Alves da Rocha, director do CEIC da UCAN

“A taxa de inflação para 2024 vai situar-se seguramente acima de 33%”

Como resumiria o ano de 2024 em termos económico? 
Alguns problemas severos no domínio da macroeconomia e do crescimento económico. A taxa de inflação para 2024 vai situar-se seguramente acima de 33%, atendendo ao facto de os meses de Novembro e Dezembro historicamente serem os de maior aumento dos preços por razões óbvias. O baixo nível médio das remunerações do factor trabalho (provavelmente, em termos da economia como um todo onde se inserem os sectores com melhores remunerações como a extração de petróleo e diamantes e a banca, não mais de 230.000 KZ mensais), a elevada taxa de inflação e o anormalmente alto nível de desemprego configuraram um ano económico muito difícil para a maior parte da população, sem rectaguardas ao nível da protecção e segurança social. Foi um ano muito difícil e as políticas públicas não conseguiram minorar os efeitos negativos da política orçamental e da política monetária, de natureza restritiva, a primeira por imperativos de controlo do défice fiscal e a segunda por convencimento da sua eficácia para se controlar a subida descontrolada dos preços. 

“A taxa de inflação para   2024 vai situar-se seguramente acima de 33%”

Do OGE 2025, avaliado em 34,63 biliões de kwanzas, ficaram de fora três programas apresentados no passado como decisivos para o processo de diversificação da economia, no caso, o Planagrão, o Planapesca e o Planapecuária. O que isso significa na sua opinião? 
Ou foram mal desenhados havendo agora que os reanalisar, ou concluiu-se da sua baixa eficácia para a promoção da diversificação da economia ou, ainda, que falta dinheiro para cumprir com tão ambiciosas metas atendendo que a restrição orçamental tem de ser cumprida, de modo a não se agravar a posição de desconfiança do GAFI e permitir assim uma maior credibilidade para os investidores estrangeiros. Desde sempre que as políticas públicas e os programas de investimento público não são objecto de uma avaliação ex-ante dos efeitos esperados e da relação custo-benefício dos diferentes projectos que integram esses programas.  
 
No relatório de fundamentação do OGE de 2025, o Governo prevê um recuo da inflação para os 16,6%, muito abaixo dos 23,4% perspectivados para este ano. Como analisa esta projecção? 
O Relatório do Fundo Monetário Internacional para Angola está na mesma linha do abaixamento previsível da taxa de inflação em 2025. O Economist Intelligence Unit do Grupo  do The Economist, que mensalmente estuda a economia angolana e as suas perspectivas de comportamento, também alinha pelo mesmo diapasão. As razões para tal optimismo são: abaixamento da inflação mundial, travagem da desvalorização do Kwanza, aumento da produção nacional (essencialmente dos bens de consumo primário) e maior disponibilidade de divisas. Só que fica uma dúvida quanto à agricultura: que peso é que o Planagrão tinha enquanto acelerador da produção agrícola e que com a sua retirada do OGE se abre uma importante lacuna? A taxa global de crescimento do PIB para 2025 está estimada no intervalo 3-4,5% ainda assim insuficiente para melhorar duas componentes sociais importantes: o rendimento médio dos cidadãos e a taxa de desemprego, essenciais porque são vectores de acumulação de mais-valias, de crescimento via produção interna e de melhoria das condições de vida.