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A grande incógnita dos Jogos Olímpicos do Brasil

11 Jul. 2016 Emídio Fernando Mundo

OLIMPÍADAS. A menos de um mês do início dos Jogos Olímpicos, o Brasil debate-se com ‘mil’ problemas: rombos nos cofres do Estado, protestos na rua, obras por acabar, segurança a exigir um esforço financeiro, corrupção e fraca venda de bilhetes. E tudo no meio de umas das mais fortes crises políticas que o país já viveu.

O arranque dos Jogos Olímpicos está marcado para 5 de Agosto, mas ninguém arrisca fazer previsões se a mais importante competição desportiva mundial vai ter sucesso ou, pelo contrário, será um fracasso. Apenas o governador em exercício do Rio de Janeiro, Francisco Dornelles, mantém a confiança em alta: “Não tenho nenhuma dúvida de que as Olimpíadas do Rio de Janeiro vão ser um sucesso. Com o apoio do Governo Federal, o Estado vai conseguir cumprir todos os seus compromissos assumidos com a organização dos Jogos”. Na defesa deste optimismo, Francisco Dornelles vai lembrando que o Rio tem “muita experiência”, na organização de grandes “eventos como o Carnaval e os concertos de rock”.

Mas, nesses compromissos, há uma lista de tarefas preocupante: o Estado vai ter de arranjar uma solução para tapar um rombo nas contas do Estado do Rio de Janeiro que já chegou aos 5,7 mil milhões de dólares.

Mas os maiores problemas nem terminam por aqui. Nos últimos meses, tem subido a onda de assaltos que obrigou o governo estadual a declarar o “estado de calamidade pública”. Dados oficiais indicam que, desde Maio, houve quase oito mil roubos na rua, o que significa um aumento de 38,2% em relação a Maio do ano passado e representa um recorde dos últimos 26 anos. Em média, de acordo com as estimativas da polícia, há um roubo de quatro em quatro horas. Com a declaração de calamidade, o executivo do Rio consegue canalizar, do Orçamento Geral do Estado, uma verba de mais de 850 milhões de dólares que se destinam unicamente ao reforço da segurança, que vai contar com mais de 85 mil agentes, entre polícias e militares.

Também a venda de ingressos anda num ritmo preocupante: só foram comercializados 70% do número de bilhetes colocados no mercado. Apesar disso, Donovan Ferreti, director do ‘Comité Rio 2016’, entende que “não há um mau desempenho nas vendas ou um resultado abaixo do projectado”, recordando que o país atravessa uma crise política e económica. No entanto, na apresentação da candidatura, em 2009, a organização garantia vender sete milhões de bilhetes, mas teve de baixar a fasquia para os seis milhões. Há quatro anos, em Londres, nesta fase, já tinham sido vendidos cerca de 90% dos bilhetes.

Na cidade, a semana passada terminou com mais uma onda de protestos em que os manifestantes apelaram ao boicote dos Jogos e contestaram as fortunas investidas para os realizar, comparando com o dinheiro gasto em infra-estruturas básicas e com os cortes e a austeridade impostos por um governo que, ainda para agudizar a situação, é interino. As redes sociais têm servido de ‘muro das lamentações’, mas são sobretudo usadas para marcar protestos de rua organizados. Alguns já agendados para o próprio dia da abertura dos Jogos. Um já conta com 5,6 mil milhões de presenças confirmadas e 10 mil milhões de interessados. E o outro, denominado ‘Grande Acto contra as Olimpíadas da Corrupção’, conta com 2,7 mil milhões confirmações e 7,2 mil milhões de demonstrações de interesse. Sinal contrário é mostrado pela campanha de apoio aos atletas brasileiros, criada pelo Comité Olímpico Brasileiro (COB), ‘Eu sou Time Brasil’. A estratégia resultou, até a semana passada, em quase 1,6 mil milhões de fãs. Nos protestos têm participado movimentos e organizações como ‘Comité Popular de Copa e Olimpíadas’, ‘Movimento Candelária Nunca Mais’ e a ONG ‘Justiça Global’.

Como se não chegasse este turbilhão, a crise política teima em ficar. Além dos governos interinos, tanto estaduais como o federal liderado por Michel Temer, as operações anti-corrupção da justiça fizeram mais uma ‘vítima’.

Eduardo Cunha renunciou à presidência da Câmara dos Deputados do Brasil. Eduardo Cunha chegou a liderar o processo que afastou Dilma Roussef da presidência, mas foi ‘apanhado’ pelos casos de corrupção. Já tinha o mandato suspenso desde Maio por determinação do Supremo Tribunal Federal, sob o argumento de que estaria a usar o cargo para atrapalhar a ‘Operação Lava Jato’, na qual é investigado.

Num discurso lido à imprensa, Cunha defendeu-se com o argumento de estar a ser “perseguido”: “estou a pagar um alto preço por ter dado início ao impeachment. Não tenho dúvidas, inclusive, de que a principal causa do meu afastamento reside na condução desse processo. Tanto é que meu pedido de afastamento foi protocolado pelo PGR [Procurador-Geral da República] em 16 de Dezembro, logo após a minha decisão de abertura do processo”, justificou.

Quando começarem os Jogos, o Brasil tem um presidente, um governador do Rio de Janeiro e um presidente da Câmara dos Representantes interinos.