Bruno António Fernandes Especialista em Gestão de Recursos Humanos

Em Angola, os jovens formandos são deixados à sua sorte

FORMAÇÃO. Especialista em Gestão de Recursos Humanos lamenta a pouca qualidade dos jovens que saem das instituições de ensino para o mercado de trabalho. Bruno António Fernandes defende a implementação de orientadores no sentido de se suprirem as debilidades gritantes.

Em Angola, os jovens formandos são deixados à sua sorte
D.R

O que tem identificado nos candidatos a emprego?

Durante os vários anos a trabalhar em Recursos Humanos, tenho constatado várias situações, desde jovens com forte potencial de crescimento e vontade de aprender e crescer dentro de uma organização, mas, por outro lado, com debilidades básicas para o nível de formação académica que apresentam e a idade dos candidatos. 

Em que lado está a falha?

 As falhas começam logo no processo de formação. Os jovens não têm uma formação alinhada, fazem cursos profissionais que não agregam valor à formação académica. Cometem erros frequentes na elaboração do currículo, como erros ortográficos, tamanho das letras muito reduzido, cores por excesso, erros de concordância, género e grau, e ainda erros como envio de CV em formato de fotografia, atrasos nas entrevistas ou apresentação nas entrevistas com roupas inadequadas, uso de calão nas entrevistas, outros erros.

A qualidade de ensino influencia os erros básicos?

As falhas são fruto, sobretudo, de falta de orientação. As instituições de ensino, nos seus planos curriculares, não contemplam a orientação profissional, o nosso sistema de ensino não tem esta visão. Em Angola, não existe a figura do orientador profissional ou profissional de carreira, os jovens formandos são deixados à sua sorte ou pela decisão dos pais sobre que curso fazer para sua inserção no mercado de trabalho e acabam por cometer erros e fazer cursos que o mercado de trabalho não absorve. Portanto, as falhas são genéricas, o sistema de ensino é apenas uma das componentes para a solução do problema. A problemática da procura de emprego deve ser vista como um todo, envolvendo vários sistemas do país, como o sistema educacional, o sistema social, justiça, igrejas, assim como a sociedade em geral, pois todos estes actores devem contribuir para este processo.

Deste modo, fica cada vez mais complicado os jovens conseguirem o primeiro emprego?

O emprego é um problema em toda a parte do mundo e é ainda maior quando se fala de emprego para a juventude ou primeiro emprego. Penso ser importante abordarmos a problemática do emprego nas universidades, instituições públicas, órgãos do aparelho do Estado e sociedade em geral para que encontremos, juntos, soluções viáveis para este problema, com políticas de incentivo às empresas para a criação de estágios, oportunidades de primeiro emprego para a juventude e a criação de leis que facilitem estes processos com incentivos, quer de redução de impostos e taxas, quer mesmo bonificação para as empresas que criarem estas oportunidades para os jovens.

Como olha para os desafios do emprego em Angola?

Olho com bons olhos, pois, felizmente, estamos cada vez mais globalizados e conectados, e isso ajuda na execução dos processos de forma padronizada e acompanhando a realidade de outras sociedades. A competitividade é uma das melhores formas para o desenvolvimento do capital humano. Claro que existem algumas coisas a serem melhoradas, mas julgo que estamos no bom caminho.

A subida da taxa de desemprego contribuiu para o aumento da competitividade?

Existe uma competitividade muito grande, as oportunidades de emprego no mundo são cada vez menores e Angola não fica isenta. O impacto da pandemia, por exemplo, na nossa economia, criou grandes problemas com muitas empresas a fecharem outras a trabalharem com redução na sua produção, o que obrigou algumas empresas a reduzirem o capital humano. Muitos jovens foram para o desemprego, alguns com conhecimentos sólidos no que faziam e outros nem por isso. Estes concorrem entre si nas poucas oportunidades que aparecem e ainda com os jovens que procuram pelo primeiro emprego, o que cria uma competitividade muito grande entre os candidatos.

Qual é o espirito do potencial empregado?

Para qualquer candidato à procura de emprego, o espírito é de muita insegurança, pois, com as poucas oportunidades de emprego e com o grande número de candidatos, muitos dos quais com grande experiência profissional, alguns sujeitam-se a qualquer oportunidade. A insegurança é grande. 

O que os empregados hoje procuram?

Procuram candidatos com conhecimentos sólidos, de preferência em várias áreas de conhecimento, capazes de darem respostas urgentes aos problemas.

Perfil

Um estudioso dos Recursos Humanos 

Bruno António Fernandes é especialista em Gestão de Recursos Humanos. Nasceu no Sambizanga, em Luanda, na década de 1980. Conhecido nas lides literárias como Banzo Muxima, é autor do livro poesia ‘Meu Musseque, Meus Amores’, lançado em 2019, e do ‘Guia Prático para Procura do Primeiro Emprego em Angola’, publicado este ano.