RELANÇAMENTO DA INDÚSTRIA MOAGEIRA

Angola avança sem trigo de produção interna

INDÚSTRIA. A importação de trigo ocupa a posição 11, na lista dos 100 produtos que o país mais compra do exterior. Angola importa em média 46.455 toneladas por ano, internamente não se conhece nenhuma produção de trigo em grande escala.

Sem matéria-prima, sobretudo o trigo em grão, que é importado em cerca de 100%, Angola avança com a montagem de moageiras de trigo. Com o passo, pretende-se melhorar a disponibilidade de farinha de trigo para a indústria de panificação, massas alimentares e bolachas, embora a produção deste cereal esteja circunscrita às províncias do Huambo e do Kwanza-Sul.

De tão residual, o trigo nem consta das estatísticas do Ministério da Agricultura sobre a produção de cereais.

Na década de 1990, as principais moagens de trigo, nomeadamente a Kianda e Kwaba, em Luanda, a Cerangola, em Benguela, e a Saydi Mingas, na Huíla, encerraram por causa da dependência das importaçõe e porque não havia produção local suficente de matéria-prima que sustentasse as unidades fabris.

O programa grandes moagens que pode arrancar em 2017 e repete assim a situação da indústria têxtil que deve arrancar em Julho sem algodão “made in Angola”, numa altura em que o país precisa de poupar divisas.

 

PRODUÇÃO APENAS NO PAPEL

No Planalto Central onde estão a ser criadas as condições para o cultivo de trigo em grande escala, no âmbito da quota de produção local para o programa Grandes Moagens.

O Huambo tem projectos de relançamento da produção de trigo nos municípios de Ecunha, Londuimbali e Chicala-Cholohanga, mas o trabalho que está a ser feito de momento é apenas de pesquisa e avaliação de terras com o acompanhamento do Ministério da Agricultura.

 

Muita divisa para o trigo

A importação de trigo ocupa a posição 11, na lista dos 100 produtos que o país mais importa. Angola importa em média 46.455 toneladas por ano. Em 2014 e 2015, Angola gastou 570 milhões de dólares na compra de farinha de trigo. Foram 250 milhões de dólares em 470 mil toneladas em 2014 e 320 milhões de dólares para 510 toneladas de farinha de trigo, no ano passado. Estes números são considerados, por especialistas, como “proibitivos”, numa altura em que o país vive sérias dificuldades financeiras devido à baixa do preço do petróleo.

 

Grandes moagens sem matéria-prima

O Projecto Grandes Moagens de Angola é um investimento privado, inicialmente avaliado em mais 101 milhões de dólares, aprovado pela Unidade Técnica para o Investimento Privado (UTIP) que consiste na instalação de uma moagem de trigo, dentro do Porto de Luanda.

A primeira fase das obras foi adjudicada ao consórcio Martifer Angola- Casais Angola, enquanto a segunda ficará a cargo da Mota-Engil Angola. Este projecto vai apenas transformar a matéria-prima, o trigo a granel, que será importado dos Estados Unidos da América (EUA), França, Alemanha e Cazaquistão.

Prevê produzir 930 toneladas de farinha e 260 de farelo, resultantes de um processamento diário de 1.200 toneladas. Seguindo a mesma lógica, das anteriores que faliram por falta de produção interna do trigo em grão, no ano passado, a Induve, empresa que exporta farinha de trigo anunciou a montagem de uma fábrica moageira, em Luanda, para recorrendo-se da importação de trigo em grão, transformar anualmente 375.000 toneladas.