Alterações intensificam deslocações forçadas em África
CLIMA. Inundações e secas estão a tornar-se mais frequentes e intensas e afectam gravemente países como Etiópia, Quénia, Somália e Sudão do Sul. ONU indica que catástrofes climáticas podem agravar a pobreza, a fome e o acesso a recursos naturais e aumentar a instabilidade e a violência.

As catástrofes ligadas ao clima intensificam bastante nos últimos anos a deslocação forçada de populações no continente africano, que já é elevado devido à violência e aos conflitos.
De acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), as catástrofes ligadas ao clima podem agravar esses conflitos numa espécie de ciclo infernal.
Raouf Mazou, diplomata congolês e assistente do alto-comissariado, falava no quadro de uma cimeira extraordinária que decorreu recentemente em Malabo, na Guiné Equatorial, em que a União Africana (UA) está a tentar, juntamente com a Organização das Nações Unidas (ONU), outros intervenientes e doadores, evitar o agravamento das crises humanas no continente, que são alimentadas, nomeadamente, pelo impacto das alterações climáticas e da expansão de grupos terroristas.
Raouf Mazou disse que o continente africano está actualmente a enfrentar desastres naturais e conflitos que estão a causar deslocações de população de “uma magnitude sem precedentes”.
Em 2021, de acordo com um relatório do Centro de Monitoramento de Deslocamento Interno (IDMC, em inglês `Internal Displacement Monitoring Center`), 22,3 milhões de pessoas foram deslocadas internamente devido a desastres relacionados com o clima em todo o mundo, em comparação a 14,4 milhões desalojados por conflitos e violência.
As inundações e secas estão a tornar-se “mais frequentes e intensas e afectam gravemente países como Etiópia, Quénia, Somália e Sudão do Sul”, indicou o assistente do alto comissariado, referindo que as catástrofes relacionadas com as alterações climáticas arriscam não apenas agravar a pobreza, a fome e o acesso a recursos naturais como a água, mas também a aumentar a instabilidade e a violência.
Actualmente, a situação verifica-se na região do extremo norte dos Camarões, onde pastores, pescadores e agricultores entraram em conflito pelo acesso a recursos hídricos escassos, forçando o deslocações de pelo menos 100 mil pessoas, bem como em Moçambique, com os ciclones que atingiram o país, enquanto a violência e a agitação crescentes no Norte deslocaram centenas de milhares de pessoas.
O diplomata congolês referiu que o Sahel está na linha de frente da crise climática, com temperaturas a subir 1,5 vezes mais rápido do que a média global, o que só agrava os conflitos por recursos limitados, tornando a vida ainda mais difícil para aqueles que foram forçados a fugir das próprias casas.
Raouf Mazou indicou ainda que muitos dos países mais expostos aos efeitos das alterações climáticas já estão a acolher um grande número de refugiados e deslocados internos, pelo que, “sem mais investimentos para mitigar as necessidades futuras de protecção e evitar novas vagas de deslocações devido às mudanças climáticas, a situação só vai piorar”.
Relativamente ao impacto da guerra na Ucrânia na segurança alimentar na África, o assistente do ACNUR apontou o aumento dos preços e a redução da ajuda alimentar, consequências que vão “agravar a vulnerabilidade dos refugiados e outras populações deslocadas à força e aumentar o risco de tensões inter-comunitárias”.
“Milhões de famílias desenraizadas em toda África correm maior risco de passar fome à medida que as rações alimentares diminuem devido ao financiamento humanitário insuficiente”, avisou o diploma, acrescentando que os refugiados em Moçambique e na Zâmbia já sentem novos cortes na ajuda alimentar, situação que afectará também o Sudão no próximo mês, entre outros países.
Sobre a expansão da ameaça terrorista em África, que pode acelerar o fluxo de deslocamento forçado de populações, Raouf Mazou assumiu que a presença de grupos armados não estatais em algumas partes do continente “é preocupante”, indicando que “só em Burkina Faso o número de deslocados internos atingiu mais de 1,85 milhões em Abril deste ano, com grupos armados que realizam ataques mortais”.
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