da competição olímpica, as embarcações construídas pela empresa conquistaram mais de 100 medalhas em Mundiais. “O essencial é não nos limitarmos a fazer o que os outros fazem, querermos ser superiores à concorrência. Depois é preciso criar uma dinâmica vencedora. No nosso caso, isso significou chegar à alta competição e fazer o caminho ao lado de atletas ganhadores para criar uma imagem de sucesso”, foi a receita revelada por Manuel Barros, em entrevista ao jornal Expresso.

 Manuel Barros orgulha-se de liderar uma empresa líder mundial em caiaques e canoas de alto desempenho. A fábrica é responsável pela construção dos barcos, desde a concepção até à prestação de serviços e tecnologia. Todos os modelos são desenhados pela Nelo.

Mesmo sem se sentir um saudosista, Manuel Barros já confessou ter vontade de investir em Angola, mas há anos que enfrenta obstáculos. Tem um projecto de fazer crescer a canoagem em África, através de Angola, há mais de 10 anos. Os planos passavam por criar um centro de estágio, mas desistiu. Essa hipótese, como confessou ao Expresso, “foi posta de lado porque existem poucas camas e a vida é bastante cara”. O outro projecto, não totalmente ‘morto’, passa por ensinar em Angola, a construção de barcos de competição. Mas continua por concretizar.