A factura americana
A passagem de Mike Pompeo por Luanda ressuscitou as preocupações sobre o custo do pragmatismo com que os Estados Unidos abordam a diplomacia, especialmente com os países do terceiro do mundo. Das conversas que manteve com as autoridades angolanas, o secretário de Estado norte-americano evocou a disponibilidade do seu país em apoiar Angola no combate à corrupção. Mas não fez transpirar uma única palavra sobre as exigências que a equipa de Donald Trump fará ao Governo de João Lourenço, para que Luanda venha a contar com o apoio de Whashington. E é aqui onde se coloca a tal questão do custo do pragmatismo americano.
Obcecados pela histórica agenda de dominação global, os Estados Unidos não poupam no valor da factura, especialmente quando do outro lado está um país ‘minúsculo e indeciso’ quanto ao alinhamento com a sua narrativa na política global. John Sullivan, o secretário de Estado adjunto norte-americano, quando esteve no país, em Março do ano passado, foi específico. Qualquer apoio expressivo de que Angola precisasse por parte de Washington, teria antes de assinar os votos de um casamento monogâmico. Isto equivaleria abandonar a parceria histórica e grata com a China e afastar-se da Rússia. De outra forma, o comprometimento americano estaria sempre comprometido.
Com a passagem simbólica de Pompeo agora, é uma hipótese que o tema do alinhamento, em detrimento do eixo chino-russo, tenha sido equacionado como moeda de troca. E, como se sabe, as consequências de uma eventual cedência neste sentido podem ser incalculáveis, porque o preço da fidelidade dos pequenos aos americanos roça invariavelmente as fronteiras da soberania.
E não se deve subestimar a razão de ser desses receios em Angola. Primeiro, porque anda mais do que evidente que o Governo de João Lourenço é menos entusiasta da relevância da amizade chinesa, apesar do resgate histórico que a China - e apenas a China - ofereceu a Angola no momento mais difícil do pós-guerra. Segundo, porque a convicta preocupação do poder angolano em atingir, de forma mais específica, alguns notáveis, apanhados no controverso combate à corrupção, pode levar à perda de certo reflexo. Ao ponto de se relativizar a soberania em nome de um projecto que, para muitos, continua a cheirar a ‘coisa selectiva’.
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