“A moda é um negócio que pode ser muito lucrativo”
MODA. Foi aos 21 anos que a estilista realizou o primeiro desfile profissional. Hoje, com 25 anos de moda, Tina Souvenir encontra nos panos africanos a sua identidade e considera “difícil” investir neste sector em Angola. E acredita que a criação de indústrias têxteis pode render muitos empregos.
Como vê a moda?
A moda é uma arte do bem vestir e, como tal, hoje está mais ousada com mistura de cores, riscos com flores. O meu atrevimento aos 14 anos foi o pontapé de saída para a Tina que sou hoje.
Recorda-se do primeiro desfile?
O meu primeiro desfile foi em 1992. Hoje, apesar de ousada, sou mais pacata e calma. Naquela idade não tolerava muita coisa.
Que dificuldades teve de enfrentar?
Na altura, eu não conhecia gente que levasse a moda a sério. As pessoas que eu conhecia viam a moda como um passatempo e, por incrível que possa parecer, havia a mentalidade de não aceitarem a roupa africana. Muitos consideravam um “atraso”.
Hoje vê na moda um mercado para investir?
Sem dúvida. É pena que ainda não haja muita gente a investir. A moda é um negócio que pode ser muito lucrativo.
Tem muitos clientes?
Durante anos sobrevivi apenas com clientes estrangeiros.
Tem preferência no tipo de tecidos?
No meu caso, não se trata unicamente de preferência. É, antes de tudo, uma questão de identidade.
Como procura valorizar a produção nacional?
Durante estes anos todos, já formei muita gente, o suficiente para que muitas se tornassem independentes. Formei e continuo a formar. Acredito que só desta forma podemos contribuir para o engrandecimento do nosso país.
De quanto em quanto tempo lança novas colecções?
A marca ‘Souvenir’ trabalha mais com confecções personalizadas. É mais trabalho, mas também o resultado é agradável. Por este motivo é que a nossa actualização é constante.
Coze para um público específico?
Especialmente para todos os que procurem o nosso trabalho. Há uma mensagem que sempre procuro transmitir em cada peça: o amor. Cada vez que crio uma peça sinto que é sempre melhor.
Tem parceria com alguma empresa?
Não.
A consultoria está a resultar no mercado angolano?
O resultado tem sido excelente, embora existam ainda as que deixam a desejar.
Que avaliação faz da criação angolana?
Cruel esta pergunta!
Vê preconceito ligado à moda?
Não estamos num mercado fácil. Aliás, o nosso tem muitas outras prioridades. Infelizmente, alguns serviços, no caso indústrias têxteis, ainda não são prioritários. Vê-se uma ou outra iniciativa, mas ainda é bastante exíguo.
Como se pode inverter o quadro?
Reconhecendo a importância do sector e apostando na indústria têxtil, sairíamos todos a ganhar. E ainda teríamos um número reduzido de desempregados. As indústrias têxteis seriam geradoras de emprego.
O que falta?
Falta bastante matéria-prima.
Quantas pessoas compõem a sua equipa?
São, no total, 26, seis dos quais efectivos e 20 colaboradores.
PERFIL
Laurentina Adriana Wassianga, artisticamente conhecida por ‘Tina Souvenir’, nasceu em Kinshasa, República Democrática do Congo (RDC), a 24 de Julho de 1971. Veio para Angola na companhia dos pais, quando tinha apenas dois anos. Foi no Uíge onde se fez residente em 1977. Anos depois, mudou-se para Luanda, onde vive até à presente data.
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