“A autoconstrução dirigida só existe no papel”
Defende a autoconstrução dirigida como o modelo certo para combater o défice habitacional. Sugere que o governo disponibilize cerca de 1000 milhões de dólares ao sector bancário para a dinamização do financiamento à habitação.
Depois de muito tempo de espera arrancaram com o loteamento do Projecto Jardim de Belas. Como conseguiram contornar a situação?
Existe uma postura do Estado hoje completamente diferente. O Executivo percebeu que precisa do empresário para desenvolver as coisas. Então qual será a função do Estado? Dar as condições, abrir a via para o privado desenvolver os programas. Um projeto como este, o Estado pode pegar uma área, chamar o privado para desenvolver o loteamento e casas. Quem é que não quer? Por exemplo, o Governo pode desafiar um privado para desenvolver o Bairro do Prenda. Fazer loteamentos, fazer as casas, prédios de quatro andares e desenvolver, por exemplo, um pedaço do Prenda. Depois que acontecer o primeiro no centro da cidade, não vão faltar projectos. Paralelo a isso, temos de ter o aviso 9 a funcionar. Os bancos agora reclamam que não têm receitas. Neste momento, o Estado tem de participar de alguma forma, arrumando receita, alguma coisa assim.
E há a questão de as pessoas não terem dinheiro para adquirir as casas, o poder de compra das famílias está muito baixo….
Para adquirir e fazer as suas casas, obviamente que, se tiver um financiamento barato, vai ter um desenvolvimento da região muito mais rápido. Esse dinheiro injetado pelo Estado, volta na condição de crescimento da economia. Se temos dois mil lotes e em metade destes lotes fazerem-se casas, muros e tanques de água, são mil lotes. Se mil lotes tiverem obra, elas terão, em média, cinco trabalhadores. Estamos a falar em cerca de cinco mil postos de trabalho e cada posto de trabalho cria de três a cinco postos de trabalho indiretos. Portanto, estaríamos a falar de 15 mil. Sabe qual é o nome disso? Combate à pobreza. As pessoas querem garantia jurídica, a partir do momento que você dá a garantia jurídica a pessoa tira o seu dinheiro do banco e coloca na economia, transfere esse dinheiro para compra do lote, compram o material de construção. Esse dinheiro vai para a economia. É o que chamamos economia circular. Sempre defendi que o imobiliário é que fará a economia de Angola andar. Não tenho dúvida disso. Turismo demora, agricultura demora, pesca demora, todas as outras indústrias demoram. Construção civil, não. Você preparou o produto e começaram a injetar dinheiro. E vão contratar quem para ser servente de pedreiro? Alguém que não tem preparo nenhum, que não tem escolaridade nenhuma, vai para lá. Ele é absorvido pela construção civil, recebe a formação lá, vira um pedreiro, depois ele pode ser um engenheiro, dependendo da sua ambição, e assim por diante.
Entende que, em vez de o Governo apostar na construção de centralidades, deveria apostar no modelo de parceria com o sector privado?
Não tenho dúvidas. É melhor do que construir centralidades. Digo mais, o empresariado deve ser recebido com tapete vermelho e em toda a situação que ele puder ser ajudado, ele tem de ser ajudado porque ele cria emprego, cria riqueza. Tem de ser olhado de uma outra forma. No passado, não se deu tanta importância para o empresariado, mas o Projecto Jardins de Belas poderá demonstrar a mais-valia que é a visão do empresário e o quanto pode ajudar na criação de postos de trabalho, e na autoconstrução dirigida. Temos um posto lá com engenheiro e com técnico em construção civil para orientar as pessoas a fazerem a autoconstrução dirigida. Imagine que alguém queira construir a sua casa, não tem muito dinheiro, vai chamar lá os primos, os irmãos, para fazer as coisas no final de semana, nós vamos estar lá para apoiar, para orientá-lo. Essa é a nossa função, inclusive. Acho que o nosso projeto é o primeiro, mas virão projetos melhores do que o nosso. Esse projecto, para mim, serviu para provar que dá para fazer. Um projecto, com o apoio do Estado, desenvolve-se em cinco meses. Agora, o problema que temos em Luanda com 10 milhões de habitantes e 3% de crescimento populacional, são 300 mil pessoas novas por ano. Se colocarmos seis pessoas por família, são 50 mil famílias por ano. Luanda aumenta 50 mil famílias. Esse loteamento tem 2 mil lotes. Precisaríamos de 25 vezes esse loteamento por ano. É muito sério. Ou seja, outros loteamentos podem surgir com dez mil lotes, com quinze mil lotes, vinte mil lotes, mas precisam surgir, senão teremos a situação da ocupação desordenada a agravar-se. Ruas que não estão bem traçadas, que não têm áreas reservadas para os equipamentos públicos, depois de um tempo, nem a polícia mais entra, devido à criminalidade. Nem os camihões de lixo conseguem transitar, porque as ruas são todas muito estreitas. A maneira de combater isso é o quanto antes fomentar estes tipos de loteamentos.
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