CARLOS KANDOV – PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO DAS ASSOCIAÇÕES EMPRESARIAIS DE LUANDA

“Ainda se continua a ver a cara e não os projectos”

23 Aug. 2023 Grande Entrevista

Lidera a Federação das Associações Empresárias de Luanda (FAEL), que junta 18 associações. É essa experiência que o faz ver os obstáculos que os empresários enfrentam no acesso a financiamentos e as dificuldades das empresas em tempos de crise. Carlos Kandov aponta ainda as lacunas do Programa de Reconversão da Economia Informal e lembra que no mercado informal não há apenas vendedores ambulantes ou zungueiras, mas também empresas”. 

“Ainda se continua a ver a cara e não os projectos”

Qual é a situação actual das empresas associadas da FAEL?

Temos empresas que estão a fechar, empresas que desempregaram. A saúde das empresas não está boa. No nosso país, o dirigente também é empresário e quando isso acontece, o índice do desemprego aumenta, porque o dirigente não vive à base da nossa economia, não conhece o roteiro do empresariado. Tem facilidades e isso implica o fecho de muitas empresas, porque as micro e pequenas fecham as portas por falta de investimentos, por não conseguirem ter um crédito saudável em detrimento de um dirigente. Os dirigentes não têm só uma empresa, se têm uma padaria também têm um restaurante, depois querem uma pensão, fazendas. Muitos dos dirigentes estão em todos ramos da economia e os empresários não conseguem avançar. A única opção é fechar. Se as grandes empresas estão com problemas, imaginemos as pequenas empresas! Não gostam destes discursos, mas devemos discutir estas matérias no sentido de fortalecer a classe empresarial como tal. Há indústrias que estão fechadas, fábricas fechadas, a Zona Económica Especial está com problemas de base com fábricas que não têm água. 


Como está o acesso aos créditos e financiamentos ao empresariado nacional?

Temos de discutir para fortalecermos a classe empresarial porque ainda se assiste a monopólios. Há ainda alguns grupinhos que dominam investimentos e os créditos. Ainda continua a ver-se a cara e não os projectos. Uma das coisas que a juventude angolana ganhou foi a criatividade, porque a maior parte da população esta a fazer mais alguma coisa. A população tem iniciativas o que falta é apoio, investimento. A nossa economia está a ser tomada, até os nossos mercados estão a ser fechados pelos nossos irmãos estrangeiros. Se olharmos para o mercado, a restauração não está com os angolanos, as panificadoras não estão connosco, quer as grandes como as pequenas. Estamos a empreender precariamente, não é verdade que quando dizem que o angolano não consegue trabalhar numa cantina e que só o ‘mamadu’ é que consegue. Nos anos passados, tínhamos cantinas e lojas aqui. Lembro que o meu avô tinha uma loja no Prenda e o carro da Sonangol levava lá o combustível. Não podem dizer que o angolano não consegue, é mesmo falta de apoio. A FAEL está pronta para junto do Estado começar a resolver estes assuntos. As empresas estão a fechar, por falta de financiamentos, porque há criatividade até para a diversificação da economia. Por exemplo, muitos jovens fizeram comunicação social, mas não querem trabalhar na TPA, nem na TV Zimbo, porque muitos deles têm as suas ideias próprias, mas nunca vi pacote de financiamento para iniciativas deste género. Fala-se mais da agricultura. Devem criar pacotes diferenciados. As faculdades têm a diversificação e mandam os alunos para o mercado de trabalho. Quando não encontram trabalho no mercado começam a criar, é preciso financiamento e o que ainda não está a acontecer. Se existe é de forma restrita. Angola tem tudo para ser uma das melhores economias da região da SADC, se houver vontade política. Senão, vamos continuar fechados com muitos problemas nas ruas e o país não se vai desenvolver. 


Qual é o volume de negócios ou peso que a vossa organização representa para a economia?

Se tivéssemos todo esse grosso dentro da economia – refiro-me aos taxistas e muitos outros que estão na informalidade teríamos –  biliões para o fortalecimento da nossa economia. Há muito dinheiro fora do sistema económico. O Estado está a perder muito com isso, se o Governo não trabalhar com as associações, vamos continuar a perder este dinheiro e isso resulta num fraco desenvolvimento do país.  


A associação de maior dimensão da FAEL é a AIA ou há outras com esta dimensão?

É a maior, sim. A comissão instaladora da federação foi legalizada em 2018. É a primeira federação constituída no nosso país, além da Federação das Mulheres Empresarias (FEMEA).


O Francisco Viana liderava a confederação… 

O Francisco Viana estava com uma iniciativa de confederação. A diferença é que as confederações são constituídas pelas federações. Tinha de haver mais de uma federação para constituir a confederação.