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Vladimir Russo, consultor ambiental

“A prospeção do lítio tem de ser sustentada por um estudo de impacto ambiental”

18 Apr. 2024 Grande Entrevista

Especialista ambiental defende que a empresa responsável pela prospeção e exploração de lítio no Namibe deve tornar público o estudo de impacto ambiental, com a obrigação de estarem espelhadas medidas de mitigação. Alerta que a exploração do lítio poderá causar problemas de saúde. Vladimir Russo crítica a forma como o Governo tem ignorado os ambientalistas e chama a atenção para os projectos que são aprovados e “que não fazem sentido”.

 

“A  prospeção do lítio tem de ser sustentada por um  estudo de impacto ambiental”

Está a decorrer a segunda fase de prospeção de lítio no Namibe. Ainda não
 
foi tornado público um estudo de impacto ambiental. Que impacto a exploração deste minério pode causar ao ambiente?

Este tipo de exploração é feito, normalmente, a céu aberto. Os primeiros impactos são relacionados com a alteração das paisagens – temos casos de outros tipos de mineração que são feitos a nível subterrâneo, portanto, o impacto da paisagem não é o mesmo que a de uma mina a céu aberto. É uma região que, de uma forma geral, é desprovida de muita vegetação. Não é a mesma coisa quando se fala, por exemplo, da mineração do ouro que pode ser feita em zonas de muita vegetação, como acontece, por exemplo, em Cabinda. O lítio é diferente por causa do tipo do mineral e onde existem depósitos, mas, sem dúvida, que a alteração da paisagem é um dos principais impactos. Outro impacto, também muito sentido, é a poluição de ruído. Na fase de prospeção, há ruido, mas é localizado e temporário. Já na produção, há movimentos de terra, circulação de viaturas, equipamentos muito ruidosos. Um outro impacto, que existe por causa da movimentação de terras, pedras, matéria inerte, é a libertação de gases e poeiras. De acordo com as zonas onde estiverem a correr os ventos, este material fino pode afectar a saúde das pessoas. Depois há um outro impacto relacionado com a contaminação dos lençóis freáticos. Dependendo da metodologia de exploração, poderá haver escorrências fluviais. Isto é, há mineração, a chuva pode arrastar material contaminado para os lençóis freáticos, quer sejam linhas de águas superficiais e águas subterrâneas.

 


Estes aspectos devem estar mencionados de forma clara no estudo de impacto ambiental?

Todos estes aspectos deverão ser sempre analisados num estudo de impacto ambiental. Deverá ser feito um estudo para perceber onde o projecto se localiza, quais são as valências da área, do ponto de vista ambiental e social, quais são os sectores sensíveis e quais as medidas de mitigação que vão atenuar os impactos.

 


A área que será explorada no Namibe é toda montanhosa. Todas as montanhas serão derrubadas?

Há uma alteração da paisagem. Se esta alteração é significativa ou não, depende dos estudos, suponho que terão sido feitos. Apesar de olharmos para
 
uma montanha e vermos apenas pedras, não significa que não haja vida, não seja um ecossistema para determinadas espécies. Mas, em uma mina a céu aberto, o principal impacto, mais imediato que é possível verificar a quilómetros de distância, é exactamente sobre a paisagem. É preciso haver um decapeamento destas paisagens, porque estamos à procura de um material no meio do inerte. É o mesmo que acontece nas minas de diamantes de kimberlito, vamos tirando terra, é peneirada para se encontrar diamantes. É um tipo de mineração parecido, mas não é exactamente a mesma coisa. A alteração da paisagem é um dos principais impactos.

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