A ESTRELA DE LOURENÇO EMPALIDECEU DESDE O INÍCIO
A propósito da vergonhosa e escandalosa negociata dos 600 autocarros por 323,5 milhões de euros, o jornal português ‘Negócios’ escreveu, esta terça-feira, que “a estrela de Lourenço está a empalidecer”. Temos de partir do princípio de que se trata de uma percepção sincera, desinteressada e de quem nos vê de fora e de longe. Porque só desta forma se percebe o flagrante engano na avaliação da realidade, desculpável apenas pelo presumível conhecimento limitado dos factos e da política angolana.
A denúncia desta limitação está logo escancarada na escolha do tempo verbal. Quem escreve “está a empalidecer”, sem acrescentar um marco temporal mais ou menos concreto, sugere um processo em curso, mas com início relativamente recente. ‘Todas as mães sabem’ que este não é o caso da governação de João Lourenço.
António Muchanga, um mediático deputado da Renamo em Moçambique, talvez dissesse que o jornal português vendeu ignorância de forma propositada. E a Muchanga não faltariam argumentos à prova de bala para justificar-se. Por razões que não cabem neste espaço, mas resumidamente com origens na relação colonial, a imprensa lusa atribui-se a ‘legitimidade’ de analisar os assuntos relevantes angolanos, como uma extensão das preocupações portuguesas. Fá-lo desde antes de Angola conhecer-se como um Estado independente, o que significa que tem a obrigação de olhar para os factos com mais conhecimento e realismo do que se esperaria de um italiano ou de um jamaicano.
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