“A nossa prioridade máxima é a satisfação do mercado interno”
Mais de 550 milhões de dólares serão investidos pela Biocom para a duplicação do projecto de produção de açúcar, etanol e energia de biomassa em Malange até 2020, período em que deve atingir a produção plena, revelou o director geral adjunto da Biocom, Luís Bagorro Júnior, que anunciou a intenção de produzir também milho e feijão.
Qual é o grau de implementação do projecto Biocom?
O projecto encontra-se na segunda fase de colheita da cana-de-acuçar que arranca em Julho. Nesta fase chuvosa, dedicamo-nos à plantação da cana, temos uma área de 14 mil hectares plantada. Para esta primeira fase temos 36 mil hectares para plantar.
A Biocom mantém o objectivo de obter uma receita de 200 milhões dólares na campanha 2015 a 2016 com a comercialização de etanol, cana-de-açúcar, energia?
Estamos preparados, apesar da crise que o país enfrenta. Pensamos que sim, se tivermos o apoio institucional do Governo no sentido de garantir divisas para a importação dos insumos. Os fertilizantes, adubos não são produzidos em Angola. Precisamos do apoio institucional neste sentido e mesmo até para comprar açúcar importado para vender, porque também comercializamos o que produzimos. Estamos a negociar com o Governo e, resolvido este assunto, que não são valores muito avultados porque somos um projecto que produz grande parte da sua própria matéria-prima, a crise não vai nos afectar em grande medida. A nossa matéria-prima é feita no mercado nacional. Creio na meta dos 200 milhões dólares de facturação da Biocom, que temos como objectivo a atingir este ano. Isto significa 47 mil toneladas de açúcar, 155 mil megawatts de energia e produziremos também 16 mil metros cúbicos de álcool. Comercializando estes produtos e fazendo a comercialização do açúcar importado mantemos a meta de facturação.
De que forma a crise financeira tem afectado o projecto Biocom?
A crise afeta a todos. No nosso caso são as dificuldades que acabei de enumerar, a crise faz com que o Estado não tenha muita capacidade de fornecer divisas aos projectos. Só neste aspecto, o cambial, é que nos afecta, porque dependemos de alguns produtos vindos do exterior. No entanto, a Biocom produz matéria-prima e não precisamos uma grande quantidade de divisas, que quer dizer que estamos preparados para vencer esta crise. A crise vai passar e a Biocom vai continuar.
O que lhe dá esta certeza?
Estamos preparados porque sabemos que vamos ter este apoio institucional para adquirir as divisas que precisamos. De resto, a nossa produção vai continuar.
Como anda a comercialização dos vossos produtos, sobretudo o etanol e o açúcar? O VALOR soube do interesse por parte da Cuca entre outras empresas...
O nosso açúcar é vendido a todos que o utilizam. A Cuca é um exemplo, muitos compram o açúcar da Biocom. O açúcar da Biocom até se esgota. Temos muitas encomendas de clientes a que não conseguimos dar resposta em quantidades suficientes. Além disso, não concentramos a venda só nas cervejeiras porque não consomem muito açúcar.
É possível encontrar o açúcar Capanda nas redes de supermercados?
Já existe. No supermercado Kero vai encontrá-lo exposto nas prateleiras. Atendemos redes de supermercados, e já é distribuído em todo o país.
E como justifica a importação de açúcar pela Biocom?
Estamos a complementar com a importação, porque a estatística nos diz que Angola consome anualmente 400 mil toneladas de açúcar. A Biocom está numa fase de produção, iniciou com uma produção experimental de mais de 3 mil toneladas. Na segunda colheita avançámos para 24,4 mil toneladas de açúcar. Estamos a entrar para a terceira fase ,que é a colheita da safra de 2016 em que vamos produzir 47 mil toneladas até atingirmos a maturidade do projecto, prevista para 2020, em que vamos produzir 256 mil toneladas de acuçar. Mesmo assim ainda não será suficiente para abastecer o mercado tendo em conta a estatística que diz que o consumo actual já é de 400 mil toneladas. Haverá um excedente que deve ser importado. A projecção da Biocom não para aí. A partir de 2020, o projecto começa a ser ampliado, vamos produzir em dobro o que estamos a produzir, serão 512 mil toneladas de açúcar. Se o consumo se mantiver e não subir muito, teremos a capacidade de abastecer o mercado.
Face às perpectivas até 2020 a Biocom já pensa em exportar?
Sim, porque, até lá, os preços serão competitivos com o mercado internacional, as margens não são muito superiores, temos os países vizinhos em África que precisam de açúcar. A Biocom, no entanto, só vai exportar açúcar se as necessidades nacionais estiverem cobertas. Primeiro o mercado interno, depois a exportação. Sabemos que a RDC tem 70 milhões de habitantes e que mesmo agora parte do nosso acuçar já vai parar na fronteira. Vendemos aos comerciantes e tivemos a informação de que parte do nosso açúcar seguiu esse caminho.
O facto de o açúcar chegar até à fronteira constitui um bom indicador?
Não nos agrada, porque temos necessidades internas. Nós priorizamos sempre o mercado nacional.
Quais são os desafios da Biocom em 2016?
No ano de 2016, um dos grandes desafios passa por enfrentar a crise, que nos fez tomar algumas medidas de redução de custos de mão-de-obra expatriada e porque não há muita capacidade para aquisição de divisas. Outros desafios são a redução das importações e o da formação. São, aliás, desafios constantes para se ter domínio da tecnologia e podermos reduzir a mão-de-obra expatriada. Não nos vamos descartar do nosso programa social que é muito forte, queremos manter os níveis. Existe o programa social Kucula ku moxi (Crescermos juntos na língua nacional quimbundo), em que apoiamos a agricultura familiar e consumimos os produtos dos agricultores. Temos o programa de Jiu jistu que já dá frutos, até porque Cacusso já se tornou campeão nacional e já ganhou medalhas internacionais no torneio que participou no Dubai. Pretendemos manter as senhoras que produzem sabão e que beneficiam de um pequena unidade que vendem para manter a renda. Mesmo com crise temos de ajudar a manter o nível de vida da população, que acredito ser menos afectada porque a Biocom está lá para apoiar em assuntos socias.
A Biocom também produz etanol. A nível interno existe mercado para este produto?
O etanol que produzimos felizmente vendermos para o mercado interno. O país não produzia etanol, somos os primeiro a fazê-lo de forma que não estamos a produzir o etanol anídrico utilizado como mistura de combustível, estamos a produzir o etanol hidratado que é vendido a empresas ao nível local que o transformam em mel, utilizam para o fabrico de bebidas, matérias de limpeza. A produção nem satisfaz as necessidades do país, que precisa, pelas estatísticas que temos, de 80 mil metros cúbicos de álcool, que importamos, e a Biocom só está fornecer 16 mil metros.
Pretendem colmatar esse défice com o aumento a produção de etanol?
A capacidade da Biocom é de 20 mil metros cúbicos. É a capacidade que temos montada para produzir. Agora com a duplicação do projecto a partir de 2020, iremos produzir 56 mil metros cúbicos que ainda não serão capazes de abastecer o mercado se o consumo se mantiver. Haverá um défice, mas esta é a nossa capacidade. Sempre pensamos que primeiro temos de atender o mercado interno e depois pensar na exportação, se houver excedentes.
Qual é o número de empregos gerados pelo projecto Biocom?
O projecto emprega hoje 1732 trabalhadores nacionais e 150 expatriados que representam 8% do total de trabalhadores, e a tendência é ir reduzindo a presença de expatriados até chegamos à meta de 3 %. Estamos direccionados para a formação dos nacionais para que tenham o domínio tecnológico e para fazer com que paulatinamente precisemos menos dos expatriados. Isto é um dos grandes desafios que temos, fazemos formações contínuas para os angolanos. Por isso dizemos que ao longo do tempo, o nosso açúcar poderá competir com o nosso custo operacional e será competitivo em termos de custo de mercado, porque teremos angolanos a dominar as tecnologias de ponta.Somos o único projecto em Angola, empresa pioneira a produzir açúcar, álcool, energia eléctrica proveniente da biomassa.
Qual é o destino da energia produzida a partir a biomassa?
Neste momento o cliente da energia é a Rede Nacional de Transporte de Energia. É com ela que fizemos o contrato. Temos uma capacidade montada na Biocom para produção de 233 mil megawatts de energia. Quando atingirmos o pico, com a quantidade de cana-de-açúcar de dois milhões e duzentas mil toneladas de cana, quando moermos estas quantidades, estaremos a produzir 235 mil megawatts de energia. Com a duplicação do projecto iremos produzir o dobro. Esta é a nossa perspectiva de futuro e os sócios já apostaram na duplicação do projecto que vai acontecer a partir de 2020.
Qual é valor investido no projecto Biocom?
Mais de 750 milhões de dólares. Este valor já prevê a fase de duplicação do projecto que menciona? Não, apenas cabimenta a implementação da primeira fase. Para a segunda fase da duplicação, serão investidos mais cerca de 550 milhões de dólares.
É possível falar já no retorno do investimento?
O retorno vai acontecer quando atingirmos a maturidade, ou seja, quando atingirmos a produção plena. O prazo, segundo os nossos estudos de plano de negócios, é que daqui a 8 anos teremos o retorno do investimento. Só se não acontecer algo com a natureza que não é controlada pelo homem. Agricultura é natureza, se houver uma seca que assole toda a plantação, a meta pode ficar comprometida, são riscos naturais. Por exemplo, este ano, choveu muito mais do que o previsto. Quando projectamos temos de ter informação do que existe, sobre chuvas ou quedas pluviométricas e, em função disto, faz-se uma programação pelo histórico, mas pode não ser suficiente.
Que estragos causam o aumento das quedas pluviométricas?
É mau para o projecto porque esta é uma fase de plantação que é mecanizada. A grande quantidade de chuva não permite que nenhuma maquina vá plantar. Está tudo cheio de água. Então retarda a plantação e obriga-nos a ter de recuperar na fase seca, para mantermos os níveis de produção e que haver uma compensação.
O é Biocom para si?
É uma empresa do futuro e é exemplo da diversificação da economia do país. É uma empresa que produz a sua própria matéria-prima e a transforma em produtos.
No horizonte futuro da Biocom existe a previsão de produção de outros produtos?
Há perspectivas de começarmos a produzir feijão, milho e diversificar um pouco a actividade. Esta no pacote de projectos da empresa e existe um estudo feito para fazer estas culturas alternadas também com o objectivo de melhorar a qualidade do solo.
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