A história inédita do investidor estuprado
Esta não é uma história de ficção. É um caso baseado em factos que marcaram para sempre, da forma mais dramática, a vida de um empresário estrangeiro que passou por Luanda. Pormenores, como o nome e a sua nacionalidade, só não são revelados porque o próprio assim o quis.
Vamos à narração. Há pouco mais de dois anos, um investidor estrangeiro, a convite de amigos instalados em Angola, decide desembarcar em Luanda. O propósito da viagem era, claro, prospectar oportunidades de negócios no país. Com centenas de milhões de dólares de património próprio e vários investimentos no seu país, não se trata de um investidor qualquer. Alguns dos amigos que encontrou na capital angolana confirmam que se trata de um empresário com capacidade para concretizar investimentos colossais.
Dá-se que, depois de alguns dias acomodado num dos principais hotéis da cidade, decide sair a meio da tarde com o motorista ao encontro de amigos que o aguardavam para comes e bebes. Meia hora depois de deixar o hotel, a viatura é interpela por agentes da polícia. E, como os vidros da viatura eram claros, é rapidamente identificado como estrangeiro e, consequentemente, abordado. Pedem-lhe os documentos e, nesse preciso momento, apercebe-se que os tinha deixado no hotel. Não leva consigo o passaporte e, por causa da barreira linguística, não consegue explicar-se, não há comunicação. Apercebendo-se da aflição do seu passageiro, o motorista intervém, apelando aos agentes que se dirigissem ao hotel para que o empresário tivesse a oportunidade de provar que estava legal em Luanda. Esforço em vão. Decididos e sem meias medidas, os agentes conduzem o empresário a uma esquadra policial. Alertados, os amigos reagem e apressam-se à Polícia com os documentos. Explicam-se, imploram, mas sem sucesso. O investidor acaba mesmo por ficar detido da tarde de sexta-feira até à manhã da segunda-feira imediata. Não foram menos de longas e dolorosas 60 horas enclausurado numa cela com alguns acompanhantes.
Libertado na manhã de segunda-feira, não lhe ocorre nada mais do que abandonar imediatamente o país. Pede aos amigos que ajudem a sair imediatamente. Estes, apesar de solidários, tentam de tudo para demovê-lo. Asseguram-lhe que se tratava de um episódio que jamais se repetiria. Garantem-lhe apoio total, incluindo protecção, informados do grande interesse que tinha em investir em Angola e das amplas possibilidades que tinha para concretizar bons negócios, mas o importante investidor já tinha tomado a sua decisão enquanto se encontrava enclausurado na cela. Era irreversível. No dia seguinte, quando finalmente se despedia dos amigos no aeroporto 4 de Fevereiro, confessa ao mais próximo com os olhos humedecidos: “Jamais volto a pôr os pês neste país, fui violado na cadeia”. O amigo olha para ele atónito e, sem dizer uma palavra, dá-lhe o abraço de consolo e de despedida.
Três anos após a humilhação por que passou em Luanda esse investidor estrangeiro, o Valor Económico destaca uma entrevista reveladora do quão o pormenor da segurança é largamente ignorado nas preocupações de atracção do investimento. E tudo isso pode ser, resumidamente, extrapolado das declarações cirúrgicas do entrevistado. Investidores estrangeiros de certos países têm mais medo dos fiscais e da polícia do que de bandidos.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...