“A actividade empresarial em Angola é incipiente”
A presidente do conselho de administração do Instituto de Fomento Empresarial (IFE), considera a actividade empresarial em Angola incipiente, mas mostra-se optimista com a capacitação dos empresários. Dalva Ringote Allen avança que o IFE conseguiu captar uma linha de financiamento de 70 milhões de euros da Espanha, que vai ser divulgada em Fevereiro próximo.
Como caracteriza a situação das empresas angolanas, podem considerar-se competitivas?
A actividade empresarial privada em Angola é bastante incipiente. É público que o país têm uma elevada dependência do sector petrolífero e que, com a desaceleração deste, o não petrolífero ficou afectado também. Não obstante a isso, se olharmos para a região, Angola tem vantagens competitivas relativamente a mercados como Áfric do Sul porque possui um conjunto de produtos exportáveis como petróleo, diamante, rochas ornamentais, café...
E nesses sectores, temos empresas competitivas?
Temos algumas, membros das Empresas Exportadoras e Internacionalizadas de Angola (CEEIA), e os nossos bancos também estão prontos para a internacionalização. E ainda há outras empresas a experimentar a internacionalização de produtos diversos. Mas é preciso sublinhar que não basta termos um número, é preciso apoiarmos as nossas empresas e torná-las fortes, e inseri-las no mercado internacional para competirem em pé de igualdade.
Quantas fazem parte da CEEIA?
Cerca de 30 empresas dos diferentes sectores de actividade, em números exactos estamos a falar de 28, incluindo alguns bancos.
Quais são os pontos fracos do empresariado nacional?
Temos de reconhecer que o nosso mercado é novo se compararmos com outras economias desenvolvidas. Mas um dos pontos fracos específicos é a fraca capacitação. Temos dotado as nossas empresas com insumos necessários do ponto de vista de gestão para que tenham robustez, porque os outros elementos, como as dificuldades financeiras, são secundários.
Que dizer da taxa de mortalidade das empresas?
É preocupante. Do total de empresas cridas num espaço de um ano, apenas 30% sobrevivem , 70% morrem, segundo o Instituto Nacional de Estatística. Entendemos que é uma questão muito preocupante.
O Ministério da Economia tem soluções para contornar a situação?
É preciso, primeiro, que os empresários e empreendedores estejam dotados de conhecimento. O Governo tem estado a criar instituições como IFE para que, com a capacitação e outros apoios, como a instrução na elaboração dos seus processos, sejam bem-sucedidos. É preciso também que, na hora de se criar uma empresa, o empresário saiba o seu foco.
Que tipo de apoio o IFE presta ao sector empresarial?
O Instituto de Fomento Empresarial (IFE) foi criado para ajudar o empresariado nacional a potencializar-se para poder ombrear com empresas de outros mercados. Neste momento, está em curso a formação e capacitação de líderes de comunidade do subsector do café, sendo que esta é uma ‘comodity’ de relevância no mercado internacional. Apoiamos na remoção de barreiras institucionais, na identificação de mercados alvo para a exportação e também na captação de financiamento para as empresas locais.
Justifica-se um pacote de capacitação para produtores do café?
O café faz parte dos programas dirigidos eleitos pelo Governo. Tem merecido uma atenção do Estado por envolver muitas famílias e pretende-se que esta cultura seja relançada para o equilíbrio da balança comercial.
Há vozes que defendem que jamais se alcançará as quantidades de café de antes da independência…
Temos de reconhecer que as técnicas dos anos 50 já não são aplicáveis actualmente, por isso estamos a capacitar os agricultores a adaptarem-se às novas técnicas. Mas a mão-de-obra de hoje é assalariada. Contudo, podemos aumentar a produção em relação às quantidades actuais e a continuar a exportar.
Há ainda queixas sobre a falta de incentivos. O que dizer?
Em Angola, o fomento empresarial é um processo novo na sua construção sistémica na qual o sector privado é sujeito parte. Porque abarca um conjunto de componentes, desde o institucional, legal, fiscal.
Os bancos estão a desempenhar bem o seu papel?
Penso que estão a desempenhar um papel relevante, deveriam fazer mais, mas, no contexto de escassez, não podem. De forma tímida, têm sabido atender o sector empresarial.
Em que consiste a parceria entre o IFE e a Companhia Espanhola de financiamento?
A Companhia Espanhola de financiamento tem disponível 75 milhões de euros para projectos privados em Angola, nos domínios do agronegócio, transportes e logística. A linha é destinada a empresas angolanas em parceria com empresas espanholas.
O IFE deixou de publicar estudo sectoriaias sobre o mercado angolano?
Há um conjunto de acções que vamos realizar este ano e incluímos a elaboração de estudos sectoriais. Os últimos foram publicados há três anos, num contexto diferente do actual, por isso, alguns estudos serão actualizados porque houve alterações. O sector empresarial melhorou nalguns casos e desacelerou noutros, como devem perceber. Este ano teremos dois estudos sobre o mercado, um sobre o apoio às exportações, financiado pelo Banco Africano de Investimento. E teremos a análise de identificação dos mercados-alvo.
A nova administração do IFE tem menos de um ano, que desafios tem pela frente?
O IFE foi criado em 2011 e entrou em acção em 2012. A nova direcção tomou posse em Março último e não vai fugir daquilo que é a missão para a qual a instituição foi criada. Nomeadamente o apoio à identificação de mercados alternativos para as exportações dos produtos angolanos em alinhamento aos programas dirigidos, avançar contactos com instituições financeiras nacionais e internacionais para o apoio as empresas privadas, formação e capacitação institucional das empresas privadas. Queremos ser o vector catalisador do processo de aceleração da diversificação da economia, incentivando as empresas a produzir mais e reduzir as importações. Faremos também a articulação com o sector empresarial para atender as suas expectativas e, vamos continuar a capacitar os empresários. Temos celebrado um protocolo com a Universidade Agostinho Neto (UAN) para que estudantes desta instituição beneficiem de estágios nas empresas.
Perfil
Dalva Ringote Allen nasceu no Lobito, Benguela, há 44 anos. Quadro do Ministério das Finanças desde 2007, apresenta-se como uma jovem que acredita piamente no potencial de Angola. Finalista de mestrado, em Administração Pública e Finanças, numa das universidades dos Estados Unidos, está desde Março de 2016 em Comissão de serviço a exercer as funções de presidente do conselho de administração do Instituto de Fomento Empresarial. É casada e mãe de quatro filhos.
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